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São Paulo, quinta-feira, 07 de agosto de 2003

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FINANÇAS

Atualmente, há "sobra" de dinheiro no mercado

Compulsório mais baixo não deve elevar total de crédito, diz analista

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A redução da alíquota do compulsório, se confirmada, pode ter efeito contrário ao desejado pelo Banco Central, pelo menos num primeiro momento.
No lugar de aumentar o repasse para o crédito, as instituições financeiras poderão aplicar mais em dólar, o que pressionaria para cima a cotação da moeda, segundo avaliação feita por economistas ouvidos pela Folha.
Hoje há no mercado financeiro "sobra" considerável de dinheiro, ou liquidez. As instituições deixam em seu caixa diariamente certa quantia de recursos. Parte é usada para cobrir necessidades operacionais, como saques feitos por clientes.
Mas, nas últimas semanas, quantia significativa dessa "sobra" poderia ser direcionada também para outras finalidades, como no repasse de crédito ou na aplicação em títulos públicos. Porém isso não tem ocorrido.

Enxugamento
No mês de julho, o Banco Central "retirou" do mercado cerca de R$ 30 bilhões por semana por meio das chamadas operações compromissadas.
São dois tipos de operação. Na maior delas, realizada sempre às quartas-feiras, o Banco Central toma emprestado o dinheiro dos bancos com o compromisso de desfazer a transação duas semanas depois. Nessa operação, o Banco Central remunera o dinheiro do emprestador à taxa básica de juros da economia (Selic, hoje em 24,5% ao ano).
No dia 16 do mês passado, por exemplo, o Banco Central recolheu R$ 28,9 bilhões por meio desse tipo de operação.
A outra modalidade é conhecida como nivelamento da liquidez bancária. Ao final do dia, o Banco Central toma emprestado ou empresta aos bancos quando identifica sobra ou falta de recursos no mercado. Em julho, a sobra foi considerável quase todos os dias. Nessa operação, o BC devolve o dinheiro dois dias depois.
Para não incentivar os bancos a recorrer a esse segundo mecanismo, o Banco Central remunera o capital das instituições a uma taxa mais baixa do que a Selic. Mesmo assim, na semana do dia 14 ao dia 18 do mês passado, por exemplo, o Banco Central recolheu R$ 15,862 bilhões por esse instrumento pagando taxa 0,3 ponto percentual menor do que a Selic.
Segundo analistas ouvidos pela Folha, o fraco desempenho da economia não tem incentivado os bancos a aumentar a oferta de financiamentos e empréstimos, devido ao receio de inadimplência.
Assim, dizem os especialistas, as instituições financeiras não teriam estímulo para elevar a concessão de crédito agora. Do contrário, a liquidez do mercado estaria menor.
No começo do mês passado, o Banco Central voltou atrás em medidas que haviam sido tomadas em outubro de 2002 para reduzir a disponibilidade de recursos dos bancos para operar com dólar. Na prática, o Banco Central permitiu no mês passado que os bancos passassem a investir em câmbio o dobro do que operavam antes.
Assim, com o corte do compulsório, os bancos teriam mais recursos disponíveis para operar com câmbio. Em um cenário de esperada queda da taxa Selic, o dólar se torna atrativo.
(LEONARDO SOUZA)


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