São Paulo, quinta-feira, 07 de maio de 2009

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Bancos precisarão de mais de
US$ 100 bi

Instituições financeiras dos EUA se apressam em operações para levantar capital e tentar conter influência do governo

Apenas os 2 maiores bancos do país, Citibank e Bank of America, devem precisar de mais US$ 85 bi; resultado do "teste de estresse" sairá hoje


FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

Com a divulgação dos resultados dos "testes de estresse" prevista para hoje, os bancos norte-americanos entraram em uma corrida contra o relógio para levantar capital e tentar conter a influência cada vez maior do governo dos EUA em suas operações.
Ontem, o porta-voz da Casa Branca Robert Gibbs não descartou que o governo de Barack Obama mude a administração de bancos e empresas que receberem mais ajuda estatal.
A previsão é que 10 dos 19 bancos que passaram pelos testes executados pelo Departamento do Tesouro precisem levantar mais capital nas próximas semanas.
Os dois maiores bancos dos EUA, Citigroup e BofA (Bank of America), precisarão de estimados US$ 50 bilhões e US$ 35 bilhões, respectivamente.
O Wells Fargo precisaria de US$ 15 bilhões, e o Gmac, braço financeiro da General Motors, de US$ 11,5 bilhões.
Goldman Sachs, Morgan Stanley, MetLife, JPMorgan Chase, Bank of New York Mellon e American Express foram citados como instituições que não precisarão de mais capital.
Os "testes de estresse" são um conjunto de premissas para economia dos EUA para os próximos dois anos (como PIB, desemprego etc.). A partir dos cenários, o Tesouro calculou quanto cada banco precisará de reforço no caixa para atravessar a atual recessão.
Nos casos de Citi e BofA, os dois bancos foram individualmente os que mais receberam injeções de dinheiro estatal até agora. Foram US$ 45 bilhões para cada um. Esses aportes foram feitos por meio da compra, pelo Tesouro, das chamadas "preferred stocks" dos dois bancos -ações que oferecem privilégios no recebimento de dividendos, mas que não dão direito a voto.
As "preferred stocks" podem ser convertidas a qualquer momento em ações ordinárias, o que cobriria toda a necessidade de mais capital no BofA e parte da do Citi. O Citigroup teria até concordado com a conversão.
Se isso for feito, porém, o governo dos EUA passará a ser de longe o maior acionista nos dois bancos. Apenas no Citi, com a conversão, o Estado terá 36% de participação.
Para evitar o aumento da influência estatal em seus negócios, que poderia resultar na troca de diretores e até do presidente dos bancos, várias instituições estão considerando vender parte dos seus negócios ou aproveitar a onda de otimismo nas Bolsas para lançar novas ações ao público -oferecendo desconto de até 10% sobre o atual preço de mercado.

Alta de 90%
Na média, os preços das ações dos bancos nos EUA subiram mais de 90% desde março. Isso já encorajou alguns bancos a levantar capital no mercado, como o Goldman Sachs (US$ 5 bilhões) e o City National (US$ 110 milhões).
O BofA também considera vender o First Republic, um banco coligado, parte de sua participação no China Construction Bank e o fundo de investimentos Columbia Management, que administra mais de US$ 340 bilhões em ativos. O gigantesco fundo americano BlackRock mostra-se interessado nesse último negócio.
Se concluídas, as vendas dessas unidades poderiam levantar cerca de US$ 12 bilhões para o BofA. Parte do restante poderia ser obtido com a venda de novas ações no mercado.
No primeiro trimestre de 2009, houve 37 negócios de venda de áreas financeiras de bancos para concorrentes. Elas concentravam ativos de investidores de cerca de US$ 550 bilhões, valor acima dos US$ 360 bilhões registrados em 57 negócios do tipo entre janeiro e março de 2008.
Ou seja, embora haja menos negócios hoje, eles estão envolvendo unidades maiores.
O caso do BofA é visto com mais cuidado pelo Tesouro dos EUA. Na crise bancária de setembro de 2008, o banco foi praticamente obrigado pelas autoridades a assumir o Merrill Lynch e a empresa de hipotecas Countrywide Financial.
Se isso não tivesse ocorrido, o estrago na economia com a provável quebra dessas duas instituições teria sido maior.
Já o Citi é um caso bem mais difícil. Se o banco não conseguir se desfazer de várias de suas unidades, o governo dos EUA terá afinal que elevar a sua participação acionária para além do total de 36%.


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