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TECNOLOGIA
Empresas novatas montam redes de revendedores que vendem os produtos "porta a porta" e ganham comissões
Vendedor populariza telefone via internet
KEN BELSON
DO "NEW YORK TIMES"
Woodrow Cundiff é um vendedor nato. Como muitos outros
antes que venderam produtos da
Amway, Tupperware e Avon de
porta em porta, ele estava esperando "a próxima grande novidade" para vender. E, como outros
antes dele, a encontrou na internet: um novo serviço telefônico
digital oferecido por uma companhia canadense.
Em março, Cundiff gastou
US$ 500 para se tornar um "revendedor" do serviço que pretende substituir as caras linhas telefônicas terrestres por software que
funciona em linhas de dados de
alta velocidade oferecendo conexões de voz. Um mês depois, ele
disse que já recuperou seu dinheiro quase dez vezes.
O fato de alguém como Cundiff,
com pouca formação técnica, poder vender um serviço telefônico
baseado na internet com tanta facilidade é um sinal do nível de
abertura dessa indústria emergente. Com um custo inicial tão
baixo, centenas de operações familiares deverão entrar na onda
em breve.
Mas, como outros programas
de afiliação cujos representantes
vendem para amigos e vizinhos
-os quais vendem para seus
amigos e assim por diante-, há
um grande potencial de riscos.
Nesse caso, as telecomunicações,
as contas e os serviços são manipulados pelo Infinet Communications Group, próximo a Vancouver, na Colúmbia Britânica
(Canadá). Cundiff e outros como
ele, porém, estão nas linhas de
frente atraindo consumidores. Se
surgirem problemas, os clientes
irritados poderão bater em suas
portas pedindo restituição.
Enquanto companhias estabelecidas e grupos de consumidores
muitas vezes suspeitam dos planos de venda em pirâmide, Birkeland disse que não há nada errado
em indivíduos ou pequenas empresas venderem um serviço de
telefone via internet.
Por enquanto esses revendedores são pequenos comparados
com Vonage, AT&T e Time Warner Cable.
Mas Cundiff não parece ter dificuldades para encontrar clientes.
Em menos de um mês ele conquistou mais de 200, segundo disse, trabalhando principalmente
em sua casa em Port Charlotte,
Flórida.
Cundiff não tem estoques, mas
tem de pagar seu próprio marketing. Seu principal serviço é explicar como funciona o telefone pela
internet e como se pode ganhar
algum dinheiro extra como revendedor. A Infinet tem os servidores, roteadores e "switches" digitais necessários para conectar as
ligações e responde a perguntas
sobre o serviço por telefone e por
e-mail.
Cundiff encaminha os clientes
para seu site na web, que a Infinet
montou para ele, onde os clientes
escolhem um plano e um código
de área. Eles também informam
seu número de cartão de crédito e
endereço para que a Infinet possa
lhes enviar um adaptador e um
número de telefone. As contas são
enviadas eletronicamente.
Cundiff recebe uma taxa única
equivalente à primeira conta
mensal do cliente -geralmente
US$ 24,99- mais US$ 2 por mês
enquanto o cliente mantiver o
serviço. Se o cliente atrair uma
terceira pessoa, ele recebe US$ 1
por mês por aquela venda.
"A comunicação por voz na internet é a grande novidade, eu
também ia me inscrever, então
pensei: também vou começar a
vender", disse Cundiff, 35, que diz
ter ganho cerca de US$ 5.000 em
comissões até agora. "Do modo
como eu vejo a coisa, se eu conseguir alguns milhares de clientes
será uma bela renda."
Os especialistas duvidam que
essas iniciativas de vendas caseiras possam derrubar empresas
como Verizon Communications
ou BellSouth, que têm dezenas de
milhões de clientes de telefonia e
bilhões de dólares para gastar.
Mas, assim como as novatas que
venderam serviços de longa distância baratos depois que a
AT&T quebrou, cerca de duas décadas atrás, os empreendedores
oportunistas na linha de frente estão popularizando um produto
que, segundo muitos analistas, é o
futuro das comunicações por voz.
