São Paulo, quarta-feira, 06 de novembro de 2002

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PREÇOS

Taxa de 1,28% em outubro superou as expectativas, diz a Fipe; aumento é consequência da alta do dólar e da eleição

SP registra a maior inflação em 26 meses

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

A inflação resolveu dar um susto em um mês em que normalmente isso não ocorre. A frase é de Heron do Carmo, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor da Fipe, e mostra a preocupação com as taxas atuais de inflação. A alta da inflação, bem acima das estimativas, se deve à turbulência eleitoral, segundo o economista da Fipe.
Em outubro, os preços subiram 1,28% em São Paulo, a maior taxa desde agosto de 2000. Foi o segundo pior outubro do governo FHC -o outro foi em 1995, quando a taxa atingiu 1,48%.
A taxa do mês passado ficou acima da previsão inicial, que era de 0,30%. No ano, a inflação acumula 5,14%, o que obrigou a Fipe a rever a taxa de 2002 para 6,50%, também acima dos 3,50% previstos inicialmente.
O pior já ocorreu em outubro, mas este mês também será de taxa elevada. A previsão é de 1% e "a paulada" dos aumentos da gasolina e do gás deverá ser responsável por 31% dessa taxa, na avaliação da Fipe. "Esse aumento facilita as coisas para o próximo governo, mas estraga o humor das pessoas", diz Heron.
O grande responsável pela aceleração da inflação é o câmbio, que viveu uma montanha-russa nos últimos anos, diz o economista. "A partir de agora, no entanto, a pressão deve diminuir e a volatilidade (tendência de alta e de baixa) da moeda será bem menor."
O câmbio gerou pressão imediata sobre os preços, principalmente sobre as commodities e a alimentação. Grande parte desse impacto já foi incorporada nos aumentos de preços ao consumidor. O óleo de soja, por exemplo, acumula alta de 45% neste ano.
Parte da alta do dólar ainda não foi repassada para os preços, o que deverá ocorrer em 2003 e em 2004. Isso não quer dizer que a inflação continuará subindo no próximo ano, alerta Heron.
Para 2003, ele diz que o IPC da Fipe recua para 5%, e o IPCA do IBGE, para 6%. Já o IGP-M, atualmente com taxa acumulada em 12 meses em 16,34%, deverá ficar abaixo dos IPCs no próximo ano.
O primeiro semestre do próximo ano será de inflação estabilizada, mas no início do segundo semestre a taxa volta a subir em São Paulo devido aos reajustes das tarifas públicas. Essas tarifas serão reajustadas pelo IGP-M, que recebeu forte impacto do câmbio.
Os reajustes das tarifas vão afetar os custos das empresas, que repassarão essa pressão para os preços dos produtos. Até 2004, os consumidores ainda deverão pagar por esses aumentos nos supermercados, prevê Heron.
Apesar da defasagem do câmbio, ele não acredita em inflação de dois dígitos (mais de 10%) em 2003. "Isso só ocorrerá por obra e graça do próximo governo, não pelo câmbio." O economista da Fipe não acredita, no entanto, que o próximo governo desenvolverá uma política econômica frouxa que permita o retorno de taxas acentuadas de inflação.
A inflação medida pela Fipe registrou alta generalizada nos preços em outubro. O único setor que ainda inibe altas maiores da taxa é o de serviços, devido à queda de renda dos consumidores. Nos últimos 12 meses, o setor teve elevação de 2,14%. O destaque de alta fica para os serviços bancários, que subiram 17,37%.


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