São Paulo, quarta-feira, 07 de janeiro de 2009

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VINICIUS TORRES FREIRE

Apagaram a luz


Tombo industrial era esperado, mas espraiamento da crise até para bens de consumo mais baratos foi surpresa bem ruim

SABIA-SE que a produção industrial de novembro era um caso perdido, embora a maioria dos economistas de bancos e consultorias estivesse vivendo em outro país, talvez planeta. Na média, projetavam queda de uns 3,4% de outubro para novembro. Mas a indústria se espatifou, caindo 5,2%. O que não estava no script, porém, era o espraiamento da crise. Cerca de 70% dos setores fabris cortaram a produção. Não se via coisa assim desde 2002. Ou seja, desde quando a série de dados permite comparações.
O massacre das montadoras já era sabido, e daí o sangue espirrou previsivelmente na metalurgia. Sabia-se que o tapete da mineração e setores associados havia sido puxado no mercado mundial. Esperava-se, enfim, queda maior nos bens duráveis mais caros e nas indústrias "de base". Mas quase ninguém ficou de pé.
Dos setores que indicam com mais precisão o andamento da produção e as expectativas de consumo, apenas alimentos escapou, com crescimento de 3,1% no mês. O encarecimento do crédito, o aumento da seletividade dos bancos e o choque na confiança do consumidor sugeriam óbvias dificuldades para a indústria de bens duráveis (eletrodomésticos, eletrônicos, além de carros etc.). Mas os bens duráveis caíram mais 20%, depois dos 4% de outubro, com paradas duras no caso de máquinas de escritório e informática (18%) e material eletrônico (17%).
Quem produz móveis, roupas, remédios ou produtos de limpeza também desligou máquinas -tais setores caíram entre 2% e 3%.
No caso dos investimentos, o ritmo da produção de máquinas não chegou a recuar tanto como em maio de 2008, quando se sentiu a primeira geada forte da crise. Mas, dada a razia na maior parte da indústria, fica o temor de epidemia no setor de máquinas. Parte relevante de tal indústria trabalha com encomendas feitas com um prazo de antecipação maior que o de outros setores. Ao que parece, dias piores virão nos setores de máquinas, metalurgia, peças, motores etc.
Novembro pode ter sido um caso de exagero? Pode ser. Talvez as indústrias estivessem com estoques grandes demais, pois a economia vinha embalada antes da catástrofe americana de setembro-outubro de 2008. Na dúvida, o empresário pode ter desovado estoques e esperado para ver. Mas a venda de carros ainda caiu muito em dezembro -o imposto menor ajudou, mas não compensou o crédito caro e raro. Os exportadores maiores (minérios, comida e outros associados a recursos naturais) estão demitindo.
O mercado financeiro já deu de lambuja, digamos, um corte de juros de meio ponto em janeiro. A inflação cede, por ora, e o dólar também, embora o câmbio seja imprevisível, assim como o desenrolar da crise lá fora. Mas ficou muito difícil para o Banco Central apenas aparar barba e bigode da Selic em janeiro. Cortar meio ponto será de graça.
Ainda assim, o corte não vai aliviar o custo do dinheiro para o consumidor, que no mínimo deve ficar onde está, o que por sua vez não deve animar o empresário a produzir de novo. Dependemos como nunca da dimensão e da eficácia do pacote que "são" Barack Obama deve anunciar na mesma época em que o BC daqui estiver definindo os juros.

vinit@uol.com.br


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