São Paulo, sexta-feira, 07 de março de 2008

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Pessimismo volta e anula ganhos da Bolsa

Cenário piora com novos dados negativos da economia americana e problemas financeiros de empresas do setor imobiliário

Com recuo de 2,56% ontem, Bovespa volta a ficar no vermelho em 2008; nos EUA, índice S&P 500 cai ao menor nível em 18 meses

EPAMINONDAS NETO
DA FOLHA OLINE

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Problemas financeiros de empresas do setor imobiliário nos EUA e o fechamento de unidades de negócios de alto risco de grandes bancos trouxeram de volta o pessimismo aos mercados globais. Ao cenário negativo vieram se somar a alta da inadimplência dos americanos, a cotação recorde do petróleo, a baixa no preço de commodities agrícolas e uma série de indicadores ruins que mostram desaceleração nos EUA. As fortes perdas de ontem apagaram o ganho acumulado neste ano pela Bovespa.
O Ibovespa, o indicador que reflete as ações mais negociadas da Bolsa brasileira, teve perdas de 2,56% no fechamento de ontem. No ano, a queda acumulada é de 1,43%. Nos EUA, a Bolsa de Nova York teve recuo ontem de 1,8% no índice Dow Jones e de 2,2% no Standard & Poor's 500, que está em seu menor nível em 18 meses. No ano, o Dow Jones já perde 9% e o S&P 500, 11%.
A Carlyle Capital, braço de investimento em títulos do grupo Carlyle, o maior fundo de private equity (participação em empresas) do mundo, não conseguiu atender o pedido de credores para aumentar seus pagamentos. As ações da empresa desabaram 56%. Conforme cresce a quantidade de créditos ruins em carteira, essas empresas têm de devolver em espécie parte do dinheiro dos credores.
A Thornburg, uma das maiores do setor de hipotecas, também não saldou vencimentos de US$ 28 milhões, e suas ações derreteram 51,5%.
Já a Merrill Lynch anunciou o fechamento de seu negócios com títulos "subprime" (segunda linha), e o suíço UBS entrou no mercado vendendo papéis desse segmento com preço considerado muito baixo.
Para hoje, as perspectivas não são melhores, segundo analistas. O governo americano divulga a geração de postos de trabalho. Investidores e analistas contam com a criação de 35 mil vagas no mês de fevereiro. Um número muito abaixo desse valor pode trazer mais nervosismo para os negócios e espalhar dúvidas sobre a eficácia dos cortes de juros nos EUA.
"O mercado pode ter antecipado hoje um "payroll" [dado de postos de trabalho] muito ruim, baseado nos indicadores já divulgados de inadimplência e de execução de hipotecas, que foi recorde", comenta Mariana Gonçalves, analista de renda variável da Global Equity.
Para Fausto Gouveia, da corretora Alpes, o barril de petróleo próximo de US$ 106 traz de volta a preocupação com a inflação nos EUA. "O Fed [Federal Reserve, BC dos EUA] poderá não cortar muito mais os juros com a inflação alta", disse.
Pela manhã, o mercado se surpreendeu com a demanda abaixo do esperado pelos benefícios de auxílio-desemprego. O Departamento de Trabalho dos EUA anunciou um total de 350 mil solicitações na semana do dia 29, abaixo da projeção de 350 mil esperada por analistas do setor financeiro.
O alívio não durou muito, e, pouco mais tarde, investidores e analistas se depararam com o dado que derrubou de vez os negócios: a taxa de execução das hipotecas atingiu novo recorde -0,83%- no quarto trimestre de 2007, segundo a instituição privada MBA (Associação dos Bancos de Hipotecas, na sigla em inglês).
No mercado de câmbio, até o dólar comercial reagiu ao pessimismo externo. O valor da moeda americana atingiu ontem R$ 1,680 (venda), com uma alta de 0,53%.


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