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BANCOS
Contrariando pacote fiscal, governo abre mão de R$ 132 milhões em lucro a que tem direito como acionista
Tesouro destina mais recursos para o BB
ALEX RIBEIRO
da Sucursal de Brasília
Menos de dois anos após receber
um aporte de capital de R$ 8 bilhões, o Banco do Brasil está exigindo novas injeções de recursos
do Tesouro Nacional para se manter em operação, preservando sua
rentabilidade.
Ontem, o governo decidiu abrir
mão de uma parcela de R$ 132 milhões que lhe era de direito sobre o
lucro do BB, permitindo que os recursos sejam incorporados ao patrimônio líquido da instituição.
A decisão contraria uma das medidas anunciadas no pacote fiscal
editado em novembro passado pelo governo, segundo a qual 100%
dos lucros obtidos pelas estatais
seriam utilizados pelo Tesouro para reduzir o déficit fiscal (gastos
maiores que receitas).
No caso do BB foi aberta uma exceção, e só foi repassado o equivalente a 30% do lucro líquido do
banco no segundo semestre.
O contador-geral do BB, Gil Aurélio Garcia, disse que o Tesouro
cedeu parte do lucro a que tinha
direito porque o banco necessita
de mais capital para operar.
"Não tinha sentido o BB abrir
mão de 100% do lucro e depois fazer uma nova chamada de capital", disse Garcia.
O BB registrou lucro de R$ 573,8
milhões em 97 (rentabilidade de
9,6%), sendo R$ 286 milhões no
segundo semestre. Desse total, R$
22,888 milhões foram compulsoriamente incorporados ao patrimônio líquido, por meio das chamadas reservas legais.
Os acionistas ficarão com R$
81,536 milhões, a título de dividendos, dos quais R$ 59,521 milhões serão dirigidos ao Tesouro
Nacional, que detém 73% das
ações do banco.
Prejuízo histórico
Em março de 1996, o BB anunciou uma chamada de capital de
R$ 7,997 bilhões, como forma de
se antecipar a um prejuízo histórico de R$ 7,78 bilhões que a instituição veio a registrar no primeiro
semestre daquele ano.
O Tesouro entrou com R$ 6,4 bilhões, a Previ (fundo de previdência dos funcionários do BB) injetou R$ 1,081 bilhão, e o BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), R$
484 milhões.
Segundo o diretor de Finanças
do BB, Carlos Gilberto Caetano, a
injeção de recursos feita em 1996
foi suficiente apenas para adequar
o banco às regras da Basiléia, acordo internacional que visa dar solidez ao sistema financeiro.
Caetano disse que a legislação
estabelece que o banco tenha um
capital mínimo de 8% sobre o total
de ativos, mas os bancos privados
trabalham com percentuais superiores a esse, como forma obter
maior rentabilidade. Para obter
rentabilidade semelhante, segundo Caetano, o BB precisa de capital maior.
O diretor de Finanças do BB disse que a instituição não repassou
ao Tesouro 100% dos lucros devidos porque, embora a obrigação
tenha sido anunciada no pacote
fiscal, nenhuma lei ou MP regulamentou o assunto.
Assim, a alocação do lucro das
estatais ficou a critério dos respectivos conselhos de administração.
No caso do BB, houve a concordância do secretário-executivo do
Ministério da Fazenda, Pedro Parente, que preside o conselho de
administração.
O BB protagonizou outra exceção ao pacote ao emprestar R$ 324
milhões à Prefeitura de São Paulo.
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