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Produção da indústria fica estagnada
Para o IBGE, apesar do resultado sem alteração em abril, a estabilização da atividade do setor se deu em patamar alto
Câmbio já afeta produção
da indústria, favorecendo
as importações, e efeito
se sobrepõe à influência
positiva da queda do juro
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Nem a taxa de juro mais baixa serviu de estímulo à indústria, que ficou estagnada em
abril, quando a produção do setor ficou estável (0%) na comparação livre de influências sazonais com março, segundo o
IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística). De fevereiro para março, a variação
fora de -0,3%.
Na média trimestral encerrada em abril, a indústria também apresentou uma tendência próxima à estabilidade, com
incremento de apenas 0,2%.
Em relação a abril de 2005,
houve retração de 1,9%, explicada parcialmente pelo fato de
neste ano o número de dias
úteis ter sido menor do que em
abril do ano passado. Foi o pior
resultado desde agosto de 2003
nessa base de comparação.
Para o IBGE, a indústria estabilizou a sua produção, mas
ainda num patamar alto. "A indústria ainda mostra ritmo. Está num patamar elevado, mantendo esse ritmo", disse Isabela
Nunes, gerente da Pesquisa Industrial Mensal do IBGE.
As perspectivas, porém, são
positivas, de acordo com Nunes. "É um ano de eleição, de
investimento do governo. E o
consumo das famílias tem crescido por conta do aumento da
massa salarial e da redução da
inflação. A manutenção do crédito também é importante para
o consumo das famílias."
Já no primeiro quadrimestre
de 2006, a indústria cresceu
2,9% quando comparada com
igual período de 2005. No ano
passado, essa mesma variação
havia sido de 4,5% em comparação com 2004.
No mês passado, o IBGE divulgou que a indústria que integra o cálculo do PIB havia subido 1,7% no primeiro trimestre
em relação ao trimestre imediatamente anterior, puxando
para cima o desempenho da
economia. Pelos dados da Pesquisa Industrial Mensal, no entanto, a produção da indústria
teve alta menor do que a indústria do PIB: 1,2% ante o último
trimestre de 2005.
A diferença ocorre porque a
indústria do PIB incorpora
mais atividades, como construção civil (alta de 7%) e energia
elétrica, que não estão no cálculo do Pesquisa Industrial
Mensal.
Câmbio desfavorável
O fraco desempenho de abril,
dizem especialistas ouvidos pela Folha, é resultado do câmbio, que promove a importação
de vários itens que antes eram
produzidos localmente.
"O câmbio já está afetando a
produção, especialmente de
bens de capital. Há claramente
uma substituição pelo produto
importado. Esse processo já estava ocorrendo, mas se acentuou em abril, quando as importações foram bem mais fortes. O câmbio se sobrepõe ao
afeito positivo da queda dos juros", avalia Solange Srour, economista-chefe da administradora de recursos Mellon.
Estêvão Kopschitz, economista do Ipea (Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada),
concorda. Diz que é difícil
mensurar o impacto, mas que o
câmbio desfavorável e o aumento das importações podem
sugerir hipoteticamente uma
substituição da produção doméstica por itens fabricados no
exterior.
Na comparação com abril de
2005 (retração de 1,9%), dizem
os especialistas, o calendário
foi determinante, pois o total
de dias úteis do mês baixou de
20 em 2005 para 18 em 2006.
De março para abril, a produção ficou estagnada em razão
da estabilidade da categoria de
bens de capital e da ligeira queda (0,1%) da de bens intermediários, que responde por mais
de 55% da indústria. Tiveram
desempenhos positivos, por
sua vez, bens não-duráveis
(1,3%) e duráveis (veículos e
eletrodomésticos), cuja produção cresceu 1,7% embalada pelas vendas de TV que tradicionalmente sobem em anos de
Copa do Mundo.
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