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Empresários pedem imposto e juros menores
CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
Representantes da indústria e
dos trabalhadores ainda não se
convenceram de que este é o momento de se formalizar um "contrato social" -expressão usada
ontem pelo presidente Lula- para ajudar o país a crescer.
Para eles, a idéia de um pacto
social está desgastada, já que, no
passado, não deu resultado. Só
voltou à tona porque ninguém
-empresários, banqueiros, trabalhadores e governo- quer ceder em seus interesses.
Julio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi (Instituto de
Estudos para o Desenvolvimento
Industrial), considera que o contrato social é uma alternativa para
atender, minimamente, aos interesses de setores da economia.
"Em vez de ninguém ceder, cada um cede um pouco, e todos
tentam ganhar. A palavra pacto ficou desgastada, então se usa contrato ou qualquer outra palavra."
Para Almeida, "o fato é que os
bancos não abrem mão do lunático "spread" bancário. Os empresários não abrem mão do dedo no
gatilho dos preços. E há ainda os
que não abrem mão dos privilégios do governo".
O diretor do Iedi considera "difícil" a formalização de um pacto
já. "Apesar de a oportunidade ser
a melhor possível, é muito difícil
que isso aconteça." Na sua avaliação, os empresários, no entanto,
são a favor de tudo que os "liberte
dos juros altos e da estratosférica
carga fiscal".
Para Synésio Batista da Costa,
presidente da Abrinq (associação
dos fabricantes de brinquedos) e
do Corecon-SP (Conselho Regional de Economia), o país perdeu a
oportunidade de fazer um contrato ou um pacto social em pelo menos duas ocasiões em que a idéia
foi lançada. A primeira foi no governo José Sarney (1985-1990),
quando a inflação chegou a 80%.
A segunda, no governo Collor
(1990-1992), quando se discutiu as
bases para um "entendimento social". Sem consenso e com o impeachment de Collor, a proposta
não foi para a frente.
"Só se discute um pacto social
em um momento de dor, e agora
vivemos, na economia, um momento de amor, com a retomada
do crescimento. Quem é que vai
querer ceder?", questiona Costa.
Na avaliação do empresário, se
o governo quer de fato promover
uma ampla negociação nacional,
deve dar o primeiro passo e reduzir a carga tributária do país.
"Quem tem de tomar a iniciativa é
o governo, que está comemorando recordes de arrecadação."
O presidente eleito da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado
de São Paulo), Paulo Skaf, diz que
"é cedo" para falar em pacto. "O
que propomos é um diálogo, um
entendimento com representações da sociedade. O que precisamos é ter uma PPP [Parceria Público-Privada] do interesse do
Brasil e que a TJLP [Taxa de Juros
de Longo Prazo] caia. Isso é o que
dá certo, não falar em pacto."
Na última sexta-feira, Skaf encontrou o presidente da CUT,
Luiz Marinho, para discutir a proposta de um entendimento nacional. Há pelo menos seis meses, o
presidente da CUT tenta emplacar a idéia de lançar um acordo
com empresários e economistas,
segundo a Folha apurou.
Para os representantes dos trabalhadores, a idéia de fazer um
contrato social é válida desde que
se discutam redução da jornada
de trabalho, recuperação dos salários e criação de empregos.
"O governo precisa estabelecer
metas para criar os empregos que
prometeu e recuperar o poder de
compra dos salários", diz José
Maria de Almeida, sindicalista e
presidente do PSTU. Ele criticou a
CUT, central da qual se desfiliou
há pouco mais de um mês, por ter
lançado a discussão de fazer um
pacto nacional que exija contrapartida dos trabalhadores.
Na opinião do presidente do
Sindicato dos Metalúrgicos do
ABC, José Lopez Feijóo, o que a
CUT está propondo é estender
para todos os setores da economia o acordo feito em 1992 com o
setor automotivo. "Naquela ocasião, negociamos recuperação
dos salários a longo prazo, com
compromissos para todos os envolvidos: empresários, governo e
trabalhadores."
Feijóo diz que a central defende
um contrato social, e não um pacto. "É um compromisso assinado,
e cada um tem de cumprir a sua
parte. No documento, a idéia é
discutir metas de desenvolvimento, de redução de impostos, de
produção, de investimento para
resolver os gargalos do país, de
geração de emprego, além de medidas para recuperar os salários."
O presidente do Sindicato dos
Metalúrgicos de São Paulo (Força
Sindical), Eleno José Bezerra, avalia que a discussão já começou errada. "Os sindicatos não querem
congelar salários. Este é o momento para pedir aumento real. O
trabalhador já "pagou todo o pato"
que tinha de pagar."
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