Quase todos eles também vão
morrer. Assim como o mercado
de longa distância hoje é dominado pelas companhias gigantes da
Bell, os revendedores provavelmente também vão desaparecer
quando as Bell, os provedores de
cabo e outros começarem a vender serviço telefônico pela internet para valer.
Essas companhias podem vender os serviços de telefone com
programação de televisão, linhas
de internet de alta velocidade e
outros produtos, enquanto os revendedores não podem.
As companhias também podem
controlar seu poder de fogo de
marketing, marcas, redes seguras
e extensas e ter atendimento 24
horas para tranqüilizar os clientes
que duvidam de empreendedores
sem nome.
"A proliferação de provedores
VoIP não me surpreende, mas o
mercado vai se modificar completamente, assim como o mercado
de ligações de longa distância",
disse Richard Nespola, do Management Network Group, uma
consultoria de telecomunicações.
Com o Wal-Mart chegando à
rua principal, há sinais de que essa reformulação já está acontecendo. A Vonage, uma novata baseada em Nova Jersey, é a líder de
mercado, com mais de 600 mil assinantes.
Mas as grandes companhias de
cabo já fizeram incursões rápidas.
A Cablevision, por exemplo, reuniu mais de 350 mil clientes em
apenas 18 meses. A AT&T, que
tem 53 mil assinantes, conta com
sua marca renomada e superioridade técnica para atrair consumidores das novatas.
"Se você olhar a história dos revendedores de longa distância,
havia cerca de 400 ou 500", disse
David Dorman, chefe da AT&T.
"Com o tempo, todos eles desapareceram. Eu não acho que uma
operadora sem rede vá superar
ofertas mais abrangentes."
Até agora as Bell só venderam
com relutância o serviço telefônico via internet, que exige uma conexão de alta velocidade e um
adaptador. Os planos de taxas fixas oferecidos pelas novas companhias de telefone via internet
ameaçam os serviços locais e de
longa distância tradicionais que
as Bell vendem pelo dobro e às vezes o triplo do preço.
Mas, com o tempo, todas deverão vender o serviço agressivamente, pelo menos para impedir
que seus clientes vão para uma
concorrente.
Por enquanto, Cundiff não parece preocupado. Ele encontrou
um público para seu produto entre velhos consumidores cansados de pagar US$ 50 ou mais por
uma linha local e um plano de
longa distância da operadora local, BellSouth.
"As pessoas mais velhas adoraram a tecnologia", disse Cundiff,
que também revendeu serviços de
longa distância na década de 80 e
vendia doces e lápis quando
criança. "Eles estão querendo
economizar e estão cansados de
pagar uma linha doméstica cara."
A Infinet dá os adaptadores de
US$ 80, do tamanho de um livro,
que conectam os telefones aos
modems de internet. David Stoneman, diretor de franquias da
Infinet, disse que vai levar cerca
de quatro meses para recuperar o
custo do adaptador. Mas com 50
revendedores descobrindo clientes, sua companhia gasta pouco
em marketing.
"Nós operamos em um fluxo de
caixa negativo para lançar o produto", disse Stoneman. "Mas economizamos dinheiro ao não precisar anunciar."
Os provedores de cabo, a AT&T
e outros que operam suas próprias redes também dizem que
companhias como a Infinet, que
dependem de outras para rotear
suas ligações, têm baixa qualidade
telefônica, algo que Stoneman e
Cundiff negam. Como a Vonage e
outros provedores de telefonia
pela internet, a Infinet usa o Nível
3 e outros operadores de rede para rotear ligações.
Na verdade, Cundiff está pretendendo se expandir ainda mais.
Ele quer ter mil adaptadores em
sua loja para que os clientes possam assinar o serviço no ato. Seu
chefe ganharia a comissão única,
mas Cundiff receberia US$ 1 residual de cada venda. "Todo mundo quer entrar na jogada porque
sabe que é a grande novidade",
disse ele.
Tradução de Luiz Roberto
Mendes Gonçalves
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