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OPINIÃO ECONÔMICA
Entenda essa nova crise financeira
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
Cheguei de uma curta viagem ao exterior com mais
uma crise financeira da era do
malanismo. Algumas das características desse novo período de
instabilidade: a cotação do dólar,
depois de uma consistente estabilidade em baixa, tem subido de
forma quase monotônica; o chamado risco Brasil voltou ao nível
explosivo dos 12% ao ano; e o
Banco Central está reduzindo,
sem honra, os prazos dos títulos
públicos colocados aos investidores durante os últimos meses.
"Last but not least", por incrível
que pareça, depois de mais de dez
anos, fala-se novamente na possibilidade de problemas na rolagem da dívida pública interna!
Encontrei entre participantes
do mercado, cidadãos comuns de
minha relação e a imprensa de
maneira geral uma grande perplexidade em relação a essa nova
instabilidade financeira. Culpa
do Lula e do PT, barbeiragem do
Banco Central e especulação externa são algumas das causas que
permeiam as discussões sobre esses fatos. Mas que o ambiente econômico mudou radicalmente na
minha ausência mudou.
Há um cheiro de medo real no
ar, apesar de fatos positivos terem
ocorrido nesse período. A brincadeira liderada pelo PFL com a
CPMF terminou, os preços do petróleo caíram bastante nos mercados internacionais e a inflação
está voltando a níveis mais satisfatórios. No cenário eleitoral vai
ficando claro que a polarização
Lula e Serra está quase consolidada, afastando de vez o fantasma
Garotinho no segundo turno.
"Por que então essa nova crise?",
devem estar se perguntando os
meus leitores da Folha.
Em duas colunas recentes tinha
me referido à formação de um ciclo de instabilidade, a que chamei
de ciclo do diabo, em razão do
crescimento da candidatura Lula.
Chamava a atenção para os riscos que uma vitória do PT nas
eleições de outubro e novembro
próximos apresentava para nossa
economia. Dizia que, apesar dos
macrofundamentos nos campos
monetário e fiscal serem hoje de
boa qualidade, dois problemas
ainda remanescem como focos de
instabilidade em momentos de
risco político percebido pelos mercados: a questão de nossa fragilidade externa e a rolagem de uma
dívida mobiliária interna elevada e de prazos curtos.
Em momentos de confiança na
política econômica oficial, como
os que temos vivido nos últimos
anos, essa fragilidade financeira
fica minimizada e aparece um
certo espaço de normalidade para
que a economia real funcione
com alguma eficiência. Foi por essa razão que sobrevivemos à crise
da Argentina no início do ano
passado e, depois, descolamos do
naufrágio de nosso vizinho a partir do último trimestre de 2001.
Mas, com o fortalecimento da
candidatura de Lula a partir de
abril deste ano, o fantasma financeiro voltou com força total. Em
um primeiro momento, esse fenômeno foi percebido por poucos. A
grande maioria dos investidores e
instituições financeiras acreditou
nas análises políticas de uns poucos formadores de opinião nessa
área, que davam como certa a vitória do candidato do governo
nas eleições presidenciais. O crescimento do senador José Serra nas
primeiras pesquisas e a imagem
renovada do PT nos programas
de Duda Mendonça deram ao
mercado a falsa impressão de que
não havia o risco de uma ruptura
na condução da política econômica. Os mercados valorizaram
os ativos brasileiros, e o nosso ministro da Fazenda devolveu antecipadamente ao FMI R$ 4 bilhões
de nossas reservas. Tudo parecia
um céu de brigadeiro!
A situação começou a mudar
no início de maio, quando alguns
"players" importantes, principalmente no exterior, começaram a
ficar nervosos com a situação eleitoral. Bastou o Copom não reduzir os juros em sua última reunião, alegando riscos futuros, para que tudo mudasse. Se os sábios
de nossa autoridade monetária
estavam preocupados, era hora
de mudar do otimismo para uma
situação mais defensiva. Isso começou a ser feito com certa classe,
mas logo se transformou em uma
corrida maluca.
À medida que o PT não foi capaz de passar das intenções de
disciplina macroeconômica para
propostas concretas, o mau humor em relação a um eventual
governo Lula foi substituído por
ações defensivas. Um fator importante nesse movimento foi a declaração do deputado Aloizio
Mercadante, durante um jantar
com membros da comunidade financeira, de que em termos econômicos quem falava pelo PT
eram ele e a professora Maria da
Conceição Tavares, e não o economista Guido Mantega. Em outras palavras, a PUC do Rio seria
substituída pela Unicamp como
centro do pensamento econômico
oficial.
No jornal "Valor" de ontem, o
economista Ricardo Carneiro explicitou pela primeira vez o que
realmente pensa o PT sobre a administração de nossa economia.
Um verdadeiro desastre que talvez o nosso querido Duda Mendonça vá levar alguns dias para
entender. O mercado, entretanto,
precisou apenas de alguns segundos! Os erros do Banco Central
dos últimos dias são irrelevantes
perto dos estragos provocados pelos conceitos explicitados por Carneiro. Uma volta triunfal aos
tempos de Dilson Funaro no Ministério da Fazenda e de João Sayad no Ministério do Planejamento do governo José Sarney foi
a leitura de todos.
Está aí, meu amigo da Folha, a verdadeira causa dos tempos difíceis que vamos viver nos próximos dias!
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 59, engenheiro e economista, é sócio e editor do site de economia e política Primeira Leitura. Foi presidente do BNDES e
ministro das Comunicações (governo FHC).
Internet: www.primeiraleitura.com.br
E-mail - lcmb2@terra.com.br
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