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EUA querem nova parceria com etanol
Subsecretário de Estado vê acordo em 12 meses, mas não acena com fim de barreiras comerciais para produto brasileiro
Para Nicholas Burns, em visita ao Brasil, reduzir dependência do petróleo é fundamental para conter países como Venezuela e Irã
CLAUDIA ANTUNES
EDITORA DE MUNDO
A pesquisa e o desenvolvimento de biocombustíveis podem ser o "eixo simbólico" de
uma parceria "nova e mais forte" entre Brasil e Estados Unidos com o objetivo de ampliar o
mercado global para o etanol e
reduzir a dependência do petróleo, afirmou ontem o subsecretário de Estado americano
para Assuntos Políticos, Nicholas Burns.
A redução dessa dependência é "um passo adiante estratégico", disse Burns em São Paulo, a primeira escala de uma visita de três dias ao Brasil que o
leva hoje a Brasília. Segundo
ele, a expansão do uso de combustíveis renováveis é fundamental para acabar com o efeito "distorcivo" do petróleo nas
relações internacionais.
"A energia tende a distorcer o
poder de alguns Estados que
nós achamos que têm um peso
negativo no mundo, como a Venezuela e o Irã. Então, quanto
mais pudermos diversificar
nossas fontes de energia e nos
tornarmos menos dependentes
do petróleo, melhor ficaremos.
Estou falando de uma perspectiva americana. O Brasil deve
falar por si mesmo", afirmou
Burns, 51, que é o terceiro homem na hierarquia do Departamento de Estado.
A Venezuela, com a qual os
EUA têm uma relação política
ruim desde a tentativa de golpe
contra Hugo Chávez, em 2002,
é o quarto maior fornecedor de
petróleo para os EUA. O Irã,
com o qual os EUA não mantêm relações desde a Revolução
Islâmica, de 1979, é o terceiro
maior produtor mundial do
combustível. Em janeiro, o presidente americano, George W.
Bush, propôs que os EUA tenham como meta reduzir em
20% o consumo de petróleo
nos próximos dez anos.
Barreiras
A parceria que Burns veio
propor ao Brasil não passa, pelo
menos a curto prazo, pela redução das barreiras comerciais
que impedem o aumento das
exportações do etanol brasileiro para os EUA.
Ele disse que está ciente da
"insatisfação" dos brasileiros
com essas tarifas, que lhe foi expressada ontem pelo governador de São Paulo, José Serra,
com quem almoçou, e por representantes do setor privado,
com quem se reuniu de manhã.
Mas disse que, "como um humilde subsecretário de Estado", tem que implementar as
leis aprovadas pelo Congresso.
O presidente Bush pode enviar proposta de redução das
tarifas? "O presidente teria que
tomar uma decisão, olhar para
todos os fatores", respondeu.
Ademais, observou, o Brasil
não teria condições de atender
à demanda interna e à americana. Nos EUA, o etanol é feito
principalmente do milho, cujos
produtores recebem generosos
subsídios e constituem base
eleitoral importante.
Burns disse que um acordo
com o Brasil sobre biocombustíveis deve se concretizar "em
menos de 12 meses" e teria três
componentes:
1) Uma cooperação maior entre governo e setor privado dos
dois países, que juntos respondem por 70% da produção
mundial de etanol.
2) O envolvimento de outros
países da região, tanto na produção de biocombustíveis
quanto na formação de mercado para esses produtos.
3) A ampliação do mercado
global para os biocombustíveis,
principalmente o etanol, "de
modo que ele se torne uma
commodity global".
"A questão dos biocombustíveis contém enormes promessas para a relação Brasil-Estados Unidos. Se as nossas sociedades e governos podem estar
juntos cooperando, isso pode
ser o catalisador de uma parceria mais vigorosa", disse Burns.
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