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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Terceira guerra começou
e é financeira
GILSON SCHWARTZ
da Equipe de Articulistas
A "terceira guerra mundial" já
começou. Mas ela será travada no
campo das finanças.
A julgar pela passividade das autoridades internacionais, pelo espetáculo retórico dos ministros latino-americanos que se reuniram
na semana passada em Washington e pelas reações cada vez mais
agressivas dos governos asiáticos,
a crise assumiu cores geopolíticas.
A Malásia eliminou a liberdade
de movimentação de capitais. A
China anunciou que está vendendo dólares. São reações defensivas,
mas que podem ampliar a crise financeira internacional. Antes disso, o Japão fez ouvidos moucos
aos insistentes pedidos das potências ocidentais para reduzir impostos e aumentar gastos. O cenário hoje é o do "cada um por si e o
mercado contra todos".
De duas, uma: ou as potências
médias e grandes estão, nos bastidores, articulando uma das mais
espetaculares operações de resgate
financeiro da história humana ou,
como já ocorreu tantas vezes no
passado, os mais fortes do planeta
apostam na própria capacidade de
sobrevivência. Operações de resgate, reza a tradição, acontecem
apenas depois do terremoto. Afinal, quando se chega a esse ponto
elas ficam também mais baratas.
Na semana passada, a agência de
risco Moody"s rebaixou o Brasil
em sua classificação de riscos. China e Hong Kong estão sendo examinadas, por causa da queda nas
exportações chinesas e das fragilidades financeiras do encrave capitalista. Aliás, há pelo menos um
ano os empresários globais já andavam descontentes com a lucratividade de seus projetos no país.
A China, depois de se desfazer de
reservas em ienes, deu sinais de
que vai vender dólares e aplicar no
euro. O Banco do Povo da China
tem US$ 140 bilhões em reservas.
Mas, contando as reservas de
Hong Kong, o poder de fogo chinês alcança a casa dos US$ 200 bilhões.
Medidas de controle de fluxo de
capitais, como as adotadas nos últimos dias pela Malásia, indicam
um novo cenário na crise global.
Nessa guerra, as potências se enfrentam contando moeda forte em
caixa, em vez de divisões, fragatas
ou esquadrilhas de caças.
Como em todas as guerras, sobra irracionalidade. Afinal, se a
China jogar água no moinho da
desvalorização do dólar, estará dificultando as próprias exportações
para o mercado norte-americano.
Mas pode ser uma estratégia de jogar no "quanto pior, melhor".
Mas o euro, que os chineses estariam em vias de privilegiar, não
parece destinado a momentos tão
gloriosos. O Banco Central Europeu (BCE) enfrenta o dilema de
tratar com países que, no ano que
vem, estarão provavelmente descumprindo as metas de contenção
de déficit público acordadas no
Tratado de Maastricht.
Os bancos já estão reduzindo
suas estimativas do crescimento
europeu. O BCE vai manter a ortodoxia antiinflação, apostar num
euro forte e condenar a União Européia a uma crise social ainda
mais grave que a atual?
Para onde quer que se olhe, há
problemas. Agora, além dos problemas, multiplicam-se as estratégias individualistas e desesperadas
de jogar os custos da crise nos ombros dos outros.
Se isso não é uma guerra, é uma
luta livre onde os golpes baixos
tendem a ser cada vez menos surpreendentes.
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