São Paulo, sábado, 07 de maio de 2005

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ON-LINE

Empreendedores criam programas ou renovam antigas ferramentas e dizem que setores que ficarem fora da web não sobreviverão

Novos empresários abrem espaço na internet

RICHARD WATERS
DO "FINANCIAL TIMES"

Eles são jovens, eles são idealistas -e não se incomodam com a próxima indústria multibilionária que destruirão.
Uma nova geração de visionários empresariais chegou à maturidade na internet, depois do colapso financeiro das empresas do ramo há alguns anos. Como os pioneiros do setor, muitos têm idéias ambiciosas e perturbadoras e não temem prever o fim de setores tradicionais da economia que optem por ficar fora da web.
Ao contrário da geração de empresários que os precedeu, houve muitos erros com os quais aprender, para eles. Beneficiaram-se de uma mudança completa no comportamento das empresas e dos consumidores, que fez da internet uma parte da vida cotidiana dos consumidores em toda parte. E é mais provável que provenham de outro país que não os Estados Unidos, especialmente no que tange ao uso da versão móvel da internet, onde o crescimento é mais rápido.
Para uma amostra dessa nova onda de ambições on-line, basta ouvir Bram Cohen, criador da BitTorrent, uma rede de troca de arquivos que acelerou o download de filmes e outros arquivos de grande volume de dados via internet, para grande irritação daqueles que controlam direitos autorais. "Os custos de distribuição estão despencando, e muito rápido", diz. "Quando chegarem a zero, a distribuição de conteúdo deixará de existir como negócio."
Que papel restará, então, aos intermediários posicionados entre os criadores e os consumidores de "conteúdo"? "Não haverá intermediários", diz Cohen.
Previsões drásticas como essa não são novidade: já eram comuns durante o boom anterior da internet. Mas algumas coisas mudaram, desta vez. Graças à rápida difusão do acesso em banda larga à internet, existe uma audiência pronta para idéias ambiciosas que eram encaradas como simples bazófias algum tempo atrás.
Muitas das previsões aparentemente absurdas feitas durante o primeiro boom da internet "estavam certas", afinal, diz Steve Jurvetson, que trabalha com capital para empreendimentos no Vale do Silício.
O Napster pode ter conquistado lugar na história da internet, mas se assemelhava a uma empresa artesanal, se comparado ao que vem acontecendo agora. Como resultado, o potencial de confusão dessas novas tecnologias -e a escala de novos negócios que elas poderiam sustentar- foi imensamente aumentado.
Os principais beneficiários do segundo advento da internet, até agora, foram as empresas que emergiram com maior força do primeiro surto de florescimento do setor, como eBay, Yahoo e Amazon.com, ou empresas tradicionais que decidiram aproveitar mais cedo o poderio da rede.
Mas a internet 2.0, como alguns a chamam, também está ajudando a lançar uma nova geração de tecnocratas e empresários visionários -pessoas com idéias novas sobre como usar o poder da web para alterar o comportamento social e perturbar o sono de setores estabelecidos da economia.
Esse fluxo de idéias novas toma diversas formas. Em alguns casos, novos modelos de negócios insuflaram nova vida a idéias antigas. Foi o que aconteceu, por exemplo, de maneira espetacular, no setor de buscas na internet. O faturamento publicitário de bilhões de dólares gerado pelo Google e pelo Yahoo agora está sendo usado para sustentar muitas formas diferentes de mídia on-line.
Em outros casos, a adoção maciça de novas tecnologias começa a gerar mudanças significativas no comportamento on-line, o que faz com que os empresários tenham de correr em busca de novos modelos de negócios e faz com que as empresas tradicionais se preocupem com o impacto que as mudanças podem exercer sobre elas.
O fenômeno dos blogs vem sendo um dos mais poderosos exemplos. Mais de 8 milhões de pessoas nos Estados Unidos têm blogs, ou diários on-line, e o número vem crescendo a cada dia no mundo.
Não existe consenso quanto ao significado exato desse fenômeno, ou quanto ao potencial impacto dele sobre os negócios. Para algumas pessoas, os blogs deveriam ser vistos como uma extensão da mídia e governados pelos modelos conhecidos do mundo da mídia, ainda que adaptados a uma forma de micropublicação.
"Trata-se apenas da mais recente encarnação da internet como mídia", diz Nick Denton, fundador da Gawker Media, uma das primeiras empresas a tentar construir um modelo editorial de negócios em torno de uma rede de blogs, e ex-repórter do "Financial Times".
"O aspecto econômico da publicação on-line se tornou tão barato que qualquer pessoa pode fazê-lo", diz ele. Com baixos custos editorais e distribuição gratuita, os blogs são capazes de se sustentar com audiências muito menores do que as das mídias tradicionais, afirma Denton.
No entanto, de que maneira será possível transformar essa cacofonia de conversações privadas em um negócio? Os blogs têm o potencial de criar um novo modelo de negócios que só poderia existir na internet, disse Joi Ito, financista e empresário japonês que investiu na Six Apart.
"Os blogs vão mudar a natureza da publicidade", prevê, e também criarão novas formas de comércio eletrônico -ainda que a maneira pela qual esse novo mercado será organizado e quem enriquecerá com ele não estejam claras.
Uma mudança ainda mais perturbadora na natureza e na economia das comunicações de massa e seu mercado pode surgir com a telefonia via internet. Ainda que previsto há muito tempo, o hábito de fazer ligações via internet só agora começa a se generalizar, graças à adoção em massa do acesso em banda larga à internet.
Entre os primeiros a demonstrar o poder dessa idéia estão Niklas Zennstrom e Janus Friis, que inicialmente criaram o KaZaA, um dos mais usados dos sistemas de troca de arquivos on-line. Mais de 65 milhões de pessoas baixaram o software Skype, criado por eles, um serviço gratuito de telefonia via internet.
"O Skype e outros serviços vão mudar as coisas a ponto de, quando contemplarmos o passado, daqui a 10 ou 20 anos, ficarmos imaginando por que as pessoas pagavam por comunicação de voz", disse Jurvetson, cuja empresa de capital para empreendimentos financia a Skype. Essa grande mudança no mercado poderia prejudicar os gigantes do setor de telecomunicações, ele diz.
Mas essa nova geração pode cair vítima da arrogância e ambição excessiva que destruíram tantas empresas de internet no passado?
"Dessa vez, os empresários estão mais espertos", diz Ito. "A assessoria que vêm obtendo é muito melhor. O desejo de enriquecer rapidamente é menos premente."
Uma coisa, porém, não mudou: a ambição sem limites.


Tradução de Paulo Migliacci


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