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OPINIÃO ECONÔMICA
Independência e Vida!
BENJAMIN STEINBRUCH
Quem foi criança nos anos
40, 50, 60 e até 70 certamente lembra: o Sete de Setembro, feriado nacional da Independência, era comemorado com desfiles
em quase todas as escolas primárias, principalmente no interior
do país. Uniformizados, garotos e
garotas marchavam enquanto a
platéia de adultos balançava
bandeirinhas verde-amarelas.
Carlos Lessa, economista e presidente do BNDES, em entrevista
à revista "Carta Capital", conta
que a expressão "Brasil Brasileiro", de "Aquarela do Brasil", foi
encomendada a Ari Barroso por
Getúlio Vargas. Hoje, pouco se faz
em matéria de estímulo ao fortalecimento dos laços nacionais. No
Dia da Independência, as demonstrações cívicas se restringem
a alguns desfiles oficiais em grandes capitais.
O sentimento nacional está fora
de moda. Não faz sentido propor
a volta de patriotadas ufanistas
de períodos passados de nossa
história, nem mesmo de hábitos
como os desfiles escolares, que
pouco combinam com a sociedade atual, muito dependente dos
"feriadões" para aliviar o estresse
urbano. Mas também não se pode
continuar com esse nível tão baixo de auto-estima, fruto talvez de
duas décadas de decadências econômicas, que pioraram as condições de vida da população e baixaram o moral dos brasileiros.
O atual governo lançou recentemente uma campanha com o tema "O melhor do Brasil é o brasileiro", logo taxada de ufanista e
ridicularizada por alguns articulistas.
Erram os que confundem nacionalismo com ufanismo. O nacionalismo, sem xenofobia, é sadio. A data de hoje é oportuna para lembrar que nunca o Brasil
precisou tanto de afirmação nacional no campo da economia.
Foi saudável o processo de privatização empreendido nos anos
90, embora em alguns setores o
país tenha perdido oportunidades
de construir grandes conglomerados privados nacionais para substituir as antigas estatais. Mas o
grito de Independência, dado por
d. Pedro 1º há exatos 182 anos,
ainda hoje não se tornou realidade na área econômica. A economia brasileira é aberta e internacionalizada e conta com quase todas as grandes companhias mundiais. Falta aumentar o número
de corporações brasileiras competentes e competitivas para participar do jogo global. O país pode e
precisa construir grandes multinacionais verde-amarelas em várias áreas em que apresenta competitividade natural: mineração e
siderurgia, calçados, têxteis, papel
e celulose e vários setores de agronegócios, como soja, laranja e álcool.
Por que não existem multinacionais brasileiras? Basicamente,
porque não tem havido iniciativas de organização das forças
produtivas nacionais. O crédito
para investimento sempre foi caro e escasso. Nunca houve articulação oficial nem estímulos fiscais
suficientes para a formação de
conglomerados de pequenos, de
médios e até de grandes produtores. E a aversão radical das últimas décadas ao discurso nacionalista certamente contribuiu para essa dispersão das forças nacionais.
Em sua entrevista na "Carta
Capital", Carlos Lessa cita alguns
exemplos de organizações que
surgiram nos últimos anos e, a
despeito das dificuldades, têm
mostrado potencial para dar origem a grandes corporações brasileiras, que ele chama de "novos
protagonistas", ligados aos processos produtivos: os calçadistas
de Nova Serrana, os fabricantes
de cachaça de Minas Gerais, os
produtores de mamona do Nordeste, os vinicultores do Rio
Grande do Sul e as empresas de
software de Pernambuco.
O nacionalismo sadio, voltado
para a educação, a formação de
cidadania e, de forma geral, para
incentivar laços nacionais, será
sempre muito útil para que o país
alcance independência plena neste século 21, o que, afinal, se traduzirá em melhores condições de
vida para os brasileiros. Devemos
trabalhar duro e sem timidez para alcançar esse objetivo, porque
nada vale mais a uma nação do
que a liberdade de escolher seus
próprios caminhos.
Os brasileiros, acostumados a
torcer fanaticamente pelo Brasil
em eventos esportivos, devem
também perder a vergonha de balançar as bandeiras verde-amarelas no Dia da Pátria, hoje.
Benjamin Steinbruch, 50, empresário,
é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional e presidente do conselho de administração da empresa.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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