São Paulo, quarta-feira, 06 de novembro de 2002

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INVESTIMENTO

Depois de quatro meses, patrimônio de fundos de investimento registra aumento; investidor volta a migrar

Saque volta a superar depósito na poupança

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de quatro meses fugindo dos fundos de investimento para a poupança, o mercado já dá sinais de que pretende começar a fazer o caminho inverso a partir de agora.
No mês passado, pela primeira vez desde maio, os saques nas cadernetas superaram os depósitos. Já o patrimônio dos fundos registrou ligeiro aumento.
Segundo dados do Banco Central, os investidores depositaram R$ 43,30 bilhões nas cadernetas entre os dias 1º e 30 do mês passado. Já os saques realizados no mesmo período somaram R$ 43,76 bilhões. Resultado: saída de R$ 460 milhões. O saldo total das aplicações, no último dia 30, chegou a R$ 137,39 bilhões.
O dinheiro aplicado nos fundos de investimento, por sua vez, aumentou em R$ 5,46 bilhões entre os dias 1º e 28. Esse valor inclui, além dos depósitos, a rentabilidade acumulada pelos fundos no período.
No dia 28, o patrimônio total dessas aplicações (que incluem fundos DI, cambiais, de renda fixa e de derivativos) estava em R$ 310,71 bilhões.
A fuga dos investidores em direção à poupança começou quando o Banco Central e a Comissão de Valores Mobiliários promoveram, em 31 de maio, alterações nas regras dos fundos de investimento. A nova norma ficou conhecida como "marcação a mercado".
Por essa regra, os fundos passaram a contabilizar seus ativos -em sua maioria, títulos públicos- pelo seu valor de mercado. Antes, a contabilidade era feita pelo valor de aquisição dos papéis, corrigido por uma determinada taxa de juros.
Quando a regra entrou em vigor, percebeu-se que muitos títulos das carteiras dos fundos estavam avaliados a um valor artificialmente alto. Depois de feito o ajuste, alguns fundos registraram, em um dia, perdas de até 4% de seu patrimônio.
Assustados com o prejuízo, muitos investidores preferiram sacar seu dinheiro dos fundos e migraram para aplicações mais seguras, como a poupança.
Em junho, as cadernetas registraram a maior captação de sua história: R$ 5,29 bilhões. Entre junho e setembro, os depósitos superaram os saques em R$ 14,32 bilhões.
Os fundos de investimento, ao contrário, registraram fortes perdas. Segundo dados da Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento), os saques feitos neste ano nos fundos DI e de renda fixa chegam a aproximadamente R$ 47 bilhões.
Em agosto, na tentativa de conter a fuga de recursos dos fundos, o BC e a CVM voltaram atrás e tornaram mais flexível a regra da "marcação a mercado". Desde então, os títulos com vencimento em prazo inferior a um ano não precisam mais ser contabilizados pelo seu valor de mercado.
Além disso, o BC passou a fazer leilões periódicos para recomprar títulos do governo em circulação no mercado. O objetivo é incentivar a alta da cotação desses papéis, o que se reverteria em ganhos para os fundos.
Para o governo, a retomada da confiança dos investidores nos fundos é importante para ajudar na rolagem da dívida pública, que tem atingido níveis recordes nos últimos meses.
De acordo com o Tesouro Nacional, os títulos da dívida do governo em circulação no país somavam R$ 616,98 bilhões em setembro. Desse total, cerca de um terço está nas mãos dos fundos. Por isso, o fortalecimento desse mercado é importante para facilitar o financiamento do endividamento público.
Para se ter uma idéia das dificuldades enfrentadas pelo governo na rolagem de sua dívida, basta ver o aumento de R$ 30 bilhões, ocorrido nos últimos meses, na parcela que o BC rola no "overnight". "Overnight" é o nome dado às operações em que o BC vende um determinado volume de títulos com o compromisso de recomprá-los um dia depois.


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