São Paulo, quarta-feira, 07 de junho de 2006

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Produção da indústria fica estagnada

Para o IBGE, apesar do resultado sem alteração em abril, a estabilização da atividade do setor se deu em patamar alto

Câmbio já afeta produção da indústria, favorecendo as importações, e efeito se sobrepõe à influência positiva da queda do juro


PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Nem a taxa de juro mais baixa serviu de estímulo à indústria, que ficou estagnada em abril, quando a produção do setor ficou estável (0%) na comparação livre de influências sazonais com março, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). De fevereiro para março, a variação fora de -0,3%.
Na média trimestral encerrada em abril, a indústria também apresentou uma tendência próxima à estabilidade, com incremento de apenas 0,2%. Em relação a abril de 2005, houve retração de 1,9%, explicada parcialmente pelo fato de neste ano o número de dias úteis ter sido menor do que em abril do ano passado. Foi o pior resultado desde agosto de 2003 nessa base de comparação.
Para o IBGE, a indústria estabilizou a sua produção, mas ainda num patamar alto. "A indústria ainda mostra ritmo. Está num patamar elevado, mantendo esse ritmo", disse Isabela Nunes, gerente da Pesquisa Industrial Mensal do IBGE.
As perspectivas, porém, são positivas, de acordo com Nunes. "É um ano de eleição, de investimento do governo. E o consumo das famílias tem crescido por conta do aumento da massa salarial e da redução da inflação. A manutenção do crédito também é importante para o consumo das famílias."
Já no primeiro quadrimestre de 2006, a indústria cresceu 2,9% quando comparada com igual período de 2005. No ano passado, essa mesma variação havia sido de 4,5% em comparação com 2004.
No mês passado, o IBGE divulgou que a indústria que integra o cálculo do PIB havia subido 1,7% no primeiro trimestre em relação ao trimestre imediatamente anterior, puxando para cima o desempenho da economia. Pelos dados da Pesquisa Industrial Mensal, no entanto, a produção da indústria teve alta menor do que a indústria do PIB: 1,2% ante o último trimestre de 2005.
A diferença ocorre porque a indústria do PIB incorpora mais atividades, como construção civil (alta de 7%) e energia elétrica, que não estão no cálculo do Pesquisa Industrial Mensal.

Câmbio desfavorável
O fraco desempenho de abril, dizem especialistas ouvidos pela Folha, é resultado do câmbio, que promove a importação de vários itens que antes eram produzidos localmente.
"O câmbio já está afetando a produção, especialmente de bens de capital. Há claramente uma substituição pelo produto importado. Esse processo já estava ocorrendo, mas se acentuou em abril, quando as importações foram bem mais fortes. O câmbio se sobrepõe ao afeito positivo da queda dos juros", avalia Solange Srour, economista-chefe da administradora de recursos Mellon.
Estêvão Kopschitz, economista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), concorda. Diz que é difícil mensurar o impacto, mas que o câmbio desfavorável e o aumento das importações podem sugerir hipoteticamente uma substituição da produção doméstica por itens fabricados no exterior.
Na comparação com abril de 2005 (retração de 1,9%), dizem os especialistas, o calendário foi determinante, pois o total de dias úteis do mês baixou de 20 em 2005 para 18 em 2006.
De março para abril, a produção ficou estagnada em razão da estabilidade da categoria de bens de capital e da ligeira queda (0,1%) da de bens intermediários, que responde por mais de 55% da indústria. Tiveram desempenhos positivos, por sua vez, bens não-duráveis (1,3%) e duráveis (veículos e eletrodomésticos), cuja produção cresceu 1,7% embalada pelas vendas de TV que tradicionalmente sobem em anos de Copa do Mundo.


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