São Paulo, Segunda-feira, 06 de Dezembro de 1999


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ESTUDO
Esse perfil administrativo pode ser prejudicial no mundo globalizado, de acordo com a Ernst & Young
Empresa brasileira é conservadora

José Nascimento/Folha Imagem
Feldmann, sócio da Ernest & Young e professor da Faculdade de Economia e Administração da USP


CÁTIA LASSALVIA
da Redação

As grandes empresas brasileiras correm o risco de perder o passo no mundo globalizado, pois ainda são muito conservadoras em sua administração.
Essa é a principal conclusão de um estudo elaborado pela empresa de consultoria norte-americana Ernst & Young sobre o perfil da gestão das empresas bilionárias do Brasil.
O Brasil possui 38 dos 85 grupos latino-americanos controlados por capital local e privado que faturam mais de US$ 1 bilhão anuais.
"De modo geral, as empresas bilionárias brasileiras não estão prontas para serem internacionais", afirma Paulo Feldmann, sócio da Ernst & Young e professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo.

Estudo
O estudo, chamado "Clube do US$ 1 bi da América Latina", conclui que a maior parte das empresas da região tem pouca exposição internacional e suas exportações são de produtos com baixo valor agregado. As empresas são familiares ou de capital fechado, e os fundadores estão, em geral, à frente do negócio.
O caso brasileiro, isoladamente, não difere da média latino-americana. A particularidade é que o país possui grandes companhias em pelo menos 17 setores e tem condições reais de ser competitivo em alguns deles.
"Se pensarmos que o mundo caminha para uma maior internacionalização, não saber jogar esse jogo é um grande perigo às empresas do país", afirma Feldmann.
Segundo ele, seria importante que alguns segmentos -que reúnem condições de competitividade- soubessem aproveitar o momento e se fortalecessem.

Fragilidade
A fragilidade brasileira pode ser confirmada pelos números. Os 38 grupos bilionários do país faturaram juntos US$ 103,1 bilhões em 98 -nos Estados Unidos, só a General Electric faturou U$ 100 bilhões no ano passado, segundo a revista "Fortune".
Feldmann credita parte dessa diferença ao tipo de gerenciamento das empresas norte-americanas. "Lá é muito normal a empresa abrir seu capital para poder crescer. Muitas companhias são tão pulverizadas que os sócios majoritários têm menos de 5% das ações. Esse é um perfil diferente do que possui a empresa brasileira."
Segundo o estudo, somente metade dos 38 grupos nacionais negocia ações em Bolsa, e na maior parte dos casos, a porcentagem negociada é pequena.
"A empresa familiar brasileira tem como princípio deter mais de 51% das ações, nem que isso sacrifique o crescimento do negócio", diz Feldmann.
A pauta de exportações é um outro problema, comum às empresas nacionais de qualquer porte. Grande parte dos produtos destinados ao mercado externo depende de recursos naturais e de mão-de-obra barata, que juntos seriam uma vantagem competitiva do país. "Mas é uma vantagem sujeita a trovoadas", diz Feldmann.
No entanto, segundo ele, nem tudo está ruim e existem honrosas exceções de empresas e setores inteiros.
"Um contraponto a tudo é a Embraer: ela é a maior exportadora brasileira e tem um produto de alto valor", afirma Feldmann.
"O maior buraco da indústria brasileira não são os setores baseados em commodities. São as manufaturas."

Setores
O estudo indica que as empresas bilionárias brasileiras atuam principalmente em três setores, segundo o faturamento: o financeiro (22,57%), o comércio varejista (10,68%) e a construção (7,64%).
"O Brasil tem uma enorme carência de manufaturas. Ou ele exporta commodities ou poderia exportar serviços. Além disso, praticamente inexistem grupos ligados à alta tecnologia, que abrange setores que não param de crescer mundialmente", afirma o Feldmann.


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