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Wal-Mart usa a crise para ampliar fatia de mercado
No primeiro trimestre, empresa manteve ganhos no mesmo patamar de 2008
Varejista, que criou 63 mil vagas em 2008, é criticada por baixos salários; especialista diz que isso ocorre mais por questão de poder que de lucro
TATIANA RESENDE
ENVIADA ESPECIAL AO ARKANSAS (EUA)
Nunca houve uma época melhor para economizar. Adaptando seu slogan aos tempos
atuais, quando os consumidores passaram a analisar os gastos com mais parcimônia, o
Wal-Mart tenta aproveitar a
crise para conquistar ainda
mais espaço no mercado varejista, no qual já é líder mundial.
No encontro anual que aconteceu na semana passada na sede, no Arkansas (EUA), essa era
a mensagem que a companhia
queria incutir em acionistas e
funcionários. No primeiro trimestre, o Wal-Mart repetiu o
lucro obtido no mesmo período
do ano passado (US$ 3 bilhões),
e o desafio é manter a equipe
motivada e convencer os clientes de que estão fazendo sempre o melhor negócio.
"Esses são os tempos para os
quais Sam Walton construiu
esta companhia", disse Mike
Duke, presidente do Wal-Mart
desde fevereiro, a mais de 16
mil pessoas presentes na reunião com acionistas na Bud
Walton Arena, na Universidade
do Arkansas. O evento, que
mescla shows e informações financeiras da empresa, contou
com o ator Ben Stiller como
mestre de cerimônias e o vencedor do "American Idol" Kris
Allen como atração musical.
A palavra de ordem foi "oportunidade". "Nossos clientes vão
permanecer conosco quando a
economia se recuperar e tiverem mais dinheiro para gastar.
Estamos construindo lealdade
de longo prazo", disse Duke.
No encontro com empregados de todo o mundo, muitos da
base da pirâmide, a ideia era
mostrar o quanto é importante
ter um bom desempenho para
aumentar as vendas e ser promovido. "Por que escolher não
ser especial?", questionou Lee
Scott, que comandou a empresa até janeiro, no evento que
pela primeira vez foi aberto à
imprensa e no qual são mostradas histórias de ascensão.
Na reunião com acionistas,
para a qual os funcionários
também foram convidados, o
recado foi dado pelo ex-jogador
Michael Jordan, recrutado pelo
Wal-Mart para lembrar o quanto é importante trabalhar em
equipe para ter sucesso.
No Brasil, onde ocupa a terceira posição no ranking do varejo, a meta é investir R$ 1,6 bilhão neste ano, o que inclui a
abertura de 90 lojas -para se
somar às mais de 340 que já
existem-, com expansão focada nas bandeiras Todo Dia e
Maxxi, direcionadas ao público
de baixa renda. No primeiro trimestre, ante igual período de
2008, a companhia teve expansão de 7,6% nas vendas -acima
da média de 6,8% nas operações internacionais.
O presidente do Wal-Mart
Brasil, Héctor Núñez, destacou
o bom resultado do comércio
eletrônico, iniciado em outubro. "Estamos mais de 18 meses
à frente do plano", disse, referindo-se às metas de lucro do
site, mas sem revelar números.
Ao todo, as operações internacionais englobam 15 países,
incluindo, desde janeiro, o Chile, com a compra da D&S,
maior varejista de alimentos do
país. Em 2008, as vendas fora
dos EUA representaram cerca
de 25% do faturamento.
Doug McMillon, presidente
da divisão internacional, desconversou sobre a possibilidade de novas aquisições no Brasil. "Nosso alvo é ser o melhor",
resumiu, respondendo à pergunta sobre a busca pela liderança no mercado nacional.
Para o consultor especializado em varejo Alberto Serrentino, da GS&MD, "o crescimento
consistente da operação no
país vem permitindo uma
maior proximidade com o posicionamento e as políticas da
empresa nos EUA". Presidente
das operações na América Latina a partir de julho, Vicente
Trius diz que, "do ponto de vista de crescimento, o Brasil é o
que oferece as melhores oportunidades de futuro" na região.
Alvo constante de críticas
dos sindicatos de trabalhadores
devido aos salários e benefícios
oferecidos aos funcionários, a
companhia anunciou que espera criar 22 mil vagas neste ano
nos EUA, que registra a maior
taxa de desemprego (9,4%)
desde agosto de 1983. Em 2008,
foram 63 mil novos postos (33
mil no mercado americano).
"A hostilidade do Wal-Mart a
uma força de trabalho mais
bem paga é mais uma questão
de poder do que de preço e lucro", diz Nelson Lichtenstein,
professor de história da Universidade da Califórnia (EUA),
que adiantou à Folha trechos
do livro que será lançado em
julho: "The Retail Revolution:
How Wal-Mart Created a Brave New World of Business" (A
revolução no varejo: como o
Wal-Mart criou um admirável
mundo novo nos negócios).
"Salários altos reduzem a rotatividade de pessoal e despertam as expectativas dos funcionários, transformando a cultura interna do local de trabalho.
Salários decentes levam a carreiras reais e à expectativa por
um tratamento justo", avalia.
Ele mesmo admite, no entanto, que a "culpa" pela agressiva política em busca do menor preço não é só da gigante
varejista. "Se os americanos
não fossem tão dedicados a
seus importados baratos, tão
egoístas em adquirir coisas em
lojas que exploram trabalhadores e arruinam a vizinhança,
estaríamos dispostos a pagar o
preço ou mudar nosso estilo de
vida para reformar o sistema."
A jornalista TATIANA RESENDE
viajou a convite do Wal-Mart
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