São Paulo, sábado, 07 de fevereiro de 2004

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RECEITA ORTODOXA

Produção sobe 0,3% em 2003; setores que fabricam bens de consumo semi e não-duráveis são os mais afetados

Indústria tem o pior desempenho desde 99

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Em 2003, a produção da indústria brasileira cresceu só 0,3% na comparação com o ano anterior. É o pior resultado desde 1999, ano da desvalorização do real, quando houve retração de 0,7%, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em 2002, houve expansão de 2,5%.
Depois de cinco meses consecutivos de alta, a produção da indústria caiu 1% em dezembro em relação a novembro, na taxa com ajuste sazonal (que exclui efeitos típicos de cada período).
Sobre o desempenho do setor em 2003, Sílvio Sales, chefe da Coordenação de Indústria do IBGE, afirmou: "É um crescimento supermodesto". "O resultado não é bom. Foi o preço que se pagou para controlar a inflação [por meio do aumento de juros]."
O Banco Central elevou a taxa de juros (Selic) por duas vezes no início de 2003, para 26,5% ao ano. No segundo semestre, na tentativa de reaquecer a economia, promoveu sete cortes, e a taxa fechou o ano a 16,5% -a mesma de hoje.
Sales ressalta, porém, que o setor ainda conseguiu fechar o ano no azul, apesar de um cenário de vendas do comércio em queda, renda contraída e aumento da informalidade e do desemprego. Só não foi pior, segundo ele, porque as exportações e o setor agrícola tiveram um bom desempenho.
Afetada pela queda da renda, a categoria de bens de consumo semi e não-duráveis (alimentos e vestuário, entre outros) foi a que mais sofreu: sua produção recuou 5,5% no ano. Dos 12 meses de 2003, caiu em oito.
De março a dezembro de 2003 (período para o qual o IBGE tem dados disponíveis), o rendimento médio real do trabalhador teve queda de 12,9% na comparação com igual período de 2002.
A queda em dezembro foi generalizada e atingiu 15 dos 20 ramos da indústria e três das quatro categorias de uso. Apesar da retração na comparação com novembro, a indústria cresceu 2,9% em relação a dezembro de 2002.
Em relação à retração dos não-duráveis, Paulo Levy, economista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), afirmou: "É uma queda surpreendente pela sua magnitude. A massa de salários caiu o ano todo e está demorando a se recuperar".
Francisco Pessoa, economista da consultoria LCA, disse que "é uma retração muito grande para bens de consumo tão essenciais". A produção do setor de vestuário recuou 17,5% em relação a 2002. No caso da indústria farmacêutica, a queda chegou a 18,5%.
Os bens de consumo duráveis (automóveis e eletrodomésticos) também fecharam no vermelho (0,5% de recuo). Houve, porém, uma reação desde o meio do ano -alta de 3,1% no segundo semestre ante igual período de 2002.
De acordo com Sales, a partir do segundo semestre, a indústria começou a reagir -cresceu 0,7% no período-, por causa da redução dos juros. As taxas menores favoreceram a produção de duráveis e, como conseqüência, de intermediários (fornecedor de insumos).

Acomodação
Ao analisar dezembro, Sales disse que não vê a queda como uma "interrupção" da melhora iniciada a partir do segundo semestre. "Pode ser só uma acomodação, já que a indústria cresceu muito nos últimos meses." Para Levy, "houve uma certa perda de fôlego".
Ao comentar a reação do setor nos últimos meses, Francisco Pessoa, economista da consultoria LCA, diz que "não há grande aquecimento da indústria". Diz ainda que "o perfil de expansão continua sendo centrado no crédito [ampliando o consumo de duráveis] e nas exportações".
No primeiro semestre de 2003, a indústria viveu uma "recessão técnica" -dois trimestres seguidos de retração (queda de 0,9% no primeiro e de 2,4% no segundo, comparados com os anteriores). Recuperou-se no terceiro (1,8%) e no quarto (3,3%).


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