São Paulo, terça-feira, 07 de setembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

OPINIÃO ECONÔMICA

Independência e Vida!

BENJAMIN STEINBRUCH

Quem foi criança nos anos 40, 50, 60 e até 70 certamente lembra: o Sete de Setembro, feriado nacional da Independência, era comemorado com desfiles em quase todas as escolas primárias, principalmente no interior do país. Uniformizados, garotos e garotas marchavam enquanto a platéia de adultos balançava bandeirinhas verde-amarelas.
Carlos Lessa, economista e presidente do BNDES, em entrevista à revista "Carta Capital", conta que a expressão "Brasil Brasileiro", de "Aquarela do Brasil", foi encomendada a Ari Barroso por Getúlio Vargas. Hoje, pouco se faz em matéria de estímulo ao fortalecimento dos laços nacionais. No Dia da Independência, as demonstrações cívicas se restringem a alguns desfiles oficiais em grandes capitais.
O sentimento nacional está fora de moda. Não faz sentido propor a volta de patriotadas ufanistas de períodos passados de nossa história, nem mesmo de hábitos como os desfiles escolares, que pouco combinam com a sociedade atual, muito dependente dos "feriadões" para aliviar o estresse urbano. Mas também não se pode continuar com esse nível tão baixo de auto-estima, fruto talvez de duas décadas de decadências econômicas, que pioraram as condições de vida da população e baixaram o moral dos brasileiros.
O atual governo lançou recentemente uma campanha com o tema "O melhor do Brasil é o brasileiro", logo taxada de ufanista e ridicularizada por alguns articulistas.
Erram os que confundem nacionalismo com ufanismo. O nacionalismo, sem xenofobia, é sadio. A data de hoje é oportuna para lembrar que nunca o Brasil precisou tanto de afirmação nacional no campo da economia.
Foi saudável o processo de privatização empreendido nos anos 90, embora em alguns setores o país tenha perdido oportunidades de construir grandes conglomerados privados nacionais para substituir as antigas estatais. Mas o grito de Independência, dado por d. Pedro 1º há exatos 182 anos, ainda hoje não se tornou realidade na área econômica. A economia brasileira é aberta e internacionalizada e conta com quase todas as grandes companhias mundiais. Falta aumentar o número de corporações brasileiras competentes e competitivas para participar do jogo global. O país pode e precisa construir grandes multinacionais verde-amarelas em várias áreas em que apresenta competitividade natural: mineração e siderurgia, calçados, têxteis, papel e celulose e vários setores de agronegócios, como soja, laranja e álcool.
Por que não existem multinacionais brasileiras? Basicamente, porque não tem havido iniciativas de organização das forças produtivas nacionais. O crédito para investimento sempre foi caro e escasso. Nunca houve articulação oficial nem estímulos fiscais suficientes para a formação de conglomerados de pequenos, de médios e até de grandes produtores. E a aversão radical das últimas décadas ao discurso nacionalista certamente contribuiu para essa dispersão das forças nacionais.
Em sua entrevista na "Carta Capital", Carlos Lessa cita alguns exemplos de organizações que surgiram nos últimos anos e, a despeito das dificuldades, têm mostrado potencial para dar origem a grandes corporações brasileiras, que ele chama de "novos protagonistas", ligados aos processos produtivos: os calçadistas de Nova Serrana, os fabricantes de cachaça de Minas Gerais, os produtores de mamona do Nordeste, os vinicultores do Rio Grande do Sul e as empresas de software de Pernambuco.
O nacionalismo sadio, voltado para a educação, a formação de cidadania e, de forma geral, para incentivar laços nacionais, será sempre muito útil para que o país alcance independência plena neste século 21, o que, afinal, se traduzirá em melhores condições de vida para os brasileiros. Devemos trabalhar duro e sem timidez para alcançar esse objetivo, porque nada vale mais a uma nação do que a liberdade de escolher seus próprios caminhos.
Os brasileiros, acostumados a torcer fanaticamente pelo Brasil em eventos esportivos, devem também perder a vergonha de balançar as bandeiras verde-amarelas no Dia da Pátria, hoje.


Benjamin Steinbruch, 50, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional e presidente do conselho de administração da empresa.

E-mail - bvictoria@psi.com.br


Texto Anterior: Empresários pedem imposto e juros menores
Próximo Texto: Resenha: Professor descreve economia brasileira de 1947 a 2001
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.