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LUÍS NASSIF
Ecos de 7 de Setembro
Quem esteve nas praias
italianas nas últimas semanas observou um fenômeno inédito. Pela primeira vez,
a maior parte dos blusões e
das cangas da rapaziada não
era de universidades norte-americanas. Eram verde-amarelos, do Brasil.
O Brasil é a bola da vez no
mundo, o país mais amado do
momento. Em parte se deve ao
fato de um operário, Lula, ter
sido alçado à Presidência. Mas
só em parte. A Polônia também esteve em voga com Lech
Walesa, mas não consta que
símbolos poloneses tenham se
disseminado pelo mundo. Significa que o Brasil tem uma
imagem internacional consolidada, um potencial fantástico ainda a ser explorado.
Mas o "orgulho de ser brasileiro" ainda é restrito nas elites brasileiras. Recentemente,
Luiz Gonzaga Belluzzo escreveu sobre uma das grandes
tragédias brasileiras, o aparecimento de uma geração supostamente internacionalizada, que assumiu cargos relevantes no país, sem nenhum
pingo de identidade nacional.
Representantes desse internacionalismo, os jovens Cruzados eram apenas rapazes ambiciosos, inteligentes, que estudaram no exterior e voltaram
pensando em serem bem sucedidos na vida. Foi a pobreza
política do país que os alçou à
condição de gurus.
Recentemente, o ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso fez observações sobre
o neonacionalismo nascente.
Disse que em seu governo buscou as políticas horizontais
-impessoais, de criação de
condições gerais na economia-, em vez das verticais,
sugeridas pelo neonacionalismo.
Há certa confusão sobre conceitos e modelos. O interesse
nacional poderia ter sido claramente exercido mesmo dentro das políticas horizontais.
Trata-se de um princípio de
atuação que deve pontuar todos os atos de governo. É por
aí que se constrói a pedagogia
da auto-estima nacional.
Quando a Embraer foi
ameaçada pela Bombardier, o
BNDES de Luiz Carlos Mendonça de Barros saiu em seu
socorro. Quando o custo das
patentes ameaçava o atendimento dos soropositivos nacionais, o então ministro José
Serra (Saúde) enfrentou o
lobby dos grandes laboratórios internacionais. Em ambos
os casos, o interesse nacional
estava claramente definido, e
não foi levantada nenhuma
incompatibilidade programática contra as medidas.
O que marcou a falta da auto-estima nacional no governo
Fernando Henrique Cardoso
foi sua própria personalidade.
Seus olhos estavam permanentemente voltados para
platéias internacionais.
Quando brilhava nos palcos
internacionais, parece que tinha pruridos em levar o país
com ele. Quando voltava para
a cena nacional, encarava as
platéias internas quase com
enfado. Essa atitude eminentemente pessoal, mais do que o
desastre cambial, é que jamais
permitirá que seja comparado, no futuro, a um Getúlio
Vargas ou a um Juscelino Kubitschek.
Se Lula irá conseguir trazer
o nacionalismo de volta, sabe-se lá. Quando é altivo na condução da política externa, reforça a auto-estima nacional.
Quando entra no jogo populista de retaliar turista estrangeiro, se apequena.
No fundo, há um grande
aprendizado pela frente, para
todos nós.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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