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Pessimismo volta e anula ganhos da Bolsa
Cenário piora com novos dados negativos da economia americana e problemas financeiros de empresas do setor imobiliário
Com recuo de 2,56% ontem, Bovespa volta a ficar no vermelho em 2008; nos
EUA, índice S&P 500 cai ao menor nível em 18 meses
EPAMINONDAS NETO
DA FOLHA OLINE
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Problemas financeiros de
empresas do setor imobiliário
nos EUA e o fechamento de
unidades de negócios de alto
risco de grandes bancos trouxeram de volta o pessimismo
aos mercados globais. Ao cenário negativo vieram se somar a
alta da inadimplência dos americanos, a cotação recorde do
petróleo, a baixa no preço de
commodities agrícolas e uma
série de indicadores ruins que
mostram desaceleração nos
EUA. As fortes perdas de ontem apagaram o ganho acumulado neste ano pela Bovespa.
O Ibovespa, o indicador que
reflete as ações mais negociadas da Bolsa brasileira, teve
perdas de 2,56% no fechamento de ontem. No ano, a queda
acumulada é de 1,43%. Nos
EUA, a Bolsa de Nova York teve
recuo ontem de 1,8% no índice
Dow Jones e de 2,2% no Standard & Poor's 500, que está em
seu menor nível em 18 meses.
No ano, o Dow Jones já perde
9% e o S&P 500, 11%.
A Carlyle Capital, braço de
investimento em títulos do
grupo Carlyle, o maior fundo de
private equity (participação em
empresas) do mundo, não conseguiu atender o pedido de credores para aumentar seus pagamentos. As ações da empresa
desabaram 56%. Conforme
cresce a quantidade de créditos
ruins em carteira, essas empresas têm de devolver em espécie
parte do dinheiro dos credores.
A Thornburg, uma das maiores do setor de hipotecas, também não saldou vencimentos
de US$ 28 milhões, e suas ações
derreteram 51,5%.
Já a Merrill Lynch anunciou
o fechamento de seu negócios
com títulos "subprime" (segunda linha), e o suíço UBS entrou
no mercado vendendo papéis
desse segmento com preço
considerado muito baixo.
Para hoje, as perspectivas
não são melhores, segundo
analistas. O governo americano
divulga a geração de postos de
trabalho. Investidores e analistas contam com a criação de 35
mil vagas no mês de fevereiro.
Um número muito abaixo desse valor pode trazer mais nervosismo para os negócios e espalhar dúvidas sobre a eficácia
dos cortes de juros nos EUA.
"O mercado pode ter antecipado hoje um "payroll" [dado de
postos de trabalho] muito
ruim, baseado nos indicadores
já divulgados de inadimplência
e de execução de hipotecas, que
foi recorde", comenta Mariana
Gonçalves, analista de renda
variável da Global Equity.
Para Fausto Gouveia, da corretora Alpes, o barril de petróleo próximo de US$ 106 traz de
volta a preocupação com a inflação nos EUA. "O Fed [Federal Reserve, BC dos EUA] poderá não cortar muito mais os juros com a inflação alta", disse.
Pela manhã, o mercado se
surpreendeu com a demanda
abaixo do esperado pelos benefícios de auxílio-desemprego. O
Departamento de Trabalho dos
EUA anunciou um total de 350
mil solicitações na semana do
dia 29, abaixo da projeção de
350 mil esperada por analistas
do setor financeiro.
O alívio não durou muito, e,
pouco mais tarde, investidores
e analistas se depararam com o
dado que derrubou de vez os
negócios: a taxa de execução
das hipotecas atingiu novo recorde -0,83%- no quarto trimestre de 2007, segundo a instituição privada MBA (Associação dos Bancos de Hipotecas,
na sigla em inglês).
No mercado de câmbio, até o
dólar comercial reagiu ao pessimismo externo. O valor da
moeda americana atingiu ontem R$ 1,680 (venda), com uma
alta de 0,53%.
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