São Paulo, domingo, 6 de setembro de 1998

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MERCADO TENSO
Rolagem com novos títulos e novos juros será teste para governo
Da dívida interna, R$ 27 bi
vencerão até o final do mês

CARI RODRIGUES
da Sucursal de Brasília


Títulos federais no valor de R$ 27,601 bilhões vencerão no período que vai da próxima terça-feira até o final do mês, no qual vigorará a nova taxa básica de juros da economia, de 29,75% ao ano.
O governo deverá ter que rolar esses papéis, ou seja, trocá-los por novos títulos. Essas operações serão um teste para os novos juros fixados pelo BC.
Na sexta-feira, o governo determinou que até o próximo dia 30 não fará empréstimos aos bancos remunerados pela TBC (Taxa Básica do BC), de 19% ao ano. Com isso, a taxa básica da economia passou a ser a Tban (taxa de assistência do BC), de 29,75%.
Agora, o BC vai trabalhar para reduzir o volume de dinheiro no mercado e, assim, elevar os juros das transações diárias entre os bancos -o chamado overnight.
Até a semana passada, o BC e os bancos travavam uma queda-de-braço para rolar a dívida federal em títulos.
Os bancos não apenas exigiam papéis pós-fixados (vinculados a taxas de juros do over), mas também exigiam um prêmio adicional para renegociar a dívida.
O mercado já antecipava a alta nos juros e exigia juros entre 27% e 30% ao mês. O governo queria pagar um percentual próximo da TBC.
Com a alta dos juros, crescerão os custos da dívida em títulos da União, que soma R$ 252 bilhões.
Neste mês e em outubro vencem US$ 80,9 bilhões em títulos que o governo vendeu para os bancos com o objetivo de financiar o déficit do setor público.
Somado o mês de novembro, essa dívida chega a US$ 96,6 bilhões, segundo números do BC. Esse valor é maior do que o total de vencimentos previstos para o período que vai de dezembro deste ano até dezembro de 1999 -US$ 87,241 milhões.
O déficit público vem aumentando desde o Plano Real. O governo continua gastando mais do que recolhe em impostos, e a política de juros altos para atrair capital externo tem elevado os gastos com a dívida interna.
O déficit público, em maio, ficou em 7,1% do PIB (Produto Interno Bruto, soma das riquezas produzidas no país), no conceito nominal (que inclui o pagamento de juros).
Em 1996, esse déficit foi de 5,9% do PIB e, no ano passado, começou a subir e fechou em 6,1%.
Nos dois últimos leilões de títulos, o BC preferiu desembolsar dinheiro a rolar a dívida com papéis pós-fixados e pagar mais um prêmio adicional.
Analistas ouvidos pela Folha, dizem que será difícil desembolsar US$ 80,9 bilhões em dinheiro e não aceitar a proposta dos bancos. Esse valor é maior do que as reservas internacionais -que ficaram num patamar abaixo de US$ 60 bilhões na primeira semana de setembro.
O mercado também acredita que poderá haver novas medidas para conter a fuga de capital do país, que superou o ritmo de US$ 1 bilhão por dia na semana passada.
Uma possibilidade seria taxar com o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) as remessas de dólares por meio do mercado de câmbio flutuante (que compreende, entre outras, as operações do dólar-turismo e das contas CC-5).
A medida atingiria as remessas feitas por investidores nacionais ao exterior, um dos motivos de preocupação no governo. Também se especula que o país poderia recorrer a um socorro externo.



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