São Paulo, sexta-feira, 06 de dezembro de 2002

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TELECOMUNICAÇÕES

Estudo da consultoria Spectrum defende que operadora passe a atuar só na intermediação de sinais

Concorrência quer esquartejar a Embratel

LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL

A Brasil Telecom, Telemar e Telefônica pretendem transformar a Embratel em uma mera empresa de intermediação de serviços, repartindo entre si os negócios dessa operadora de ligações residenciais de longa distância e locais, de grandes clientes e de transmissão de dados dessa empresa. O que diminuiria e muito a concorrência. A Folha teve ontem acesso ao estudo que aquelas operadoras têm usado para tentar convencer o futuro governo a autorizar a venda da Embratel.
O estudo, elaborado pela consultoria inglesa Spectrum, com a coordenação do economista Roberto Mangabeira Unger, é explícito quanto ao interesse em eliminar a concorrência da Embratel com outras operadoras. "A venda [da Embratel] reduziria a concorrência e evitaria uma guerra de preços", afirma o estudo.
Com o título de "Embratel: um novo modelo de negócios e um novo papel central no mercado brasileiro de telecomunicações", o trabalho foi encomendado pelo banco de investimentos Bassini, Playfair, Wright. Tem sido usado pela Brasil Telecom no lobby para conseguir a autorização da venda da Embratel.
O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) deve receber o estudo. Segundo um executivo envolvido no negócio, o objetivo não é convencer o banco a participar da compra.
O estudo da Spectrum afirma que a Embratel não conseguirá sobreviver com seu atual modelo. Teria de renegociar 75% de sua dívida de R$ 4,4 bilhões em 2003. Segundo a consultoria, a concorrência de operadoras locais (como a Brasil Telecom, Telemar e Telefônica) nas ligações de longa distância iria reduzir a participação da Embratel nesse segmento de 80% para 25% em dois anos.
Já a recente entrada da Embratel no mercado de ligações locais elevaria sua participação de 0% para 8% no mesmo período. Para a Spectrum, o atual modelo da Embratel resultaria na queda da receita da companhia dos R$ 4,9 bilhões previstos para 2002 para R$ 3,1 bilhões em 2004.

Dúvidas do PT
O lobby da Brasil Telecom e das outras operadoras para que o futuro governo autorize a venda da Embratel ainda não conquistou a equipe de transição do PT. Ela não está convicta de que a Embratel caminha para a falência e irá solicitar dados da operadora para a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). O PT quer evitar a concentração de negócios de telefonia em poucas empresas.
A Embratel tem negado que esteja negociando sua venda com qualquer operadora. Afirma que vai muito bem e que seus concorrentes estão preocupados com sua recente entrada nos negócios de telefonia local, que já estão funcionando em cidades como Salvador e Recife.
O estudo da Spectrum é a favor da venda dos negócios de telefonia de longa distância da Embratel, que valeria R$ 2,7 bilhões, e dos corporativos, que valeriam R$ 2,2 bilhões. Os dois segmentos da empresa somariam um total de R$ 4,9 bilhões.
Já a unidade de negócios de rede da companhia, como transmissão de dados pela internet e distribuição de sinais de emissoras de rádio e televisão, é a que valeria menos: R$ 480 milhões. Esta seria preservada na nova companhia.
A nova Embratel, depois de ter boa parte de seu patrimônio repartido entre operadoras, se dedicaria a intermediar a transmissão de dados e seria responsável também por uma integração nacional dos sinais das TVs por assinatura. A Spectrum afirma que Embratel poderia centralizar uma rede única desses canais, devido aos seus 28 mil quilômetros de cabos de fibra óptica e também a sua rede de transmissão de sinais sem fios.
Para a Spectrum, um novo modelo para a Embratel garantiria a continuidade da rede de comunicação das Forças Armadas. A empresa passaria também a se dedicar ao desenvolvimento de novas tecnologias.


Colaborou Elvira Lobato, da Sucursal do Rio


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