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São Paulo, sábado, 07 de junho de 2003

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Se preços estiverem sendo corrigidos pela taxa passada, queda demorará

Redução do juro depende da inflação futura, diz BC

MARIA LUIZA ABBOTT
ENVIADA ESPECIAL A SEVILHA

O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central vai usar o chamado coeficiente de persistência da inflação -valor numérico que mede se a inércia inflacionária está sendo quebrada- como um dos elementos para avaliar se reduz ou não a taxa básica de juros (a Selic), atualmente em 26,5% ao ano.
Segundo o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, esse coeficiente tem uma certa defasagem, mas antes da próxima reunião do Copom (nos dias 17 e 18 deste mês) já poderá dar indicações se os formadores de preços ainda estão olhando para a inflação passada para decidir seus reajustes -a chamada inércia- ou se já olham para o futuro.
"Existe hoje uma discussão sobre até que ponto as pessoas estão olhando a inflação passada ou a inflação futura, e isso vai decidir o futuro da inflação e da política monetária", disse Meirelles, que está em Sevilha participando da 30ª Jornada de Mercados Financeiros, seminário organizado pela consultoria Intermoney e pelo Banco de España.
Cauteloso com o movimento dos preços no país, ele informou que os juros só vão cair quando a tendência da inflação atual coincidir com a trajetória prevista na carta aberta que o Banco Central mandou ao Ministério da Fazenda em janeiro.
Nessa carta, o BC ajustou as metas para este ano e para 2004. O documento trabalha com a meta de 5,5% para 2004, mas o número final só será fechado na reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) no final deste mês.
"Os juros podem baixar quando [a tendência da inflação] chegar nessa trajetória de forma consistente e houver uma previsão do Copom de que realmente ela está firme na trajetória", disse. "O risco é achar que um mês especificamente já definiu que [a inflação] está na trajetória [de queda]. Não necessariamente."

Avaliação ampla
O presidente do BC explicou que o Copom tem um modelo abrangente para avaliar a inflação, que inclui o índice de preços correntes, a expectativa de inflação, a taxa de câmbio e o coeficiente de persistência da inflação (que em inglês se chama "backward looking").
Por isso, segundo ele, não é possível saber agora qual será a decisão do BC na próxima reunião. "Não se pode anunciar com antecedência, simplesmente porque não sabemos. É uma análise detalhada de muitos fatores e é por isso que a reunião do Copom demora dois dias", disse.
Ele disse ter a expectativa de que cada vez mais os formadores de preços "deixem de olhar para trás e comecem a olhar para a frente". A diferença é enorme, pois se as pessoas olharem para trás, verão uma inflação acumulada de 17%, mas se olharem para a frente a variação projetada é de 8% no ano. Essa mudança acontece quando esses agentes econômicos começam a apostar que a política monetária está funcionando, o que reforça a própria eficácia da política, segundo Meirelles.
"Até agora, o que temos são dados pontuais, como por exemplo, o de que as tabelas de preços ainda têm reajustes com base na inflação passada, mas as pessoas estão dando descontos, porque não estão conseguindo repassar os reajustes", observou.
Para o presidente do Banco Central, ainda é muito cedo para fazer qualquer revisão do crescimento da economia neste ano, e o governo trabalha ainda com a taxa de 2%.
Ele disse que o impacto dos juros sobre o nível de atividade em 2003 ainda é desconhecido. Neste momento, segundo ele, não é possível saber quais serão os juros reais (descontada a inflação) em 12 meses.

Mentiras, não
Meirelles negou que tenha dito que existe "muita mentira" sobre os juros na imprensa brasileira, durante um seminário do International Institute of Finance, em Berlim, na quinta-feira.
Segundo ele, durante a palestra no seminário, disse que considerava "normal" o ruído provocado pela ansiedade da população, dos agentes econômicos e dos políticos em relação aos juros. "Quando a inflação começa a dar sinais de reversão, em todos os países aumenta o ruído, e começa a se buscar respostas sobre a política monetária futura do Banco Central", disse.
Meirelles se encontrou com administradores de grandes fundos de investimentos, banqueiros e analistas da área financeira em Berlim, em Londres e em Sevilha, e em todas as reuniões, segundo ele, recebeu informações sobre o aumento do interesse em aplicações no Brasil.
"Nas conversas que tive, todos confirmam o aumento do fluxo de recursos para fundos de investimentos em [países] emergentes, especialmente pelo Brasil, onde há também um movimento de demanda por aplicações de prazo mais longo. Isso nos dá a expectativa de um fluxo continuado de recursos para o país nos próximos meses", disse.


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