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'FASE DOIS'
Governo pode reduzir parcela de recursos destinada por bancos para financiar venda de imóveis e agricultura
Crédito imobiliário é arma para cortar juro
DA REPORTAGEM LOCAL
E DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo estuda a possibilidade de reduzir a parcela de recursos dos bancos que é destinada
previamente a empréstimos específicos com juros mais baixos, como o crédito agrícola ou o imobiliário, dentro da proposta de criar
condições para a queda do
"spread" bancário (diferença entre a taxa que os bancos pagam
para captar recursos e a cobrada
nos empréstimos aos clientes).
Setores da equipe econômica
também avaliam que entre as formas de diminuir esse "spread" há
a alternativa de reduzir a alíquota
do recolhimento compulsório,
que é a parcela de dinheiro que os
bancos são obrigados a recolher
no Banco Central. Uma das dificuldades com a medida é que ela é
parte do arsenal do BC para combater a inflação.
A Folha apurou que integrantes
da área econômica consideram
que essa parcela de recursos dos
bancos destinada previamente a
determinados empréstimos (chamada de exigibilidade) é um fator
importante para que outros tipos
de crédito fiquem mais caros.
Segundo disse à Folha um dos
envolvidos nos estudos em Brasília, quando se dá crédito barato
para um, aumenta o custo do empréstimo para quem não tem
acesso a esse crédito barato. Segundo ele, é uma decisão difícil,
mas é importante que as pessoas
saibam o custo que isso representa para toda a sociedade.
Por trás dessa idéia, está a intenção de fazer os bancos direcionarem para outros setores recursos
que, hoje, são usados para financiamentos habitacionais e rurais.
Com mais dinheiro disponível
para operações como crédito pessoal e financiamento de capital de
giro, as taxas, em tese, cairiam.
Destinação
Atualmente, os bancos são obrigados a destinar 65% de seus depósitos em cadernetas de poupança para financiamentos imobiliários. Esses empréstimos são
corrigidos pela TR (Taxa Referencial) mais 12% ao ano de juros
-bem abaixo dos juros de 61,1%
ao em média cobrados, segundo o
BC, nos demais empréstimos
concedidos a pessoas físicas.
A única exceção à regra se aplica
aos bancos federais, que destinam
40% dos depósitos na caderneta a
operações de crédito rural, também a juros mais baixos do que os
praticados no mercado.
Segundo dados do BC, existia
em abril passado um total de R$
376,5 bilhões em empréstimos
realizados pelos bancos. Desse total, apenas 57% representam recursos que os bancos podem emprestar livremente. O restante se
refere aos créditos direcionados e
a empréstimos que os bancos
concederam ao setor público.
Mudanças nesse perfil dependem de aprovação do CMN (Conselho Monetário Nacional).
Apesar da exigência de que 65%
dos recursos da poupança sejam
direcionados a financiamentos
habitacionais, não é isso o que
acontece na prática.
Na época do Proer (programa
de ajuda aos bancos privados), o
Tesouro transferiu de bancos saudáveis para aqueles em dificuldades uma grande quantidade de títulos públicos que são usados para financiar o saldo devedor de alguns mutuários do SFH (Sistema
Financeiro da Habitação).
Em compensação, os bancos
saudáveis foram autorizados a incluir o valor desses papéis na cota
de 65% que deveria ser destinada
ao crédito imobiliário, o que gera
uma defasagem entre o valor exigido pelas regras e o aplicado.
Custos políticos
Antes de qualquer decisão, porém, está sendo feita uma avaliação dos custos políticos, sociais e
econômicos da redução da parcela de crédito que é destinada a determinados setores.
Segundo a Folha apurou, a situação é semelhante à da reforma
da Previdência, quando a sociedade discutia os custos que as mudanças teriam para os servidores
públicos, até que o governo explicou as perdas que sofriam aqueles
que não estão no sistema previdenciário porque ficam à margem
da economia formal.
Segundo estudos, outra medida
fundamental para reduzir os
"spreads" é a transferência para o
Cade (Conselho Administrativo
de Defesa Econômica) da fiscalização da concorrência entre os
bancos, pois o órgão teria condições efetivas de ver a existência de
cartéis.
No cardápio das medidas em
estudo estão ainda aumentar a
oferta de microcrédito e fortalecer
as cooperativas de crédito.
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