São Paulo, sábado, 07 de fevereiro de 2004

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LEITE DERRAMADO

Executivo da empresa no país presta depoimento e diz que não deve haver recursos de emergência

Parmalat não deve ter ajuda da matriz

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O italiano Andrea Ventura, diretor financeiro, administrativo e de relações com o mercado da Parmalat Alimentos, prestou depoimento ontem à Justiça de São Paulo e informou que a companhia no país já descartou a possibilidade de receber recursos de emergência da matriz na Itália a médio prazo.
Sem recursos e em meio a uma reestruturação, o Conselho de Administração da companhia vai se esvaziar, apurou a Folha.
Uma nova injeção de capital no país só deve ocorrer se bancos estrangeiros abrirem linhas de crédito na Itália. O banco italiano Intesa planeja liberar 10 milhões em um empréstimo de 150 milhões que está sendo solicitado para que o grupo continue operando, segundo agências internacionais de notícias.
No Brasil, a empresa precisa de pelo menos R$ 75 milhões para continuar operando. A produção da Parmalat pode parar dentro de poucos dias, como a direção já informou nesta semana. Contas iniciais mostram que a filial brasileira tem a receber da matriz mais de R$ 200 milhões, que poderiam ser utilizados para quitar dívidas no país, de acordo com dados de depoimentos ocorridos ontem.
Em reunião do Conselho de Administração da companhia, na quarta-feira, o presidente da empresa no país, Ricardo Gonçalves, disse que é impossível "o envio ao Brasil de recursos necessários à continuidade das atividades". A informação consta em ata da reunião de Gonçalves com diretores.
Em depoimento ontem ao juiz Carlos Henrique Abrão, da 42ª Vara Cível, Ventura disse que a filial brasileira não enviou recursos para paraísos fiscais no exterior. Ex-funcionários da empresa no exterior já informaram à polícia italiana que o Brasil recebeu "sacos de dinheiro" da Itália em operações irregulares.
Ventura foi chamado a depor para esclarecer essas questões em processo requerido pelo banco Sumitomo -credor da empresa.

Conselho e intervenção
Formado por dois diretores e pelo presidente da empresa, o Conselho de Administração da companhia no país pode esvaziar.
Andrea Ventura, atual diretor e conselheiro, deve deixar o país e voltar à Itália. No entanto, pessoas não-residentes no país são proibidas de ocupar a cadeira em conselhos, segundo a Lei das S.As. -que determina o funcionamento das companhias abertas (com ação em Bolsa) no Brasil.
Além dele, outro diretor da empresa já teria colocado o cargo à disposição também. A Lei das S.As. determina que o Conselho de Administração das empresas precisa ser composto por, no mínimo, dois diretores.
A Parmalat perdeu ontem a direção da fábrica de processamento de leite que possui em Itaperuna (RJ), por decisão da 2ª Vara da Comarca de Itaperuna.
Um colegiado composto por representantes, funcionários e governo do Rio assumiu a administração da unidade. A Parmalat não indicou um representante.


Com a Sucursal do Rio

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