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São Paulo, sábado, 07 de junho de 2003

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OPINIÃO ECONÔMICA

Quando começa o espetáculo do crescimento?

GESNER OLIVEIRA

O s números sobre a atividade econômica estão confirmando aquilo que os trabalhadores e as empresas já sabiam: a economia parou no primeiro trimestre e deverá continuar estagnada até pelo menos a metade do ano.
Tal desempenho contrasta com as expectativas geradas durante a campanha eleitoral e aumenta a impaciência com a demora para iniciar o "espetáculo de crescimento" prometido pelo presidente da República.
As possibilidades de uma retomada em 2003 são remotas, embora o segundo semestre deva ser melhor do que o primeiro. A expansão no ano foi revista pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) de 1,8% para 1,6%, apenas ligeiramente acima do ritmo de crescimento da população (1,4%).
O resultado de 2003 deverá estar mais próximo da média do período anterior ao Plano Real, quando a economia brasileira patinou com baixo crescimento e alta inflação. Entre 1980 e 1993, a produção brasileira expandiu a 1,6% ao ano. Estará abaixo da média pós-Plano Real, de 2,8% ao ano.
Tais números dão saudades do período do pós-guerra até os anos 80, quando o ritmo de expansão atingiu cerca de 7% ao ano. E dão inveja de outros países em desenvolvimento, como a Índia e a China, que apresentaram taxas de cerca de 6% e 7,5%, respectivamente, nos últimos cinco anos.
A volta do desejado crescimento passa pela solução do problema macroeconômico, mas não pode ser reduzida a esse último. Embora sobre vontade, falta ao país uma verdadeira agenda de crescimento.
Uma revisão da pesquisa aplicada em economia brasileira sugere três áreas que mereceriam maior atenção. Em primeiro lugar, uma sinalização inequívoca de que o setor exportador terá rentabilidade esperada atraente e estável no médio prazo.
Diferentemente do que sugere a polêmica recorrente sobre o nível do dólar, importa menos o valor da moeda estrangeira e mais o conjunto de fatores que afetam a competitividade dos produtos e serviços brasileiros relativamente aos estrangeiros.
Em segundo lugar, será necessária uma estratégia arrojada de financiamento de projetos de infra-estrutura, envolvendo parcerias entre os setores público e privado, em um mundo mais avesso ao risco do que o da década passada.
Mais importante ainda, não podem pairar dúvidas quanto à continuidade das agências reguladoras, bem como a disposição do governo em fortalecê-las e assegurar-lhes autonomia. Isso daria mais segurança jurídica e consequentemente atrairia mais investimento nacional e estrangeiro.
Em terceiro lugar, pontos em que todos os instrumentos estejam voltados para a retomada da expansão.


Gesner Oliveira, 46, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), professor da FGV-EAESP, sócio-diretor da Tendências e ex-presidente do Cade.

Internet: www.gesneroliveira.com.br
E-mail - gesner@fgvsp.br


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