São Paulo, sábado, 07 de maio de 2005

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OPERAÇÃO HIDRA

Estratégia de ex-presidente de clube de Assunção visava facilitar o contrabando de cigarros para o Brasil

Paraguaio queria selo do IPI como "marca"

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

Uma investigação feita em 2002 e 2003 pela Procuradoria da República em São Paulo e pela Polícia Rodoviária Federal apontou ligação entre os empresários José Doniseth Balan, brasileiro preso na quarta-feira pela Polícia Federal, e Julio Osvaldo Dominguez Dibb, paraguaio que disputou as prévias do Partido Colorado para a Presidência do país com Nicanor Duarte Frutos, eleito em 2003.
Suspeito de comandar 50% do transporte do contrabando na fronteira com o Paraguai, Balan foi preso na quarta-feira em Eldorado (MS) durante a operação Hidra, realizada pela PF em Mato Grosso do Sul, Paraná, Mato Grosso e São Paulo. Até ontem à tarde, 68 pessoas estavam presas.
Ex-presidente do clube Olímpia do Paraguai, Dibb -conhecido como ODD- é suspeito de tentar registrar o selo do IPI como sendo uma marca nas embalagens de cigarros fabricados por sua empresa no Paraguai. O registro facilitaria o contrabando.
A Procuradoria apurou que Balan era o homem-chave para a entrada no Brasil de produtos contrabandeados, principalmente cigarros do Paraguai, a partir das cidades brasileiras de Guiara (PR), Mundo Novo (MS) e da paraguaia Salto del Guiará.
Balan, dono de transportadora em Maringá (noroeste do Paraná), seria o homem-chave da quadrilha de Roberto Eleutério da Silva, o Lobão, condenado em junho de 2004 a 22 anos e quatro meses de prisão por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e contrabando.
Lobão, por sua vez, comprava cigarros de Dibb, segundo a acusação da Procuradoria feita com base em escutas telefônicas realizadas pela PRF, em 2002 e em 2003, com autorização judicial. O empresário paraguaio tem uma fábrica de cigarros chamada Tabacalera Boquerón, em Assunção.
Nas gravações de conversas atribuídas a Dibb, ele aparece falando com funcionários de Lobão. Diz que tem capacidade para produzir 100 mil caixas do cigarro Derby azul. Comenta ter comprado por US$ 1,5 milhão uma máquina para fabricar Box e ainda afirma que tem US$ 21 milhões para investir na construção de uma fábrica de cerveja.
Como Balan seria o homem-chave de Lobão para a entrada de cigarros contrabandeados do Paraguai e Dibb o fornecedor do produto, a Procuradoria fez a ligação entre os três quando descreveu a estrutura da quadrilha em processo judicial movido na Justiça Federal em São Paulo.
O processo terminou com a condenação de Lobão. A Procuradoria informou que enviou parte do inquérito para a Justiça paraguaia processar Dibb.
A PF ainda analisa documentos apreendidos durante a operação Hidra para apurar as supostas ligações de Balan com contrabandistas de cigarros no Paraguai.

Outro lado
A reportagem procurou ontem três advogados de Balan. Irene dos Santos Almeida está em Maringá, mas, segundo a sua secretária, com o celular desligado (ela não forneceu o número). Moises Zanardi não estava no escritório (a reportagem deixou recado). Luís Plínio Teles está viajando, segundo informação de seu escritório em Maringá. Na Transbalan ninguém atende ao telefone.
A Folha telefonou para Dibb na Tabacalera Boquerón. Sua secretária disse que ele não estava e que voltaria somente na segunda. Ela não deu outro telefone para contato. A reportagem deixou recado, informando sobre o assunto.
Em setembro de 2003, a Folha publicou a informação de que Dibb tentava registrar como marca o selo do IPI. Na época, ele não ligou de volta para a reportagem.


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