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ALTA VOLTAGEM
Aneel nega cobrança de encargo de consumidor livre
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Aneel (Agência Nacional
de Energia Elétrica) negou
ontem pedido das distribuidoras de energia e decidiu
que os grandes clientes enquadrados como consumidores livres não precisam pagar a RTE (Recomposição
Tarifária Extraordinária),
um encargo criado após o racionamento de 2001 para
compensar perdas financeiras das distribuidoras e geradoras durante o apagão.
A RTE representa 7,9% do
valor das tarifas para a indústria e 2,9%, para os demais
consumidores. De caráter
temporário e emergencial,
tem vigência pré-definida
para cada distribuidora -da
Eletropaulo é de 5 anos e 10
meses, da Light, de 6 anos e 2
meses, por exemplo.
Ao final deste prazo, as
operadoras cessam a cobrança e, em tese, teriam recuperado os prejuízos causados
pelas medidas de exceção
aplicadas pelo governo durante o período de racionamento. Algumas empresas
alegam, entretanto, que não
conseguirão fechar suas contas.
O que a Abradee (Associação Brasileira de Distribuidoras de Energia Elétrica)
-que representa 64 companhias- questionou na Aneel
foi a isenção do pagamento
da RTE pelos consumidores
que optaram por abandonar
o modelo comum de tarifa e
hoje compram direto das geradoras de energia.
Para o cliente comum, a
entrada desses grandes
usuários de energia na conta
da RTE resultaria em economia, segundo as distribuidoras. Isso porque a RTE não
tem limitação apenas de
tempo, mas também de valor: uma vez atingido o total
de prejuízo durante o apagão, termina a cobrança.
Logo, se grandes consumidores contribuíssem, todos
deixariam de ser cobrados
mais cedo que o previsto.
"Parecia uma saída de bom
senso, mas não cabe ao regulador formular leis, fazer
Justiça com as próprias
mãos. Isso está nas mãos do
Congresso Nacional", disse o
presidente da Aneel, Jerson
Kelman.
Recurso
A Abradee prometeu recorrer administrativamente
da decisão da Aneel e analisará se cabe questionamento
judicial, caso perca novamente. "Muitas distribuidoras não receberão o que perderam durante o racionamento. Provisionamos de R$
900 milhões a R$ 1 bilhão
nos balanços já prevendo isso. Se desde o princípio os
consumidores livres estivesse pagando não haveria esse
valor", disse Luis Carlos Guimarães, presidente da associação das distribuidoras.
Poupados do aumento em
suas contas, os consumidores livres classificaram a decisão como "histórica". "A
Aneel cumpriu exatamente o
papel para o qual foi criada:
fazer cumprir a legislação do
setor elétrico", disse Paulo
Pedrosa, presidente Abraceel (Associação Brasileira
dos Agentes Comercializadores de Energia Elétrica).
Para Lindolfo Paixão, presidente do conselho de administração da Anace (Associação Nacional dos Consumidores de Energia), "a Aneel
deve ter sofrido pressões,
mas tomou a decisão certa".
A julgar pelo entendimento de Edvaldo Alves de Santana, diretor da Aneel, as distribuidoras não devem nutrir esperanças sobre o recurso.
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