São Paulo, sábado, 06 de setembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Paraguai aceita compensação por Itaipu

Revisão dos preços de tarifas da usina binacional deixa de ser exigência indiscutível do país vizinho, afirma chanceler

O presidente paraguaio, Fernando Lugo, vem ao Brasil no dia 17, em sua primeira visita oficial, para tratar do assunto com Lula

Alan Marques/Folha Imagem
Os ministros das Relações Exteriores Celso Amorim (Brasil, à esquerda) e Alejandro Hamed (Paraguai) se reúnem em Brasília

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Principal bandeira política do presidente paraguaio, Fernando Lugo, a revisão dos preços de tarifas da usina binacional de Itaipu não é mais uma exigência indiscutível do país vizinho, que aceita conversar com o Brasil sobre outras formas de compensação. A mudança de tom foi relatada à Folha pelo chanceler paraguaio, Alejandro Hamed Franco.
"Não, não. Estamos falando de conversar. É o ponto de partida fundamental e podem seguir se abrindo opções, que vamos ver se são convenientes. Pode haver um montão de coisas que podem surgir nas negociações", respondeu Hamed ao ser indagado especificamente sobre o aumento de tarifas.
As compensações brasileiras ao Paraguai serão debatidas pelos presidente Lugo e Luiz Inácio Lula da Silva no dia 17, quando o paraguaio fará sua primeira visita ao Brasil. Depois do encontro, os temas serão discutidos por equipes técnicas dos dois países.
"Esse pleito será feito na visita oficial do presidente Lugo ao Brasil. De alguma maneira esse e outros temas bilaterais que temos que atacar serão colocados sobre a mesa e os especialistas vão trabalhar sobre isso", afirmou o ministro Hamed.
Ontem, o chanceler do Paraguai almoçou com o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim, e ouviu dele uma lista de opções para o Brasil compensar o Paraguai pelos valores pagos por Itaipu ao país vizinho. Lugo considera os valores muito baixos e insistia numa revisão do tratado da usina, hipótese que nunca foi bem recebida por Brasília.
Diante das reclamações públicas de Lugo, o Brasil elaborou um plano de cooperação ao Paraguai, prevendo financiamentos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para projetos de infra-estrutura e energia, além de investimentos da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).
Constam, ainda, o financiamento da construção de uma segunda linha de transmissão de energia de Itaipu para Assunção e auxílio da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial) às empresas instaladas em solo paraguaio, para elevar a competitividade de seus produtos.
Questionado sobre o rol de opções, o chanceler paraguaio evitou concentrar os esforços apenas nesses projetos, ressaltando que durante as negociações podem surgir outras opções de ajuda brasileira.
"Está tudo dentro das negociações que se podem realizar. Não são essas as únicas opções. Deve haver mais opções que podem surgir no trâmite das conversações -digo conversações, mas quero dizer discussões- entre as duas partes."

Com a Petrobras
Uma alternativa já estudada pelo governo brasileiro é uma parceria para a Petrobras pesquisar petróleo na região do Chaco paraguaio e a construção de um gasoduto, financiado pelo BNDES, entre os dois países.
Após se reunir com Amorim, o ministro paraguaio saiu satisfeito com a posição do governo brasileiro. "O importante que posso perceber é a muito boa vontade do governo brasileiro de buscar soluções aos problemas que estão pendentes, que inclui uma evolução ou conversação sobre o tema específico de Itaipu", disse.
A idéia brasileira de um pacote de ajuda ao país vizinho frustra a bandeira de campanha de Lugo, mas interessa ao governo paraguaio por algumas razões. O ex-bispo Fernando Lugo chegou ao poder após 61 anos de comando do Partido Colorado no país vizinho, o que gerou grandes expectativas e demandas de diferentes setores da sociedade.
O pacote de Brasília, conhecido nos bastidores como um "Plano Marshall brasileiro", atenderia essa demanda por gerar empregos e impulsionaria a economia paraguaia.
Do outro lado, o governo brasileiro pressiona Assunção a resolver a questão dos brasiguaios. O assunto foi encaminhado com a aprovação do Acordo de Residência do Mercosul pelo Congresso brasileiro, mas depende de detalhes administrativos que Franco promete equacionar em breve.


Texto Anterior: Governo estuda montar blocos para privatizar
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.