São Paulo, terça-feira, 07 de setembro de 2004

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Empresários pedem imposto e juros menores

CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Representantes da indústria e dos trabalhadores ainda não se convenceram de que este é o momento de se formalizar um "contrato social" -expressão usada ontem pelo presidente Lula- para ajudar o país a crescer.
Para eles, a idéia de um pacto social está desgastada, já que, no passado, não deu resultado. Só voltou à tona porque ninguém -empresários, banqueiros, trabalhadores e governo- quer ceder em seus interesses.
Julio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), considera que o contrato social é uma alternativa para atender, minimamente, aos interesses de setores da economia.
"Em vez de ninguém ceder, cada um cede um pouco, e todos tentam ganhar. A palavra pacto ficou desgastada, então se usa contrato ou qualquer outra palavra."
Para Almeida, "o fato é que os bancos não abrem mão do lunático "spread" bancário. Os empresários não abrem mão do dedo no gatilho dos preços. E há ainda os que não abrem mão dos privilégios do governo".
O diretor do Iedi considera "difícil" a formalização de um pacto já. "Apesar de a oportunidade ser a melhor possível, é muito difícil que isso aconteça." Na sua avaliação, os empresários, no entanto, são a favor de tudo que os "liberte dos juros altos e da estratosférica carga fiscal".
Para Synésio Batista da Costa, presidente da Abrinq (associação dos fabricantes de brinquedos) e do Corecon-SP (Conselho Regional de Economia), o país perdeu a oportunidade de fazer um contrato ou um pacto social em pelo menos duas ocasiões em que a idéia foi lançada. A primeira foi no governo José Sarney (1985-1990), quando a inflação chegou a 80%. A segunda, no governo Collor (1990-1992), quando se discutiu as bases para um "entendimento social". Sem consenso e com o impeachment de Collor, a proposta não foi para a frente.
"Só se discute um pacto social em um momento de dor, e agora vivemos, na economia, um momento de amor, com a retomada do crescimento. Quem é que vai querer ceder?", questiona Costa.
Na avaliação do empresário, se o governo quer de fato promover uma ampla negociação nacional, deve dar o primeiro passo e reduzir a carga tributária do país. "Quem tem de tomar a iniciativa é o governo, que está comemorando recordes de arrecadação."
O presidente eleito da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf, diz que "é cedo" para falar em pacto. "O que propomos é um diálogo, um entendimento com representações da sociedade. O que precisamos é ter uma PPP [Parceria Público-Privada] do interesse do Brasil e que a TJLP [Taxa de Juros de Longo Prazo] caia. Isso é o que dá certo, não falar em pacto."
Na última sexta-feira, Skaf encontrou o presidente da CUT, Luiz Marinho, para discutir a proposta de um entendimento nacional. Há pelo menos seis meses, o presidente da CUT tenta emplacar a idéia de lançar um acordo com empresários e economistas, segundo a Folha apurou.
Para os representantes dos trabalhadores, a idéia de fazer um contrato social é válida desde que se discutam redução da jornada de trabalho, recuperação dos salários e criação de empregos.
"O governo precisa estabelecer metas para criar os empregos que prometeu e recuperar o poder de compra dos salários", diz José Maria de Almeida, sindicalista e presidente do PSTU. Ele criticou a CUT, central da qual se desfiliou há pouco mais de um mês, por ter lançado a discussão de fazer um pacto nacional que exija contrapartida dos trabalhadores.
Na opinião do presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, José Lopez Feijóo, o que a CUT está propondo é estender para todos os setores da economia o acordo feito em 1992 com o setor automotivo. "Naquela ocasião, negociamos recuperação dos salários a longo prazo, com compromissos para todos os envolvidos: empresários, governo e trabalhadores."
Feijóo diz que a central defende um contrato social, e não um pacto. "É um compromisso assinado, e cada um tem de cumprir a sua parte. No documento, a idéia é discutir metas de desenvolvimento, de redução de impostos, de produção, de investimento para resolver os gargalos do país, de geração de emprego, além de medidas para recuperar os salários."
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo (Força Sindical), Eleno José Bezerra, avalia que a discussão já começou errada. "Os sindicatos não querem congelar salários. Este é o momento para pedir aumento real. O trabalhador já "pagou todo o pato" que tinha de pagar."


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