|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RECEITA ORTODOXA
Produção sobe 0,3% em 2003; setores que fabricam bens de consumo semi e não-duráveis são os mais afetados
Indústria tem o pior desempenho desde 99
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Em 2003, a produção da indústria brasileira cresceu só 0,3% na
comparação com o ano anterior.
É o pior resultado desde 1999, ano
da desvalorização do real, quando
houve retração de 0,7%, segundo
o IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística). Em 2002,
houve expansão de 2,5%.
Depois de cinco meses consecutivos de alta, a produção da indústria caiu 1% em dezembro em relação a novembro, na taxa com
ajuste sazonal (que exclui efeitos
típicos de cada período).
Sobre o desempenho do setor
em 2003, Sílvio Sales, chefe da
Coordenação de Indústria do IBGE, afirmou: "É um crescimento
supermodesto". "O resultado não
é bom. Foi o preço que se pagou
para controlar a inflação [por
meio do aumento de juros]."
O Banco Central elevou a taxa
de juros (Selic) por duas vezes no
início de 2003, para 26,5% ao ano.
No segundo semestre, na tentativa de reaquecer a economia, promoveu sete cortes, e a taxa fechou
o ano a 16,5% -a mesma de hoje.
Sales ressalta, porém, que o setor ainda conseguiu fechar o ano
no azul, apesar de um cenário de
vendas do comércio em queda,
renda contraída e aumento da informalidade e do desemprego. Só
não foi pior, segundo ele, porque
as exportações e o setor agrícola
tiveram um bom desempenho.
Afetada pela queda da renda, a
categoria de bens de consumo semi e não-duráveis (alimentos e
vestuário, entre outros) foi a que
mais sofreu: sua produção recuou
5,5% no ano. Dos 12 meses de
2003, caiu em oito.
De março a dezembro de 2003
(período para o qual o IBGE tem
dados disponíveis), o rendimento
médio real do trabalhador teve
queda de 12,9% na comparação
com igual período de 2002.
A queda em dezembro foi generalizada e atingiu 15 dos 20 ramos
da indústria e três das quatro categorias de uso. Apesar da retração
na comparação com novembro, a
indústria cresceu 2,9% em relação
a dezembro de 2002.
Em relação à retração dos não-duráveis, Paulo Levy, economista
do Ipea (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada), afirmou:
"É uma queda surpreendente pela
sua magnitude. A massa de salários caiu o ano todo e está demorando a se recuperar".
Francisco Pessoa, economista
da consultoria LCA, disse que "é
uma retração muito grande para
bens de consumo tão essenciais".
A produção do setor de vestuário
recuou 17,5% em relação a 2002.
No caso da indústria farmacêutica, a queda chegou a 18,5%.
Os bens de consumo duráveis
(automóveis e eletrodomésticos)
também fecharam no vermelho
(0,5% de recuo). Houve, porém,
uma reação desde o meio do ano
-alta de 3,1% no segundo semestre ante igual período de 2002.
De acordo com Sales, a partir do
segundo semestre, a indústria começou a reagir -cresceu 0,7% no
período-, por causa da redução
dos juros. As taxas menores favoreceram a produção de duráveis e,
como conseqüência, de intermediários (fornecedor de insumos).
Acomodação
Ao analisar dezembro, Sales disse que não vê a queda como uma
"interrupção" da melhora iniciada a partir do segundo semestre.
"Pode ser só uma acomodação, já
que a indústria cresceu muito nos
últimos meses." Para Levy, "houve uma certa perda de fôlego".
Ao comentar a reação do setor
nos últimos meses, Francisco Pessoa, economista da consultoria
LCA, diz que "não há grande
aquecimento da indústria". Diz
ainda que "o perfil de expansão
continua sendo centrado no crédito [ampliando o consumo de
duráveis] e nas exportações".
No primeiro semestre de 2003, a
indústria viveu uma "recessão
técnica" -dois trimestres seguidos de retração (queda de 0,9%
no primeiro e de 2,4% no segundo, comparados com os anteriores). Recuperou-se no terceiro
(1,8%) e no quarto (3,3%).
Texto Anterior: Painel S.A. Próximo Texto: Ipea projeta expansão de 4,2% para este ano Índice
|