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MARCHA LENTA
Recuo na produção por dois trimestres indica retração "técnica", diz instituto, que não descarta queda maior do PIB
Indústria está em recessão, afirma IBGE
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
O IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística) afirma
que a indústria brasileira está, tecnicamente, em recessão, após
dois trimestres consecutivos de
queda na produção. O desempenho desfavorável do setor, diz o
instituto, pode indicar que o país
seguiu rumo igual no período.
Nos seis primeiros meses do governo Lula, a indústria ficou estagnada, com crescimento de
apenas 0,1% ante igual período de
2002. No primeiro trimestre, houve uma retração de 1% na comparação com os três meses anteriores. No segundo trimestre, a queda foi maior: 2,6%.
Questionado se a indústria está
em recessão, Silvio Sales, chefe da
Coordenação de Indústria do IBGE, respondeu: "Tecnicamente, é
definido assim [dois trimestres de
queda]. Isso significa que conceitualmente a indústria está em recessão", disse.
Para o economista, os dados negativos da indústria podem resultar, apesar das diferenças metodológicas, numa retração do PIB
(Produto Interno Bruto) industrial, que inclui ainda a construção civil e os serviços de utilidade
pública (basicamente, energia).
"É a indústria [pesquisada pela
Pesquisa Industrial Mensal do IBGE, divulgada ontem] que dá o
tom, em maior escala, do PIB industrial, e em menor, do PIB como um todo", afirmou.
A última vez que a indústria entrou tecnicamente em recessão foi
em 2001. Naquele ano, em meio
ao racionamento de energia, a
produção do setor caiu no segundo, terceiro e quarto trimestres.
O movimento de retração se intensificou em junho deste ano,
quando a produção caiu 2,6% na
comparação dessazonalizada
com o mês anterior.
O resultado superou quase todas as estimativas de bancos e
consultorias, que previam uma
queda em torno de 1%. Em maio,
a taxa foi negativa em 0,1%. O dado de junho foi ruim, mas não o
pior de 2003. Em março, a produção havia recuado 3,3%.
Em relação ao mesmo período
de 2002, a retração, em junho, foi
um pouco menor: 2,1% -nesse
tipo de comparação, a taxa de
maio ficou em -0,4%.
Segundo o IBGE, a queda do nível de atividade no semestre foi
generalizada, atingindo quase todas as categorias de uso (bens duráveis, não-duráveis e de capital) e
setores.
Para Sales, a deterioração da demanda interna, sob impacto do
aumento dos juros, foi o principal
motivo para a menor produção
da indústria. Esse efeito foi mais
sentido nos ramos que abastecem
prioritariamente o mercado doméstico, como automóveis e vestuário, por exemplo.
Um outro motivo para o fraco
desempenho, disse ele, é a forte
acumulação de estoques em muito setores, o que retarda uma retomada da produção. Citou o caso
da indústria automobilística.
Com as retrações dos últimos
meses, segundo Sales, a indústria
está produzindo no mesmo nível
(o chamado patamar de produção) de dezembro de 2001. É como se ela tivesse ficado parada
nesse período, descontando as oscilações para cima e para baixo
que ocorreram.
De todos os setores, é a indústria
que dá a tônica do PIB, segundo
economistas. É que os demais
-serviços e agropecuária- têm
sempre um desempenho mais estável, com variações discretas de
um período para o outro.
Além disso, a indústria tem encadeamentos com os outros segmentos, usando insumos da agropecuária e contratando empresas
do setor serviços.
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