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MERCADO TENSO
Rolagem com novos títulos e novos juros será teste para governo
Da dívida interna, R$ 27 bi
vencerão até o final do mês
CARI RODRIGUES
da Sucursal de Brasília
Títulos federais no valor de
R$ 27,601 bilhões vencerão
no período que
vai da próxima
terça-feira até o
final do mês, no
qual vigorará a nova taxa básica de
juros da economia, de 29,75% ao
ano.
O governo deverá ter que rolar
esses papéis, ou seja, trocá-los por
novos títulos. Essas operações serão um teste para os novos juros
fixados pelo BC.
Na sexta-feira, o governo determinou que até o próximo dia 30
não fará empréstimos aos bancos
remunerados pela TBC (Taxa Básica do BC), de 19% ao ano. Com
isso, a taxa básica da economia
passou a ser a Tban (taxa de assistência do BC), de 29,75%.
Agora, o BC vai trabalhar para
reduzir o volume de dinheiro no
mercado e, assim, elevar os juros
das transações diárias entre os
bancos -o chamado overnight.
Até a semana passada, o BC e os
bancos travavam uma queda-de-braço para rolar a dívida federal em títulos.
Os bancos não apenas exigiam
papéis pós-fixados (vinculados a
taxas de juros do over), mas também exigiam um prêmio adicional
para renegociar a dívida.
O mercado já antecipava a alta
nos juros e exigia juros entre 27%
e 30% ao mês. O governo queria
pagar um percentual próximo da
TBC.
Com a alta dos juros, crescerão
os custos da dívida em títulos da
União, que soma R$ 252 bilhões.
Neste mês e em outubro vencem
US$ 80,9 bilhões em títulos que o
governo vendeu para os bancos
com o objetivo de financiar o déficit do setor público.
Somado o mês de novembro, essa dívida chega a US$ 96,6 bilhões,
segundo números do BC. Esse valor é maior do que o total de vencimentos previstos para o período
que vai de dezembro deste ano até
dezembro de 1999 -US$ 87,241
milhões.
O déficit público vem aumentando desde o Plano Real. O governo continua gastando mais do
que recolhe em impostos, e a política de juros altos para atrair capital externo tem elevado os gastos
com a dívida interna.
O déficit público, em maio, ficou
em 7,1% do PIB (Produto Interno
Bruto, soma das riquezas produzidas no país), no conceito nominal
(que inclui o pagamento de juros).
Em 1996, esse déficit foi de 5,9%
do PIB e, no ano passado, começou a subir e fechou em 6,1%.
Nos dois últimos leilões de títulos, o BC preferiu desembolsar dinheiro a rolar a dívida com papéis
pós-fixados e pagar mais um prêmio adicional.
Analistas ouvidos pela Folha, dizem que será difícil desembolsar
US$ 80,9 bilhões em dinheiro e
não aceitar a proposta dos bancos.
Esse valor é maior do que as reservas internacionais -que ficaram
num patamar abaixo de US$ 60 bilhões na primeira semana de setembro.
O mercado também acredita que
poderá haver novas medidas para
conter a fuga de capital do país,
que superou o ritmo de US$ 1 bilhão por dia na semana passada.
Uma possibilidade seria taxar
com o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) as remessas de
dólares por meio do mercado de
câmbio flutuante (que compreende, entre outras, as operações do
dólar-turismo e das contas CC-5).
A medida atingiria as remessas
feitas por investidores nacionais
ao exterior, um dos motivos de
preocupação no governo. Também se especula que o país poderia
recorrer a um socorro externo.
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