São Paulo, terça-feira, 07 de setembro de 2004

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LUÍS NASSIF

Ecos de 7 de Setembro

Quem esteve nas praias italianas nas últimas semanas observou um fenômeno inédito. Pela primeira vez, a maior parte dos blusões e das cangas da rapaziada não era de universidades norte-americanas. Eram verde-amarelos, do Brasil.
O Brasil é a bola da vez no mundo, o país mais amado do momento. Em parte se deve ao fato de um operário, Lula, ter sido alçado à Presidência. Mas só em parte. A Polônia também esteve em voga com Lech Walesa, mas não consta que símbolos poloneses tenham se disseminado pelo mundo. Significa que o Brasil tem uma imagem internacional consolidada, um potencial fantástico ainda a ser explorado.
Mas o "orgulho de ser brasileiro" ainda é restrito nas elites brasileiras. Recentemente, Luiz Gonzaga Belluzzo escreveu sobre uma das grandes tragédias brasileiras, o aparecimento de uma geração supostamente internacionalizada, que assumiu cargos relevantes no país, sem nenhum pingo de identidade nacional. Representantes desse internacionalismo, os jovens Cruzados eram apenas rapazes ambiciosos, inteligentes, que estudaram no exterior e voltaram pensando em serem bem sucedidos na vida. Foi a pobreza política do país que os alçou à condição de gurus.
Recentemente, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fez observações sobre o neonacionalismo nascente. Disse que em seu governo buscou as políticas horizontais -impessoais, de criação de condições gerais na economia-, em vez das verticais, sugeridas pelo neonacionalismo.
Há certa confusão sobre conceitos e modelos. O interesse nacional poderia ter sido claramente exercido mesmo dentro das políticas horizontais. Trata-se de um princípio de atuação que deve pontuar todos os atos de governo. É por aí que se constrói a pedagogia da auto-estima nacional.
Quando a Embraer foi ameaçada pela Bombardier, o BNDES de Luiz Carlos Mendonça de Barros saiu em seu socorro. Quando o custo das patentes ameaçava o atendimento dos soropositivos nacionais, o então ministro José Serra (Saúde) enfrentou o lobby dos grandes laboratórios internacionais. Em ambos os casos, o interesse nacional estava claramente definido, e não foi levantada nenhuma incompatibilidade programática contra as medidas.
O que marcou a falta da auto-estima nacional no governo Fernando Henrique Cardoso foi sua própria personalidade. Seus olhos estavam permanentemente voltados para platéias internacionais. Quando brilhava nos palcos internacionais, parece que tinha pruridos em levar o país com ele. Quando voltava para a cena nacional, encarava as platéias internas quase com enfado. Essa atitude eminentemente pessoal, mais do que o desastre cambial, é que jamais permitirá que seja comparado, no futuro, a um Getúlio Vargas ou a um Juscelino Kubitschek.
Se Lula irá conseguir trazer o nacionalismo de volta, sabe-se lá. Quando é altivo na condução da política externa, reforça a auto-estima nacional. Quando entra no jogo populista de retaliar turista estrangeiro, se apequena.
No fundo, há um grande aprendizado pela frente, para todos nós.

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Luisnassif@uol.com.br


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