São Paulo, domingo, 6 de setembro de 1998

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MERCADO FINANCEIRO
Cotações dos C-bonds, papéis brasileiros negociados no exterior, têm recuperação em meio à crise
Título da dívida termina
semana em alta

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
da Reportagem Local


O mercado de títulos da dívida externa renegociada dos países emergentes saiu na frente e embutiu nos preços a moratória da Rússia antes mesmo de ela acontecer. O C-bond, título brasileiro mais negociado, despencou desde então. Mas, na semana passada, estranhamente, enquanto a Bolsa de Valores de São Paulo caiu 13,42% e o mundo pegou fogo, as cotações dos C-bond subiram.
O preço do C-bond, na sexta-feira retrasada, estava a 53,16% do valor de face. No final da semana passada, no dia 4, fechou a 54%.
O mercado atribui a alta a dois fatores principais: 1) à atuação do Banco Central brasileiro, que está apertando os bancos e forçando compras; e 2) ao fato de os títulos da dívida externa pagarem, até a semana passada, juros maiores do que os pagos por títulos do governo no mercado interno brasileiro.
O Banco Central conhece o mercado de títulos da dívida externa. Sabe que o número de papéis existente é limitado, mas que há um mercado de aluguel, que possibilita a um banco vender títulos que não possui.
Como apostavam que as cotações dos C-bonds iam despencar, muitos bancos que atuam no mercado fizeram isso: venderam mais títulos do que realmente possuíam. Ficaram, no jargão do mercado, alavancados e vendidos no "short", no curto prazo.
O Banco Central, informalmente, entrou comprando C-bonds e outro título brasileiro importante, o IDU. Mas não colocou para alugar nenhum desses dois papéis.
Resultado: quando os bancos "vendidos" tiveram de entregar os papéis que não tinham, foram forçados a vir a mercado e comprar, sustentando as cotações.
Para os investidores que ainda se arriscam a ficar com papéis brasileiros, os papéis da dívida externa renegociada eram uma boa alternativa. Seus juros estavam, até sexta-feira, acima dos praticados no mercado interno brasileiro. Têm outra vantagem: não possuem risco no caso de desvalorização cambial, pois são negociados no mercado internacional.
Para tentar segurar os investidores no país, o governo ofereceu, nas últimas três semanas, R$ 4,5 bilhões de títulos da dívida interna que variam de acordo com o câmbio. Procurou pagar juros compatíveis com os pagos pelos títulos da dívida externa.
Na sexta-feira, o BC vendeu em leilão no mercado interno títulos com vencimento em 12 de março de 99 e juros de 14,94% ao ano, na máxima. O IDU, com vencimento de cerca de um ano e três meses, pagava, na sexta-feira, juros de mais de 20% ao ano.



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