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São Paulo, quinta-feira, 07 de agosto de 2003

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MARCHA LENTA

Recuo na produção por dois trimestres indica retração "técnica", diz instituto, que não descarta queda maior do PIB

Indústria está em recessão, afirma IBGE

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) afirma que a indústria brasileira está, tecnicamente, em recessão, após dois trimestres consecutivos de queda na produção. O desempenho desfavorável do setor, diz o instituto, pode indicar que o país seguiu rumo igual no período.
Nos seis primeiros meses do governo Lula, a indústria ficou estagnada, com crescimento de apenas 0,1% ante igual período de 2002. No primeiro trimestre, houve uma retração de 1% na comparação com os três meses anteriores. No segundo trimestre, a queda foi maior: 2,6%.
Questionado se a indústria está em recessão, Silvio Sales, chefe da Coordenação de Indústria do IBGE, respondeu: "Tecnicamente, é definido assim [dois trimestres de queda]. Isso significa que conceitualmente a indústria está em recessão", disse.
Para o economista, os dados negativos da indústria podem resultar, apesar das diferenças metodológicas, numa retração do PIB (Produto Interno Bruto) industrial, que inclui ainda a construção civil e os serviços de utilidade pública (basicamente, energia).
"É a indústria [pesquisada pela Pesquisa Industrial Mensal do IBGE, divulgada ontem] que dá o tom, em maior escala, do PIB industrial, e em menor, do PIB como um todo", afirmou.
A última vez que a indústria entrou tecnicamente em recessão foi em 2001. Naquele ano, em meio ao racionamento de energia, a produção do setor caiu no segundo, terceiro e quarto trimestres.
O movimento de retração se intensificou em junho deste ano, quando a produção caiu 2,6% na comparação dessazonalizada com o mês anterior.
O resultado superou quase todas as estimativas de bancos e consultorias, que previam uma queda em torno de 1%. Em maio, a taxa foi negativa em 0,1%. O dado de junho foi ruim, mas não o pior de 2003. Em março, a produção havia recuado 3,3%.
Em relação ao mesmo período de 2002, a retração, em junho, foi um pouco menor: 2,1% -nesse tipo de comparação, a taxa de maio ficou em -0,4%.
Segundo o IBGE, a queda do nível de atividade no semestre foi generalizada, atingindo quase todas as categorias de uso (bens duráveis, não-duráveis e de capital) e setores.
Para Sales, a deterioração da demanda interna, sob impacto do aumento dos juros, foi o principal motivo para a menor produção da indústria. Esse efeito foi mais sentido nos ramos que abastecem prioritariamente o mercado doméstico, como automóveis e vestuário, por exemplo.
Um outro motivo para o fraco desempenho, disse ele, é a forte acumulação de estoques em muito setores, o que retarda uma retomada da produção. Citou o caso da indústria automobilística.
Com as retrações dos últimos meses, segundo Sales, a indústria está produzindo no mesmo nível (o chamado patamar de produção) de dezembro de 2001. É como se ela tivesse ficado parada nesse período, descontando as oscilações para cima e para baixo que ocorreram.
De todos os setores, é a indústria que dá a tônica do PIB, segundo economistas. É que os demais -serviços e agropecuária- têm sempre um desempenho mais estável, com variações discretas de um período para o outro.
Além disso, a indústria tem encadeamentos com os outros segmentos, usando insumos da agropecuária e contratando empresas do setor serviços.


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