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OPINIÃO ECONÔMICA
Quando começa o espetáculo do crescimento?
GESNER OLIVEIRA
O s números sobre a atividade econômica estão confirmando aquilo que os trabalhadores e as empresas já sabiam: a economia parou no primeiro trimestre e deverá continuar estagnada
até pelo menos a metade do ano.
Tal desempenho contrasta com
as expectativas geradas durante a
campanha eleitoral e aumenta a
impaciência com a demora para
iniciar o "espetáculo de crescimento" prometido pelo presidente da República.
As possibilidades de uma retomada em 2003 são remotas, embora o segundo semestre deva ser
melhor do que o primeiro. A expansão no ano foi revista pelo
Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) de 1,8% para
1,6%, apenas ligeiramente acima
do ritmo de crescimento da população (1,4%).
O resultado de 2003 deverá estar mais próximo da média do
período anterior ao Plano Real,
quando a economia brasileira
patinou com baixo crescimento e
alta inflação. Entre 1980 e 1993, a
produção brasileira expandiu a
1,6% ao ano. Estará abaixo da
média pós-Plano Real, de 2,8% ao
ano.
Tais números dão saudades do
período do pós-guerra até os anos
80, quando o ritmo de expansão
atingiu cerca de 7% ao ano. E dão
inveja de outros países em desenvolvimento, como a Índia e a China, que apresentaram taxas de
cerca de 6% e 7,5%, respectivamente, nos últimos cinco anos.
A volta do desejado crescimento
passa pela solução do problema
macroeconômico, mas não pode
ser reduzida a esse último. Embora sobre vontade, falta ao país
uma verdadeira agenda de crescimento.
Uma revisão da pesquisa aplicada em economia brasileira sugere três áreas que mereceriam
maior atenção. Em primeiro lugar, uma sinalização inequívoca
de que o setor exportador terá
rentabilidade esperada atraente e
estável no médio prazo.
Diferentemente do que sugere a
polêmica recorrente sobre o nível
do dólar, importa menos o valor
da moeda estrangeira e mais o
conjunto de fatores que afetam a
competitividade dos produtos e
serviços brasileiros relativamente
aos estrangeiros.
Em segundo lugar, será necessária uma estratégia arrojada de financiamento de projetos de infra-estrutura, envolvendo parcerias
entre os setores público e privado,
em um mundo mais avesso ao risco do que o da década passada.
Mais importante ainda, não podem pairar dúvidas quanto à
continuidade das agências reguladoras, bem como a disposição
do governo em fortalecê-las e assegurar-lhes autonomia. Isso daria mais segurança jurídica e consequentemente atrairia mais investimento nacional e estrangeiro.
Em terceiro lugar, pontos em
que todos os instrumentos estejam voltados para a retomada da
expansão.
Gesner Oliveira, 46, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia
(Berkeley), professor da FGV-EAESP, sócio-diretor da Tendências e ex-presidente do Cade.
Internet: www.gesneroliveira.com.br
E-mail - gesner@fgvsp.br
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