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RESENHA
Professor descreve economia brasileira de 1947 a 2001
MARCOS ANTONIO CINTRA
DA EQUIPE DE EDITORIALISTAS
O professor Antonio Dias
Leite, entre muitas outras
atividades, foi responsável pela
primeira estimativa da renda nacional, relativa ao período 1947-1949, em pesquisa realizada na
Fundação Getúlio Vargas e publicada em 1950. A partir de sua longa e profícua experiência, como
professor universitário e ministro
de Estado, ele passa em revista os
conceitos básicos das ciências
econômicas, que ele ajudou a
consolidar, bem como elabora
um grande panorama da economia brasileira entre 1947 e 2001.
O olhar panorâmico permite
compreender que a economia e a
sociedade brasileira passaram por
profundas transformações durante esse período. O país montou
as principais indústrias, em articulação com o empresariado nacional, as empresas estatais e as
multinacionais. As cidades cresceram, mediante um dos mais intensos e rápidos processos de êxodo rural da humanidade, acompanhando a modernização da
agricultura. A sociedade se sofisticou, e foram aperfeiçoados os mecanismos de controle da gestão
pública e privada: os partidos políticos, o sistema judiciário, a imprensa, os sindicatos, as organizações não-governamentais etc.
Mas o sobrevôo do professor
Leite possibilita também observar
os problemas estruturais ainda
não equacionados, sobretudo a
elevada concentração da renda e
da riqueza, a incapacidade do sistema bancário e do mercado de
capitais domésticos de desenvolver instrumentos de crédito de
longo prazo para financiar o investimento produtivo e a deterioração ambiental do território rural e urbano.
Além disso, fica evidente na
análise do professor a dependência externa do país. No início dessa longa história de mudanças, o
país dependia da importação de
insumos estratégicos (petróleo e
aço, por exemplo), de tecnologia e
de capitais. Mais de 50 anos depois, o país caminhou para a auto-suficiência em petróleo e em
inúmeros outros setores, mas
continuou dependente de novas
tecnologias e, sobretudo, de capitais. A abertura comercial e financeira dos anos 90 por si só não logrou promover uma estrutura
produtiva competitiva internacionalmente, assim como o processo de industrialização anterior,
entre 1956 e 1982, não fomentou a
expansão das exportações.
O resultado foi um elevado endividamento externo, que aumentou a vulnerabilidade do país
aos acontecimentos e humores
dos agentes financeiros internacionais. A instabilidade dos juros
e do câmbio reduziu a taxa de
crescimento da produção e do
emprego doméstico. Por isso, o
autor recoloca, acuradamente, a
necessidade de retomar a discussão de uma estratégia nacional de
longo prazo para o país.
Deterioração
Articular um novo projeto de
desenvolvimento sustentável e
eqüitativo não parece tarefa fácil.
Grande parte da capacidade de
planejamento e de coordenação
dos interesses públicos e privados
pelo Estado brasileiro se deteriorou muito nos últimos anos. Além
disso, a "inserção internacional"
do país, sob o comando das elites
financeiras e rentistas, mediante
regras de "bom comportamento"
medidas pelas oscilações diárias
do risco-país, limita a capacidade
de implementação de políticas
ativas de desenvolvimento. As políticas fiscal e monetária permanecem subordinadas às regras do
sistema financeiro doméstico e
internacional, contendo o investimento público e privado.
Entretanto, e essa parece ser a
principal conclusão do livro, as
dificuldades do empreendimento
não são obstáculos intransponíveis. Neste momento, a oportunidade histórica de um novo ciclo
de desenvolvimento parece bater
às portas do país, se a política macroeconômica permitir a articulação do dinamismo interno com a
expansão da economia mundial.
A cautela na gestão macroeconômica pode permitir o equacionamento dos mecanismos de financiamento da infra-estrutura
econômica e restaurar a confiança
empresarial na expansão sustentada da economia, a fim de promover a ampliação da capacidade
produtiva nos insumos básicos,
principais estrangulamentos da
economia brasileira. A leitura
atenta do livro de Leite pode auxiliar a destravar "corações e mentes", fomentando uma articulação
política, empresarial e sindical para enfrentar os desafios do desenvolvimento.
A ECONOMIA BRASILEIRA: DE ONDE
VIEMOS, ONDE ESTAMOS E O QUE
ESPERAR DO FUTURO. Autor: Antonio
Dias Leite. Editora: Campus. Quanto: R$
59,90 (248 págs.). Internet:
www.campus.com.br).
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