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São Paulo, sábado, 06 de dezembro de 2003

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FOGO AMIGO

Para a central sindical, houve acertos, mas juros demoraram a cair

CUT se diz insatisfeita com o 1º ano do governo Lula

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

A cúpula da CUT (Central Única dos Trabalhadores) classificou, ao final de reunião da direção nacional, como ""acertada em grande parte" a política econômica da gestão petista, mas disse que "não dá para ficar satisfeito com o primeiro ano do governo Lula".
Não se trata de uma avaliação qualquer: a CUT é a maior central sindical brasileira, com 22 milhões de sindicatos, e considerada o braço sindical do PT.
As maiores críticas ao governo Lula não partiram do presidente da CUT, Luiz Marinho, mas do secretário-geral (e ex-presidente da entidade), João Felício. "O desemprego está alto, e a massa salarial, baixa. Como dirigente sindical, não dá para ficar satisfeito com este primeiro ano [do governo Lula]", disse Felício.
O sindicalista argumentou que, no início do governo, eram necessárias medidas para controlar a inflação. "Seria um desastre se tivéssemos confirmadas as previsões de janeiro." Naquele mês, o Banco Central projetava inflação acumulada de 40% em 12 meses.
Feita a ressalva, Felício disse que, a despeito da eficácia das medidas, o governo "demorou demais para baixar os juros". "Deveria ter começado a baixá-los em abril, porque naquela época já havia condições para que os efeitos fossem sentidos neste ano."
Em janeiro, primeiro mês de governo petista, o BC subiu os juros de 25% para 25,5%. O primeiro corte ocorreu em junho (para 26%). Agora, estão em 17,5%.
De sua parte, Marinho afirmou que, dada a herança recebida pela gestão petista, era esperado "um 2003 muito duro". "O governo assumiu sob a descrença internacional, com o risco-país nas nuvens. Fez o que deveria fazer, controlou a inflação."
De acordo com ele, o governo não "tinha outra alternativa na primeira fase do ano". "O que estamos discutindo é a velocidade com que as medidas para a retomada do emprego e do crescimento está ocorrendo."
Segundo Marinho, no documento final da reunião, da qual participaram 115 delegados da entidade, constará a posição contrária à decisão do governo de manter a meta de superávit primário (economia para pagar juros da dívida) de 4,25% do PIB (Produto Interno Bruto) e confirmá-la no acordo com o FMI. Marinho afirmou que a CUT pedirá a Lula que "intervenha" na assinatura do acordo e reduza essa meta.
"Essa meta reduz os recursos públicos necessários para os investimentos em infra-estrutura, que vão determinar a velocidade da retomada do crescimento econômico", afirmou o sindicalista.
"O governo acertou tudo? Não. Acertou bastante, mas também errou", completou.
Dentre os erros, além da falta de medidas para diminuir o desemprego e da elevada, segundo Marinho, meta de superávit primário, estaria o fato de ter alijado as centrais sindicais da reforma da Previdência. "Negociaram com juízes, com quem ganha altos salários, mas o governo não negociou com o movimento sindical."
Embora o documento a ser tornado público pela CUT na próxima semana expresse uma posição única, há divergências internas.
A ala majoritária, a Articulação Sindical, recorre a indicadores que apontam para a redução do desemprego a partir do segundo semestre de 2004. A mais mais crítica, a do Movimento por uma Tendência Socialista, vinculado ao PSTU, defende o rompimento da CUT com o governo.


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