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LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
Na mesma velocidade...
O acréscimo de uma pequena palavra no comunicado do Copom deixa claro que o
sinal amarelo já está aceso
AS PRIMEIRAS informações sobre o comportamento da indústria neste início de ano
mostram que o nível de atividade se
mantém nos níveis do fechamento
de 2007. Duas estatísticas me chamaram a atenção: o crescimento está espalhado por todos os tipos de
indústria -em economês, elevada
difusão- e houve aceleração da taxa de crescimento acumulada em
12 meses para 6,3% ao ano.
Pelos números de Fabio Ramos,
economista da Quest, quase 80%
dos 77 subsetores acompanhados
pelo IBGE estão crescendo, o que
mostra um comportamento homogêneo da expansão da produção industrial. Há destaque para o setor
de bens de capital, cuja produção
cresceu 19,2% em 12 meses. A julgar
pelos dados de importação de bens
de capital dos últimos meses, o investimento em máquinas e equipamentos continuará crescendo perto de 20% nos próximos meses.
Outro setor de nossa economia
que mantém o ritmo de crescimento é o agropecuário. A safra de verão
deverá ser 6% superior à verificada
em 2007, e os preços dos principais
produtos brasileiros continuam a
se elevar nos mercados internacionais. Por isso o PIB agrícola deve
ser, em 2008, bem superior ao do
ano passado.
Outra informação relevante neste início de ano vem do mercado de
trabalho. Iniciamos 2008 com o
emprego crescendo a taxas ainda
mais elevadas do que as verificadas
no ano passado. Sinal de que a massa salarial vai continuar a se expandir a taxas superiores a 6% ao ano.
Como o sistema bancário mantém
(até o momento) o ritmo de expansão de seus empréstimos, o consumo das famílias também não dá sinais de arrefecimento. Finalmente,
estou convencido de que os gastos
do governo permanecerão elevados, principalmente em razão da
arrecadação fiscal em crescimento,
apesar da bem-vinda perda do
CPMF.
Por tudo isso, acredito que a demanda interna deverá manter um
ritmo de crescimento próximo ao
dos últimos 12 meses. Embora a
participação das importações continue a aumentar de forma sustentada, não consigo ver o PIB brasileiro crescendo muito menos do que
no ano passado. A crise externa
-que ainda está se aprofundando e
chegando agora de forma mais intensa ao continente europeu- não
está afetando a dinâmica de nossa
economia. A não ser que ela se
transforme em uma catástrofe global, cenário no qual não acredito,
essa hipótese deve se consolidar ao
longo dos próximos meses.
Esse é o lado bom dessa minha
previsão. Mas alguns problemas de
fundo macroeconômico devem ficar mais graves. O mais importante
deles é o aparecimento de riscos altos no campo da inflação. Embora o
crescimento das importações e a
valorização do real funcionem como
antídoto poderoso no segmento dos
chamados bens comercializáveis,
que até está se acentuando pela aceleração do ritmo das importações,
tensões em outros mercados podem
continuar a se desenvolver.
Apesar de as pressões de inflação
ainda não serem dramáticas, o Banco Central se manterá vigilante e poderá optar por elevar os juros, em
uma possível estratégia preventiva.
O acréscimo de uma pequena palavra no comunicado da reunião do
Copom na última quarta-feira deixa
claro que o sinal amarelo já está aceso no prédio de nossa autoridade
monetária em Brasília. O ritmo da
atividade econômica será o fator determinante para a ação do Banco
Central nos próximos meses.
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, 64, engenheiro e
economista, é economista-chefe da Quest Investimentos.
Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações
(governo FHC).
lcmb2@terra.com.br
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