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INFRA-ESTRUTURA
Recursos destinados a construções por tropas crescem 47% sob Lula
Empreiteiras combatem o uso do Exército em obras
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A participação do Exército na
execução de obras de infra-estrutura aumentou no governo Lula.
Entre os períodos 1999-2002 e
2003-2005, o volume de recursos
destinados aos militares para
obras em estradas, portos, aeroportos e demais instalações cresceu 47,3%. Historicamente, os
militares ficavam responsáveis
por 3% do investimento federal
em infra-estrutura. No biênio
2005/2006, esse percentual deve
subir para 6% ou 7%.
As empresas, articuladas em entidades como a Aneor (Associação Nacional das Empresas de
Obras Rodoviárias) e o Sinicesp
(Sindicato da Indústria da Construção Pesada do Estado de São
Paulo), tentam reverter o quadro.
Argumentam que o Exército vai
além do seu papel e que estão perdendo mercado e deixando de gerar empregos. Preparam documento a ser entregue à ministra
Dilma Rousseff (Casa Civil).
O governo alega que precisa utilizar os recursos previstos no Orçamento e que sempre que for necessário usará o Exército.
Foi o que houve quando cancelou parte das obras rodoviárias do
"Corredor Nordeste" já licitadas
para a iniciativa privada e as repassou para os militares. A perda
dessas obras, orçadas em R$ 528
milhões, foi o que precipitou a
reação dos empresários.
Os lotes foram repassados ao
Exército porque os empresários
que não conseguiram passar a fase de qualificação do edital entraram na Justiça e paralisaram o andamento do projeto. Com pressa,
o governo cancelou o edital e repassou as obras para os militares.
Em lista montada pelo setor privado, constam 42 obras repassadas aos militares, orçadas em R$
268 milhões. Já o Departamento
de Engenharia e Construção do
Exército contabiliza 53 projetos
de infra-estrutura que receberam
recursos em 2005: 47 do governo
federal, 6 de governos estaduais
ou municipais e 1 de concessionária de serviço público. No total, os
militares já receberam R$ 199,1
milhões (até o fim de outubro).
Governo
O governo reconhece o aumento da participação militar, mas
não vê anormalidade. "O Exército
sempre executou obras no governo. Esse é um procedimento normal. Em relação aos últimos anos,
é verdade que aumentamos a execução do Exército", disse Hideraldo Luiz Caron, diretor de Infra-Estrutura Terrestre do DNIT (Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes).
"Temos algumas necessidades
em termos de execução de obras e
recursos orçamentários, não podemos deixar esses recursos presos no Orçamento, sem execução", explica. "A viabilização de
um convênio com o Exército é
mais rápida que um processo licitatório normal, mas nem por isso
contratamos de forma indiscriminada os batalhões. Fazemos isso
em casos determinados."
O diretor do DNIT explicou que
o governo aplicará entre R$ 5 bilhões e R$ 6 bilhões neste ano e terá orçamento semelhante em
2006. Segundo ele, nesse volume,
a quantidade a ser executada pelos militares ficará entre 6% e 7%
até o fim de 2006. "Não é um percentual que vá afetar significativamente o mercado de obras."
Militares
Para os militares, também não
há anormalidade. "O Exército começou a trabalhar para o governo
em 1880. É uma forma inteligente
de fazer o treinamento da engenharia, executando obras públicas", afirmou o general Ítalo Fortes Avena, diretor de Obras de
Cooperação do Departamento de
Engenharia e Construção do
Exército. "Houve um período em
que fomos pouco utilizados e,
agora, está na normalidade. Sai
mais barato. Além do mais, somos um elemento de referência,
um preço de referência", disse.
Ele também descarta que a participação do Exército venha a tomar mercado da iniciativa privada. "Nossa participação é muito
pequena. Eu diria que, na média
histórica, do gasto com infra-estrutura na área federal, nós estaríamos em torno de 3%. Se juntar
todo o gasto de infra-estrutura do
país, dá menos de 1%."
Empresas
A reclamação do setor privado
com o governo tem dois argumentos: perda de mercado e da
possibilidade da geração de empregos e o fato de o Exército estar
extrapolando suas funções.
Quando o governo decidiu cancelar o edital de parte do "Corredor Nordeste" e repassar a obra
aos militares, a Aneor enviou carta ao DNIT. No documento, a entidade manifesta "extrema preocupação" com o repasse da obra.
Alega que seriam gerados 6.000
empregos e que a indústria está
com parte de suas instalações
ociosas e que "existem, em disponibilidade, equipamentos e pessoal qualificado em condições de
executar as obras previstas".
Os empresários reclamam, também, de autoritarismo: "A iniciativa privada representa cada vez
mais um dos pilares da democratização do Estado. Assim, torna-se juridicamente inviável ao Estado compelir o setor privado, mediante a utilização de atos ou instrumentos autoritários, alijando-o da competição do mercado".
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