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São Paulo, sábado, 07 de junho de 2003

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Para entidade, é preciso aumentar o financiamento, e não reduzir

Menos crédito seria desastre, diz CNA

CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em um contexto no qual a oferta de crédito já é escassa, a redução do percentual obrigatório que os bancos destinam para o financiamento rural pode ter um efeito desastroso.
Essa é a avaliação da CNA (Confederação Nacional da Agricultura), que, além de criticar uma eventual redução, defende que a taxa obrigatória recolhida pelos bancos seja elevada.
Hoje, os bancos são obrigados a destinar 25% -percentual fixado pelo Banco Central- sobre os depósitos à vista para financiar a agricultura. A CNA propõe que esse percentual suba para 30%.
A principal razão para isso é que mesmo essa fatia dos depósitos à vista dos bancos pode não ir para os produtores. Pela lei, os bancos têm duas opções: investir no agronegócio ou deixar o dinheiro parado sem receber remuneração nenhuma por seis meses.
"Muitos bancos preferem deixar o dinheiro retido pois argumentam que não têm vocação para o agronegócio", avalia Luciano Carvalho, do Departamento Econômico da CNA.
Outro problema é que o volume de concessão de financiamentos não tem acompanhado o ritmo da produção agrícola no país. Nas duas últimas décadas, enquanto o volume da safra de grãos mais do que dobrou, a oferta de crédito caiu 56,7%.

Menos do que em 2002
Estudo da entidade indica que o governo deveria alocar R$ 44 bilhões para financiar a safra 2003/ 4. No entanto o próximo plano de safra -a ser anunciado na semana que vem- deve destinar apenas R$ 22 bilhões, segundo previsões do mercado. Ou seja, menos até do que os R$ 22,1 bilhões concedidos pelo governo em 2002, conforme dados do BC.
"Não é realista esperar que o governo consiga disponibilizar R$ 44 bilhões, mas não se pode nem pensar em reduzir. A agricultura é o único setor que vai bem", diz Amaryllis Romano, da Tendências Consultoria.
De fato, dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostraram que o PIB da agropecuária cresceu 6,57% no primeiro trimestre deste ano no acumulado dos últimos quatro trimestres em relação ao mesmo período anterior. O PIB geral cresceu apenas 2,21%.
Uma redução no volume de depósitos à vista também é criticada por Itamar Bernal, do grupo Banespa-Santander. "A agricultura é muito sensível. Se diminuir o financiamento, há um efeito em toda a cadeia. Seria dar um tiro no próprio pé", afirma.


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