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DIAGNÓSTICO & RECEITA
Éden tributário
OSIRIS LOPES FILHO
A promessa de alçar o Brasil
ao seleto grupo dos países do
Primeiro Mundo começa a
apresentar os sintomas mais
ostensivos de transformação
do sonho em pesadelo.
Novo pacote da maldade está sendo urdido para garrotear nossas energias e sacar
dinheiro do povo e empresas
via arrocho tributário.
O processo eleitoral obriga o
governo FHC a tangenciar a
crise financeira que está nos
atingindo violentamente. Como a política econômica tem
sido um jogo, em que se apostou na liquidez internacional,
parece apropriado dizer-se
que tudo indica que somos a
"bola da vez" de um ataque
especulativo contra o real.
Vida que segue. Foi reeditada pela 9ª vez a MP nº 1.680,
que, no seu artigo 8º, contém
uma novidade. Introduz o
nosso país no abominável
elenco dos "paraísos fiscais",
que constituem local onde o
contribuinte é rei, sem a chateação de pagar tributos,
principalmente o de renda.
Estabelece tal artigo que os
ganhos obtidos pelos "Fundos
de Renda Fixa de Capital Estrangeiro", em aplicações financeiras em títulos do Tesouro Nacional e do Banco
Central, e em ativos financeiros de renda fixa emitidos por
empresas sediadas no país,
entre 1º de setembro de 98 e 31
de março de 99, terão alíquota zero no IR.
Vale dizer, as aplicações feitas em títulos de renda fixa,
por fundos estrangeiros, não
são mais tributadas no mercado interno. A remessa do
resultado dessas aplicações
para os titulares, lá fora, de
cotas desses fundos, não sofre
tributação, pois desde a lei
9.430 o envio de lucros e dividendos para o exterior não é
mais tributado aqui.
Tecnicamente, o Brasil tornou-se um paraíso fiscal para
o investidor estrangeiro em
renda fixa, pois a nossa legislação estabelece ser paraíso
fiscal ou país com tributação
favorecida aquele em que
"não se tributa a renda ou que
a tributa à alíquota máxima
inferior a vinte por cento".
O governo FHC, se não nos
levou ao Primeiro Mundo,
conseguiu criar aqui um paraíso fiscal exclusivamente
para os estrangeiros.
Para nós, contribuintes brasileiros, as perspectivas são de
inferno fiscal, pelo aumento
da nossa carga tributária global (32% do PIB), já semelhante à do Japão e à dos
EUA. E, pior, com serviços públicos, especialmente os sociais, rivalizando-se com os de
Biafra, Uganda e Burundi,
sob ameaça, além disso, de
continuidade desse padecimento por mais quatro anos.
Osiris de Azevedo Lopes Filho, 58, advogado, é professor de Direito Tributário da
Universidade de Brasília e ex-secretário da
Receita Federal.
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