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FOGO AMIGO
Para a central sindical, houve acertos, mas juros demoraram a cair
CUT se diz insatisfeita com o 1º ano do governo Lula
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
A cúpula da CUT (Central Única dos Trabalhadores) classificou,
ao final de reunião da direção nacional, como ""acertada em grande parte" a política econômica da
gestão petista, mas disse que "não
dá para ficar satisfeito com o primeiro ano do governo Lula".
Não se trata de uma avaliação
qualquer: a CUT é a maior central
sindical brasileira, com 22 milhões de sindicatos, e considerada
o braço sindical do PT.
As maiores críticas ao governo
Lula não partiram do presidente
da CUT, Luiz Marinho, mas do
secretário-geral (e ex-presidente
da entidade), João Felício. "O desemprego está alto, e a massa salarial, baixa. Como dirigente sindical, não dá para ficar satisfeito
com este primeiro ano [do governo Lula]", disse Felício.
O sindicalista argumentou que,
no início do governo, eram necessárias medidas para controlar a
inflação. "Seria um desastre se tivéssemos confirmadas as previsões de janeiro." Naquele mês, o
Banco Central projetava inflação
acumulada de 40% em 12 meses.
Feita a ressalva, Felício disse
que, a despeito da eficácia das medidas, o governo "demorou demais para baixar os juros". "Deveria ter começado a baixá-los em
abril, porque naquela época já havia condições para que os efeitos
fossem sentidos neste ano."
Em janeiro, primeiro mês de governo petista, o BC subiu os juros
de 25% para 25,5%. O primeiro
corte ocorreu em junho (para
26%). Agora, estão em 17,5%.
De sua parte, Marinho afirmou
que, dada a herança recebida pela
gestão petista, era esperado "um
2003 muito duro". "O governo assumiu sob a descrença internacional, com o risco-país nas nuvens. Fez o que deveria fazer, controlou a inflação."
De acordo com ele, o governo
não "tinha outra alternativa na
primeira fase do ano". "O que estamos discutindo é a velocidade
com que as medidas para a retomada do emprego e do crescimento está ocorrendo."
Segundo Marinho, no documento final da reunião, da qual
participaram 115 delegados da entidade, constará a posição contrária à decisão do governo de manter a meta de superávit primário
(economia para pagar juros da dívida) de 4,25% do PIB (Produto
Interno Bruto) e confirmá-la no
acordo com o FMI. Marinho afirmou que a CUT pedirá a Lula que
"intervenha" na assinatura do
acordo e reduza essa meta.
"Essa meta reduz os recursos
públicos necessários para os investimentos em infra-estrutura,
que vão determinar a velocidade
da retomada do crescimento econômico", afirmou o sindicalista.
"O governo acertou tudo? Não.
Acertou bastante, mas também
errou", completou.
Dentre os erros, além da falta de
medidas para diminuir o desemprego e da elevada, segundo Marinho, meta de superávit primário,
estaria o fato de ter alijado as centrais sindicais da reforma da Previdência. "Negociaram com juízes, com quem ganha altos salários, mas o governo não negociou
com o movimento sindical."
Embora o documento a ser tornado público pela CUT na próxima semana expresse uma posição
única, há divergências internas.
A ala majoritária, a Articulação
Sindical, recorre a indicadores
que apontam para a redução do
desemprego a partir do segundo
semestre de 2004. A mais mais crítica, a do Movimento por uma
Tendência Socialista, vinculado
ao PSTU, defende o rompimento
da CUT com o governo.
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