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OPINIÃO ECONÔMICA
Uma questão de atitude
JOÃO SAYAD
No século passado crianças
eram vistas como adultos em
miniatura.
Eram obrigadas a se vestir, falar e se comportar como adultos.
Se se comportassem mal, se fossem irrequietas, cheias de vida,
emocionais, chorando à toa e
rindo alto deveriam ser disciplinadas com um bom castigo e algumas palmadas. As crianças
eram tidas como adultos sem
educação.
Hoje, mudamos de atitude. A
criança é vista como uma florzinha delicada, que pode crescer e
amadurecer se receber muitos
cuidados, carinho e dedicação.
Pode se transformar em pessoa
madura, com vida emocional rica e satisfatória, com capacidade de amor e trabalho. Pode permanecer criança a vida inteira.
É assunto complicado.
Os economistas neoliberais
têm atitude errada com relação
à economia capitalista. Acreditam que a economia capitalista
tende à estabilidade de preços e
ao crescimento auto-sustentado.
Quando tem inflação ou desemprego só existe um culpado, o governo ou a política.
A história desmente.
O mundo capitalista oscila entre inflação e deflação, entre
crescimento e desemprego. No
começo do século, estabilidade
ou deflação. Entre 1918 e 1930,
instabilidade, hiperinflação e
desemprego. Entre 1945 e 1980,
inflação e crescimento. Entre
1980 e hoje, estabilidade ou deflação com desemprego.
Estabilidade de preços com
crescimento é evento pouco provável. É florzinha delicada que
precisa de muita sorte para poder crescer.
Não é problema latino ou brasileiro. Por aqui, os números são
maiores, mas a direção é igual a
de todos os países do mundo.
Nos últimos 20 anos, a tendência inflacionária acabou nos Estados Unidos, na Europa, na
América Latina e, finalmente,
no Brasil.
A única crítica justa que se pode fazer ao país é que chegamos
sempre atrasados. Somos conservadores.
Agora, a inflação brasileira
volta à cena e muitos fazem provisões sombrias: a volta do dragão inflacionário.
Entre 1994 e 1998, quando o
câmbio estava fixo, a inflação
acumulada medida por índice
de custo de vida chegou a mais
do que 50%.
Entretanto, os defensores do
câmbio sobrevalorizado afirmavam que o câmbio deveria ser
comparado com o índice de preços por atacado, que mostrava
inflação muito pequena.
Agora, o câmbio flutua.
Os mesmos analistas afirmam
que a inflação vai crescer porque
o índice de custo de vida está
crescendo menos do que o índice
de preço por atacado. Que agora
um corre atrás do outro, embora
antes não corressem.
A afirmação só é verdadeira,
isto é, o índice de preço por atacado vai correr atrás do índice
de custo de vida se estivermos
num processo de inflação aberta.
Se acontecer isto -inflação
aberta, generalizada- acontece
aquilo -um índice correndo
atrás do outro.
Essa observação, entretanto,
não pode ser usada para fazer
previsões.
Não posso prever que vai chover, se chover. Não posso prever
que vai haver inflação, ou seja
que o IPC vai correr atrás do
IPA, a menos que possa prever
que haverá um processo inflacionário crônico e generalizado.
Essa é a questão: o que traria
de volta a inflação generalizada,
crônica e o risco de indexação?
Para ter inflação é preciso:
câmbio permanentemente crescente; trabalhadores que exigem
salário fixado em outra moeda
que não a moeda nacional, em
dólares ou em índices de preços;
e, finalmente, governo ineficaz,
isto é, incapaz de aprovar leis e
fazer respeitá-las, nomear e
mandar prender.
No Brasil, nada disso está
acontecendo. Nem parece prestes a acontecer.
O câmbio subiu, desceu e agora subiu de novo. Não tem tendência nítida de crescimento.
Na semana passada, caiu. O
Banco Central tem agido com
sabedoria. Nem promessas, nem
bravatas.
Os trabalhadores, coitados, há
muito tempo que não negociam
salários. Discutem apenas emprego.
O governo conseguiu aprovar
reformas constitucionais inimagináveis há alguns anos, inclusive a reeleição. Mais eficaz, impossível.
Não há indícios de volta do
dragão -a inflação permanente. Não é preciso aumentar taxas
de juros, cortar gastos ou bater
nas crianças.
João Sayad, 53, economista, professor da
Faculdade de Economia e Administração
da USP e ex-ministro do Planejamento (governo José Sarney); é autor de "Que País é
Este?" (editora Revan); escreve às segundas-feiras nesta coluna.
E-mail: jsayad@ibm.net
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