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Se preços estiverem sendo corrigidos pela taxa passada, queda demorará
Redução do juro depende da inflação futura, diz BC
MARIA LUIZA ABBOTT
ENVIADA ESPECIAL A SEVILHA
O Copom (Comitê de Política
Monetária) do Banco Central vai
usar o chamado coeficiente de
persistência da inflação -valor
numérico que mede se a inércia
inflacionária está sendo quebrada- como um dos elementos para avaliar se reduz ou não a taxa
básica de juros (a Selic), atualmente em 26,5% ao ano.
Segundo o presidente do Banco
Central, Henrique Meirelles, esse
coeficiente tem uma certa defasagem, mas antes da próxima reunião do Copom (nos dias 17 e 18
deste mês) já poderá dar indicações se os formadores de preços
ainda estão olhando para a inflação passada para decidir seus reajustes -a chamada inércia- ou
se já olham para o futuro.
"Existe hoje uma discussão sobre até que ponto as pessoas estão
olhando a inflação passada ou a
inflação futura, e isso vai decidir o
futuro da inflação e da política
monetária", disse Meirelles, que
está em Sevilha participando da
30ª Jornada de Mercados Financeiros, seminário organizado pela
consultoria Intermoney e pelo
Banco de España.
Cauteloso com o movimento
dos preços no país, ele informou
que os juros só vão cair quando a
tendência da inflação atual coincidir com a trajetória prevista na
carta aberta que o Banco Central
mandou ao Ministério da Fazenda em janeiro.
Nessa carta, o BC ajustou as metas para este ano e para 2004. O
documento trabalha com a meta
de 5,5% para 2004, mas o número
final só será fechado na reunião
do Conselho Monetário Nacional
(CMN) no final deste mês.
"Os juros podem baixar quando
[a tendência da inflação] chegar
nessa trajetória de forma consistente e houver uma previsão do
Copom de que realmente ela está
firme na trajetória", disse. "O risco é achar que um mês especificamente já definiu que [a inflação]
está na trajetória [de queda]. Não
necessariamente."
Avaliação ampla
O presidente do BC explicou
que o Copom tem um modelo
abrangente para avaliar a inflação, que inclui o índice de preços
correntes, a expectativa de inflação, a taxa de câmbio e o coeficiente de persistência da inflação
(que em inglês se chama "backward looking").
Por isso, segundo ele, não é possível saber agora qual será a decisão do BC na próxima reunião.
"Não se pode anunciar com antecedência, simplesmente porque
não sabemos. É uma análise detalhada de muitos fatores e é por isso que a reunião do Copom demora dois dias", disse.
Ele disse ter a expectativa de que
cada vez mais os formadores de
preços "deixem de olhar para trás
e comecem a olhar para a frente".
A diferença é enorme, pois se as
pessoas olharem para trás, verão
uma inflação acumulada de 17%,
mas se olharem para a frente a variação projetada é de 8% no ano.
Essa mudança acontece quando
esses agentes econômicos começam a apostar que a política monetária está funcionando, o que
reforça a própria eficácia da política, segundo Meirelles.
"Até agora, o que temos são dados pontuais, como por exemplo,
o de que as tabelas de preços ainda têm reajustes com base na inflação passada, mas as pessoas estão dando descontos, porque não
estão conseguindo repassar os
reajustes", observou.
Para o presidente do Banco
Central, ainda é muito cedo para
fazer qualquer revisão do crescimento da economia neste ano, e o
governo trabalha ainda com a taxa de 2%.
Ele disse que o impacto dos juros sobre o nível de atividade em
2003 ainda é desconhecido. Neste
momento, segundo ele, não é
possível saber quais serão os juros
reais (descontada a inflação) em
12 meses.
Mentiras, não
Meirelles negou que tenha dito
que existe "muita mentira" sobre
os juros na imprensa brasileira,
durante um seminário do International Institute of Finance, em
Berlim, na quinta-feira.
Segundo ele, durante a palestra
no seminário, disse que considerava "normal" o ruído provocado
pela ansiedade da população, dos
agentes econômicos e dos políticos em relação aos juros. "Quando a inflação começa a dar sinais
de reversão, em todos os países
aumenta o ruído, e começa a se
buscar respostas sobre a política
monetária futura do Banco Central", disse.
Meirelles se encontrou com administradores de grandes fundos
de investimentos, banqueiros e
analistas da área financeira em
Berlim, em Londres e em Sevilha,
e em todas as reuniões, segundo
ele, recebeu informações sobre o
aumento do interesse em aplicações no Brasil.
"Nas conversas que tive, todos
confirmam o aumento do fluxo
de recursos para fundos de investimentos em [países] emergentes,
especialmente pelo Brasil, onde
há também um movimento de
demanda por aplicações de prazo
mais longo. Isso nos dá a expectativa de um fluxo continuado de
recursos para o país nos próximos meses", disse.
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