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Braskem critica "estatismo" no setor petroquímico
Presidente da empresa vê ato "intempestivo" da Petrobras na compra da rival Suzano
Sócia da estatal em outros empreendimentos, Braskem afirma que governo tinha
se comprometido a não competir com setor privado
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
Presidente da Braskem,
maior empresa petroquímica
da América Latina, José Carlos
Grubisich afirma que a compra
da Suzano Petroquímica pela
Petrobras foi um movimento
"intempestivo" da estatal, que
fugiu ao script desenhado pelo
próprio governo para o setor.
"O governo tinha se comprometido a dar à iniciativa privada a liderança do setor com a
contrapartida de que a Petrobras seria um agente de motivação e de estímulo para o desenvolvimento da petroquímica, e não um concorrente das
empresas privadas", afirmou
Grubisich à Folha. Com a compra da Suzano, anunciada na
sexta, a Petrobras, que é sócia
da Braskem em outras empresas, passa a ser a segunda indústria petroquímica do país.
FOLHA - O sr. acha que a compra da
Suzano Petroquímica foi um movimento de reestatização do setor?
GRUBISICH - Foi um retrocesso
esse movimento que a Petrobras fez de comprar 100% do
capital da Suzano Petroquímica sem a participação ativa nas
negociações do grupo Unipar
[que tem parte da petroquímica no Sudeste]. Nós vemos com
preocupação esse processo,
que pode levar à reestatização
de parte do setor petroquímico
brasileiro. Nós achamos que esse processo pode levar a um desequilíbrio de jogo no setor.
FOLHA - Que tipo de desequilíbrio?
GRUBISICH - A Petrobras tem
um peso muito importante no
início da cadeia produtiva da
petroquímica, seja no fornecimento da nafta, do propeno, seja do gás natural. É importante
que ela explicite de forma clara
se tem ou não intenção de reestatizar parte do setor petroquímico. É fundamental que a Petrobras diga, de maneira objetiva, se esse movimento foi uma
etapa no processo de consolidação da petroquímica do Sudeste e se ela está ou não comprometida em trazer a Unipar,
ou a Unipar e mais alguém, para dar à iniciativa privada a liderança do processo.
FOLHA - O que o sr. acha que a Petrobras deveria fazer?
GRUBISICH - A Petrobras deveria repetir o que foi feito na
Braskem, de ser minoritária,
mas com participação relevante. Nas empresas em que somos
sócios, a Braskem detém 60% e
a Petrobras, 40%, como nos casos da Ipiranga e da joint-venture da refinaria de Paulínia.
Em todo o processo que a Braskem conduziu, essa convenção
foi respeitada. A Petrobras ficou como minoritária, mas
com presença no conselho e
com a capacidade de influir nas
principais decisões da empresa.
Em Paulínia (SP), quando foi
feito o lançamento da pedra
fundamental, com a presença
do presidente Lula e do presidente da Petrobras, José Carlos
Gabrielli, foi colocado de forma
clara que o papel da Petrobras
era o de alavancar o setor privado para acelerar o desenvolvimento da petroquímica.
FOLHA - O sr. se surpreendeu com a
compra da Suzano pela Petrobras?
GRUBISICH - O que surpreendeu
foi que, em todo o entendimento conceitual no processo de
consolidação que vinha sendo
discutido com a Petrobras e as
empresas petroquímicas, a liderança seria do setor privado.
FOLHA - O sr. acha que a Petrobras
pode favorecer a Suzano, agora controlada pela estatal, no fornecimento de matéria-prima?
GRUBISICH - Na hora em que a
Petrobras assume o controle de
parte do setor e promove a
reestatização, isso desequilibra
o jogo. Como é que vai se administrar a questão do fornecimento da matéria-prima? É
importante a gente ter isonomia de preço na compra da matéria-prima para a Petrobras
garantir a competitividade.
FOLHA - O que a Petrobras deveria
ter feito no caso da Suzano?
GRUBISICH - A Petrobras deveria ter chamado a Unipar para
ser sócia, numa equação na
qual a estatal ficaria com 40%
do capital. A Unipar ficaria com
60%, e as duas montariam um
modelo de governança corporativa que alinhasse seus interesses, para que a estatal se sentisse participante do processo,
mas sem o controle.
FOLHA - O sr. acha que esse movimento pode prejudicar os planos de
investimentos futuros no setor?
GRUBISICH - Qual o nosso interesse? Qual o interesse do país?
O que a gente quer é que a petroquímica volte a investir, volte a criar emprego, volte a ser
competitiva no mercado global,
e esse movimento da Petrobras
pode gerar uma dúvida estrutural no setor e fazer com que os
investimentos fiquem prejudicados para o futuro.
FOLHA - Qual é a tendência no
mundo?
GRUBISICH - As empresas de petróleo no mundo estão concentrando os investimentos em
buscar novas reservas de petróleo e gás, além de investir na
produção. É isso que tem criado valor nas empresas. A BP
saiu do negócio da petroquímica, a Shell também, a Total vendeu sua participação, e no Brasil houve a privatização.
O governo tinha se comprometido a dar à iniciativa privada a liderança do setor com a
contrapartida de que a Petrobras seria um agente de motivação e de estímulo para o desenvolvimento da petroquímica, e não um concorrente das
empresas privadas. A impressão que se tem é a de que esse
movimento é uma revisão daquilo que tinha sido colocado
de maneira clara e objetiva na
lei da privatização do setor. O
que eu acho é que a compra da
Suzano foi um passo fora do
script, um movimento intempestivo da Petrobras de comprar o controle da Suzano.
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