São Paulo, sexta-feira, 06 de dezembro de 2002

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INVESTIGAÇÃO

Cantidiano responde ao acusador pela internet

Presidente da CVM reage a e-mail apócrifo sobre banco Opportunity

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

Um e-mail apócrifo, enviado a membros do governo, parlamentares e jornalistas por um suposto cliente do banco Opportunity, irritou o presidente da CVM, Luiz Leonardo Cantidiano, que acabou respondendo ao acusador, também pela internet.
O e-mail acusava Cantidiano de não se empenhar na investigação contra o Opportunity sobre o suposto desvio de recursos de clientes para o exterior e a reaplicação do dinheiro em privatizações no Brasil, por fundos de investimentos registrados em Cayman.
A acusação é objeto de uma comissão de inquérito da CVM instaurada em agosto do ano passado. A investigação corre em sigilo e, segundo a comissão, deve ser concluída dentro de cerca de 45 dias.
O que chamou a atenção no episódio foi a atitude de Cantidiano de responder, pela internet, a uma acusação anônima. O e-mail apócrifo foi disparado na terça-feira, com cópia para 60 pessoas, entre elas, o presidente Fernando Henrique Cardoso, o secretário da Receita Federal, Everardo Maciel, o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, e o deputado federal Antônio Delfim Netto (PPB-SP). Cantidiano diz que respondeu à acusação em respeito a alguns dos destinatários.
O autor do e-mail dizia representar dez ex-investidores do Opportunity Fund em Cayman. O texto afirmava que eles haviam feito uma aplicação em reais, no Brasil, e que o Opportunity teria sido o responsável pela conversão do dinheiro em dólar e pela suposta evasão fiscal.
O texto insinuava que Cantidiano estaria beneficiando o Opportunity, por ter sido advogado do grupo, antes de assumir a presidência da CVM, e ameaçava processá-lo por prevaricação. O e-mail remetia para um outro endereço na internet que contém a lista de supostos investidores brasileiros com dinheiro aplicado em fundos do Opportunity em Cayman. O ""site" promete divulgar nova lista por ocasião do Natal.
Cantidiano respondeu, pela internet, que determinou que o e-mail apócrifo fosse juntado aos autos do inquérito administrativo e que pediu à comissão para identificar o autor da mensagem e obter dele as supostas provas contra o Opportunity, que se limitou-se a dizer que não fala sobre documentos apócrifos e sobre acusações não provadas.
Cantidiano disse à Folha que se sentiu ofendido pelo e-mail. Afirmou que foi advogado de estatais, de fundos de pensão, de bancos e de empresas privadas antes de assumir a presidência da CVM, e que está no cargo para defender o mercado, e não antigos clientes.
Cantidiano considera que ele e a CVM estão sendo usados na disputa judicial entre o ex-sócio do Opportunity Luiz Roberto Demarco e os acionistas do banco. Demarco e os irmãos Daniel e Verônica Dantas travam uma guerra judicial em Cayman.
Cantidiano diz que não interfere nas investigações da comissão de inquérito e que se ela concluir pela procedência das acusações, a instituição será punida.


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