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AGRICULTURA
Planalto confirma estudar "solução jurídica" para o escoamento da safra de soja modificada, variedade hoje ilegal
Governo já admite negociar transgênicos
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo federal estuda a possibilidade de permitir a comercialização de soja transgênica -variedade modificada geneticamente que já compõe mais de 10% da
safra nacional de 49 milhões de
toneladas- no mercado interno,
o que seria ilegal, apurou a Folha.
O Planalto não confirma oficialmente a hipótese de comercialização interna, mas estuda, de acordo com André Singer, porta-voz
da Presidência, uma "solução jurídica" para o escoamento de toda
a safra, sem deixar de fora a variedade ilegal.
Apesar do tratamento excepcional para esta safra, o plantio e a
comercialização desse tipo de soja
continuarão proibidos no futuro.
O Planalto culpou o governo
Fernando Henrique Cardoso pelo
plantio ilegal, sob a alegação de
"omissão na fiscalização", segundo Singer. Para a Presidência, é
preciso lidar com o "problema social e econômico importante" que
foi gerado.
Além disso, o governo pretende
impor um "ajuste de conduta"
-sem especificar que medidas
serão tomadas- aos agricultores
que plantaram a variedade transgênica. As plantações de soja
transgênica estão concentradas
principalmente no Rio Grande do
Sul.
De acordo com o governo, a fiscalização também será reforçada.
"Todo o vigor da lei será mantido.
Continua proibida a plantação de
transgênicos", afirmou Singer.
A decisão de manter a proibição
foi tomada ontem, em reunião
entre o presidente Lula e oito ministros, inclusive o advogado-geral da União, Álvaro Ribeiro. Os
detalhes sobre o escoamento da
safra serão decididos posteriormente pelos ministros.
"Estamos em face de um problema social e econômico importante, que envolve dezenas de milhares de agricultores e milhões
de toneladas de soja, parcela dela
transgênica, que começa a ser colhida neste momento", disse Singer, após a reunião, que durou
cerca de uma hora.
Solução jurídica
"Diante dessa situação, o governo está empenhado em encontrar
uma solução jurídica", disse Singer, referindo-se à busca de uma
saída legal para permitir a comercialização de toda a safra, levando
em conta sua proibição em alguns
países, como o Brasil.
Apesar das divergências internas, entre ministros, sobre a possibilidade de legalização de plantio de transgênicos no país, há
uma preocupação com a repercussão que o descarte de milhões
de toneladas de soja transgênica
possa ter diante do programa Fome Zero, carro-chefe do governo.
Furlan
À tarde, antes da reunião, questionado sobre o assunto, o ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) disse que a posição
do ministério é "pragmática: seguir o caminho que melhor posicionar o Brasil no mercado internacional".
Segundo ele, o mais importante
é que os produtores possam aumentar seus ganhos com a exportação. Hoje, muitos países europeus só importam soja sem modificação genética.
Ele disse que, se o "prêmio"
(preço mais alto) pago pela soja
não-modificada compensar não
plantar espécies transgênicas, o
país pode continuar a proibir o
plantio da soja modificada.
Furlan destacou, contudo, que
sua opinião pessoal é que possa
haver no Brasil os dois tipos de
produção. Segundo ele, poderia
haver regiões específicas para cada espécie, inclusive com portos
reservados para escoamento da
produção de cada uma delas.
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