São Paulo, terça-feira, 07 de janeiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MERCADO FINANCEIRO

Moeda dos EUA tem menor cotação desde setembro; estrangeiros buscam ativos baratos no Brasil

Dólar cai a R$ 3,35 com volta de investidor

Eduardo Knapp/Folha Imagem
Operadores transacionam dólares pelo telefone, em mesa de câmbio de uma corretora paulistana


ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

A expectativa de que o governo poderá anunciar medidas de maior rigor fiscal e a volta de investidores externos, em busca dos depreciados ativos brasileiros, derrubaram o dólar pelo terceiro dia consecutivo ontem. A moeda norte-americana recuou 3% e encerrou o dia valendo R$ 3,350. É a menor cotação desde 17 de setembro do ano passado.
Embalado pelo mesmo movimento de otimismo, o chamado risco-país também voltou a recuar, encerrando o dia a 1.268 pontos, com queda de 4,6% em relação à última sexta-feira.
O ensaio de recuperação do mercado de crédito externo para instituições brasileiras também tem ajudado.
Segundo a Folha apurou, a Cemig, por exemplo, pediu a diversas instituições financeiras ofertas de propostas para um empréstimo de US$ 115 milhões que pretende contrair.
Com tudo isso, analistas acreditam que o dólar encerre o mês de janeiro na casa de R$ 3,20.

Brasil barato
A promessa de austeridade fiscal e monetária do governo está servindo de combustível para a volta de investidores que haviam fugido do mercado brasileiro, temendo calote da dívida pública.
Investidores, principalmente estrangeiros, estão se dando conta de que aplicar no Brasil no curto prazo é um ótimo negócio. Afinal, os ativos brasileiros se depreciaram muito em 2002 e oferecem retornos, que estão entre os mais altos do mundo.
Um exemplo é a taxa de juros em dólar paga pelo chamado cupom cambial. Os contratos desse investimento com vencimento em abril deste ano projetavam ontem retorno anual de 14,5%.
Essa taxa caiu muito em relação aos piores momentos do ano passado, quando chegou a atingir 50%, mas ainda ganha de longe dos juros anuais pagos por títulos de países desenvolvidos que variam entre 1,25% e 1,4% ao ano.
O cronograma de vencimentos de títulos públicos no primeiro bimestre do ano também tem colaborado bastante para o bom-humor dos mercados em relação ao Brasil. Vencem em janeiro e fevereiro apenas R$ 36 bilhões. O valor, referente a dois meses, é pouco superior ao que havia vencido apenas em dezembro de 2002.
Um sinal de que o apetite do mercado por títulos mais longos pode estar aumentando foi dado ontem pela queda da quantidade de recursos que circularam no chamado mercado "overnight" (que remunera aplicações a taxas de juros diárias). Esse volume recuou de R$ 60 bilhões-média que vinha sendo mantida desde meados de dezembro passado- para R$ 55,2 bilhões.
A quantia ainda é considerada muito alta. Mas, se for mantida a tendência de recuo, será mais um sinal positivo.
Ninguém acredita, no entanto, que a recuperação recente dos mercados já possa ser considerada uma tendência. O risco de guerra contra o Iraque e os desdobramentos das reformas estruturais prometidas pelo PT deverão ditar o tom dos mercados nos próximos meses.


Texto Anterior: Painel S/A
Próximo Texto: Meirelles pode usar US$ 10 bi em intervenção
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.