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PROTECIONISMO
Dos dez produtos exportados aos EUA, sete ainda têm restrições, que custam US$ 135 milhões por ano ao país
Maioria do aço brasileiro segue sobretaxada
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
O fim das sobretaxas norte-americanas sobre o aço importado que estavam em vigor desde o
ano passado aliviam apenas uma
parte das pressões sobre o setor
siderúrgico brasileiro.
Dos dez produtos sob garrote
até quinta-feira, sete permanecem
sobretaxados pelo governo dos
EUA por meio de medidas antidumping e de direito compensatório. Por conta dessas medidas, o
país continuará perdendo pelo
menos US$ 135 milhões anuais
em exportações, segundo cálculos
do IBS (Instituto Brasileiro de Siderurgia).
O que caiu, nesta semana, foram as sobretaxas impostas no
ano passado pela seção 201, da Lei
de Comércio norte-americana. As
medidas antidumping, algumas
com até dez anos de vigência, permanecem. "O problema é que havia uma redundância nos mecanismos de proteção do mercado
dos EUA", observa o economista
Germano Mendes de Paula, professor do Instituto de Economia
da Universidade Federal de Uberlândia e especialista no setor siderúrgico. "Agora apenas voltamos
à situação anterior", acrescenta.
Com isso, os produtos mais afetados pelo protecionismo dos
EUA continuam sendo os de
maior valor agregado, segundo
ele. É o caso dos laminados planos
a quente, que sofreram processo
antidumping e de direito compensatório no passado e também
foram incluídos na seção 201.
Esse aço, usado na indústria automobilística, continua com pesadas sobretaxas -entre 41,27% e
43,4%, dependendo da empresa,
por causa das medidas antidumping. Tem, ainda, uma sobretaxa
que vai de 6,35% a 9,67%, por direito compensatório.
As exportações desse produto
caíram de 403,8 mil toneladas
anuais, em 1998 -quando começaram os processos antidumping
contra fabricantes brasileiros-,
para 17 mil toneladas no ano passado, segundo dados do IBS. As
receitas de exportação do produto, que chegavam a US$ 112 milhões na época, minguaram para
US$ 3,3 milhões em 2002.
Outro produto que perdeu espaço no mercado americano nos
últimos anos foi o fio máquina,
usado na produção de arame para
ser processado por indústrias de
peças e parafusos, por exemplo.
Com uma sobretaxa que vai de
74,35% a 94,75%, o volume de exportações passou de 263 mil toneladas em 2000, quando começaram os processos antidumping,
para 100 mil toneladas no ano
passado. Já as receitas encolheram de US$ 80 milhões, na época,
para US$ 29 milhões em 2002.
Liberdade
Os produtos que ficaram livres
de sanções -as placas de aço, os
laminados a frio e os galvanizados- podem representar uma
retomada de US$ 110 milhões nas
vendas anuais da siderurgia brasileira para o mercado americano,
segundo o IBS informou em nota
oficial. Isso equivale a 3,8% das
exportações do setor no ano passado, de US$ 2,9 bilhões.
Segundo executivos e analistas,
a liberação desses produtos terá
um efeito pequeno.
"O impacto para a indústria é
muito baixo, fica limitado aos
produtos semi-acabados (placas
de aço), que não são afetados pela
legislação antidumping", diz
Márcio Araújo, diretor-executivo
da CSN.
As placas de aço são o item de
maior peso nas exportações da siderurgia brasileira, responsáveis
pelo embarque de 6,2 milhões de
toneladas de janeiro a outubro
deste ano. As exportações do produto para os EUA estavam limitadas por cotas que, neste ano, chegariam a 2,8 milhões de toneladas.
"Como a demanda americana
estava baixa, devido à desaceleração da economia, as vendas ficarão abaixo da cota", diz a analista
Kátia Brollo, do Unibanco. Até
agosto, as exportações de placas
ficaram em 1,024 milhão de toneladas, segundo dados do IBS.
Brollo afirma que havia espaço
para o crescimento das exportações brasileiras desses produtos
mesmo dentro do regime de cotas. Para o próximo ano, a cota fixada era de 3 milhões de toneladas, o que seria suficiente para
atender a um aumento da demanda, dobrando a exportação deste
ano. "Não creio que, mesmo com
a retomada da economia americana, o Brasil exporte mais de 3
milhões de toneladas de semi-acabados para aquele mercado
em 2004", diz Brollo.
O economista Mendes de Paula
diz que, mais do que as sobretaxas
impostas pela seção 201, o que reduziu as exportações brasileiras
para os EUA foi a recessão americana. "O que salvou a siderurgia,
no mundo todo, foi a explosão de
demanda da China, que substituiu os EUA como maior comprador mundial", observa.
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