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OPERAÇÃO HIDRA
Estratégia de ex-presidente de clube de Assunção visava facilitar o contrabando de cigarros para o Brasil
Paraguaio queria selo do IPI como "marca"
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE
Uma investigação feita em 2002
e 2003 pela Procuradoria da República em São Paulo e pela Polícia Rodoviária Federal apontou ligação entre os empresários José
Doniseth Balan, brasileiro preso
na quarta-feira pela Polícia Federal, e Julio Osvaldo Dominguez
Dibb, paraguaio que disputou as
prévias do Partido Colorado para
a Presidência do país com Nicanor Duarte Frutos, eleito em 2003.
Suspeito de comandar 50% do
transporte do contrabando na
fronteira com o Paraguai, Balan
foi preso na quarta-feira em Eldorado (MS) durante a operação Hidra, realizada pela PF em Mato
Grosso do Sul, Paraná, Mato
Grosso e São Paulo. Até ontem à
tarde, 68 pessoas estavam presas.
Ex-presidente do clube Olímpia
do Paraguai, Dibb -conhecido
como ODD- é suspeito de tentar
registrar o selo do IPI como sendo
uma marca nas embalagens de cigarros fabricados por sua empresa no Paraguai. O registro facilitaria o contrabando.
A Procuradoria apurou que Balan era o homem-chave para a entrada no Brasil de produtos contrabandeados, principalmente cigarros do Paraguai, a partir das cidades brasileiras de Guiara (PR),
Mundo Novo (MS) e da paraguaia
Salto del Guiará.
Balan, dono de transportadora
em Maringá (noroeste do Paraná), seria o homem-chave da quadrilha de Roberto Eleutério da Silva, o Lobão, condenado em junho
de 2004 a 22 anos e quatro meses
de prisão por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e contrabando.
Lobão, por sua vez, comprava
cigarros de Dibb, segundo a acusação da Procuradoria feita com
base em escutas telefônicas realizadas pela PRF, em 2002 e em
2003, com autorização judicial. O
empresário paraguaio tem uma
fábrica de cigarros chamada Tabacalera Boquerón, em Assunção.
Nas gravações de conversas
atribuídas a Dibb, ele aparece falando com funcionários de Lobão. Diz que tem capacidade para
produzir 100 mil caixas do cigarro
Derby azul. Comenta ter comprado por US$ 1,5 milhão uma máquina para fabricar Box e ainda
afirma que tem US$ 21 milhões
para investir na construção de
uma fábrica de cerveja.
Como Balan seria o homem-chave de Lobão para a entrada de
cigarros contrabandeados do Paraguai e Dibb o fornecedor do
produto, a Procuradoria fez a ligação entre os três quando descreveu a estrutura da quadrilha
em processo judicial movido na
Justiça Federal em São Paulo.
O processo terminou com a
condenação de Lobão. A Procuradoria informou que enviou parte
do inquérito para a Justiça paraguaia processar Dibb.
A PF ainda analisa documentos
apreendidos durante a operação
Hidra para apurar as supostas ligações de Balan com contrabandistas de cigarros no Paraguai.
Outro lado
A reportagem procurou ontem
três advogados de Balan. Irene
dos Santos Almeida está em Maringá, mas, segundo a sua secretária, com o celular desligado (ela
não forneceu o número). Moises
Zanardi não estava no escritório
(a reportagem deixou recado).
Luís Plínio Teles está viajando, segundo informação de seu escritório em Maringá. Na Transbalan
ninguém atende ao telefone.
A Folha telefonou para Dibb na
Tabacalera Boquerón. Sua secretária disse que ele não estava e que
voltaria somente na segunda. Ela
não deu outro telefone para contato. A reportagem deixou recado, informando sobre o assunto.
Em setembro de 2003, a Folha
publicou a informação de que
Dibb tentava registrar como marca o selo do IPI. Na época, ele não
ligou de volta para a reportagem.
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