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São Paulo, sexta-feira, 07 de março de 2003

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RECEITA ORTODOXA

Ministro sinaliza que aperto contra alta de preços vai continuar

Pior que o juro é a inflação, diz Palocci

Lula Marques/Folha Imagem
O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, durante entrevista


GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) fez ontem uma defesa veemente da política econômica, rechaçou a idéia de um "Plano B" que substitua os juros altos e os cortes de gastos e afirmou contar com o respaldo irrestrito do presidente Lula.
O outro recado de Palocci foi: a inflação se mostra mais resistente do que se imaginava e não está mais restrita aos preços diretamente afetados pelo dólar. Tudo somado, conclui-se que o aperto monetário e fiscal não só continuará como pode ser reforçado.
"Falar em mudanças quando os indicadores estão melhorando seria uma insanidade", disse. Os indicadores a que ele se referia são o crescimento do saldo comercial, a queda do risco Brasil e progressos na rolagem da dívida pública.
Palocci convocou entrevista para explicar a revisão do acordo com o FMI, mas pouco falou sobre o tema. Sua preocupação nítida foi responder às crescentes críticas à sua política ortodoxa e, ao mesmo tempo, dissipar eventuais dúvidas do mercado quanto às convicções do governo.
"Não acho que no Brasil se fale em "Plano B'", disse o ministro. "Fala em "Plano B" quem quer falar." Conforme a Folha noticiou no domingo, essa cobrança vem de economistas com grande influência no Planalto, como Maria da Conceição Tavares e o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), e até de ministros como Guido Mantega (Planejamento) e Ciro Gomes (Integração Nacional).

Sem restrições
O motivo das críticas, que também se ouvem em setores do sindicalismo e do empresariado, é o óbvio: eleito com a promessa de "mudar o modelo econômico" e viabilizar o crescimento, o governo Lula, até aqui, elevou os juros de 25% para 26,5% ao ano e o superávit primário (a parcela da receita de impostos destinada a pagar juros) de R$ 55 bilhões para R$ 68 bilhões.
A defesa da equipe econômica, também conhecida, foi aprofundada por Palocci. "O plano é o que está no programa de governo e foi aprovado pela população."
Argumenta-se que a crise financeira do ano passado resultou em elevação da cotação do dólar, da dívida pública e da inflação; não se sairá dessa situação sem recuperar a confiança dos investidores; as medidas dolorosas são necessárias numa fase de transição rumo a uma nova política.
O ministro chegou a falar por Lula -"O presidente não colocou nenhuma restrição para a área econômica"- e por seus colegas no governo -"Todos os ministros estão conscientes das medidas restritivas".

Sem efeito
Mas, além do debate ideológico, há questões acerca dos resultados concretos da política da Fazenda, que Palocci também acabou abordando, ao admitir que o controle da inflação ainda não surtiu os efeitos desejados.
"Precisamos fazer cair as expectativas de inflação e a própria inflação", disse, referindo-se à nova alta das projeções do mercado para o IPCA, que baliza as metas do BC. Numa tendência que se repete desde o início do ano, o ponto médio das expectativas dos bancos para o IPCA deste ano subiu de 12,06% para 12,33%, segundo pesquisa semanal do BC.
Questionado se, diante dessas previsões, o governo mudaria a meta de 8,5% para a inflação de 2003 ou elevaria de novo os juros, Palocci respondeu: "Não pensamos em mudar a meta".
Outro fator que reforça a possibilidade de mais aperto monetário é a mudança no diagnóstico para o surto inflacionário -até janeiro, considerado apenas um efeito da alta do dólar, reversível com uma recuperação do real.
Agora, como disse Palocci, "a contaminação de preços existe de fato". Ou seja, está disseminada e pode ressuscitar a indexação. Diante disso, os juros se tornam um mal menor: "Pior do que os juros é a inflação".


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