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Alimento faz inflação dobrar em agosto
IPCA vai a 0,47%, ante 0,24% no mês anterior; alta de 1,39% dos produtos alimentícios é a maior desde março de 2003
Sozinhos, alimentos corresponderam a 62%
do índice; especialistas vêem menos espaço para
cortes adicionais nos juros
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
DIANA BRITO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA ONLINE, NO RIO
Pressionado pela alta dos alimentos, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de
agosto subiu 0,47%, quase o dobro do resultado de julho
-0,24%. Foi a maior marca
desde dezembro de 2006
(0,48%), de acordo com o IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
No acumulado em 12 meses
encerrado em agosto, o índice
avançou para 4,18% e se aproximou do centro da meta do governo para este ano (4,5%, com
margem de dois pontos percentuais para mais ou menos).
Nessa base de comparação, foi a
mais alta taxa desde maio de
2006 (4,23%).
Em agosto, mais uma vez, os
vilões foram os produtos alimentícios, repetindo a tendência dos últimos meses. O grupo
alimentação registrou alta de
1,39% -em julho, havia subido
1,27%. Trata-se da maior variação desde março de 2003
(1,66%). Em apenas um mês, os
alimentos subiram mais do que
em todo o ano de 2006 (1,22%).
Neste ano, já acumulam aumento de 6,73%.
Sozinhos, os alimentos corresponderam a 62% do IPCA
de agosto.
As principais pressões vieram de leite, soja, milho, trigo e
seus derivados em razão dos
elevados preços internacionais
dessas commodities. As carnes,
que sofrem com alta dos preços
das rações, também contribuíram. Somente o leite teve um
impacto de 0,13 ponto percentual no IPCA de agosto.
Incógnita
"Há uma incógnita quanto
aos alimentos, cujos preços podem continuar a subir. Essa inflação [de agosto] é muito concentrada nos alimentos. Ela estava mais concentrada no leite,
mas agora se espalhou entre os
alimentos", afirma Eulina Nunes dos Santos, coordenadora
de Índices de Preços do IBGE.
Os alimentos já subiam com
força em julho, mas naquele
mês a queda da energia elétrica
segurou a inflação. Sem esse
efeito benéfico, diz Eulina, o
IPCA acelerou em agosto. Só
não foi mais alto graças às quedas da gasolina (-0,89%) e do
álcool (-3,76%)
Diante da disparada dos alimentos e da deterioração do cenário externo, especialistas
acreditam que o Banco Central
vá ter menos espaço para cortar
juros nas duas últimas reuniões
do Copom (Comitê de Política
Monetária) do ano e já projetam para 2008 uma inflação no
centro da meta (4,5%).
Sem previsão de mudança, a
expectativa é de apenas mais
um recuo da taxa, de 0,25 ponto
percentual. A alta da inflação e
a crise internacional já fizeram
o Copom reduzir o ritmo de
queda da Selic -de 0,5 ponto
para 0,25 ponto, para 11,25% ao
ano, na reunião desta semana.
Para Luiz Roberto Cunha, da
PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), a taxa básica de juros se
aproxima do seu piso -11% ao
ano, considerando uma inflação anual de 4,5%.
Sem avanços na área fiscal,
tributária e de infra-estrutura
capazes de melhorar a competitividade do país, o economista
não vê "muito mais margem"
para reduzir os juros.
Carlos Thadeu de Freitas Filho, do grupo de Conjuntura da
UFRJ (Universidade Federal
do Rio de Janeiro), avalia que
mais uma redução da Selic "está assegurada", a menos que a
situação dos mercados internacionais se agrave muito.
Ele prevê uma inflação pouco
acima de 4% neste ano. Já Cunha projeta um IPCA de 4,1%
em 2007.
Inflação dos mais pobres
Como os alimentos pesam
mais no orçamento das famílias
de menor renda, o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) teve uma alta maior
em agosto: 0,59%. O índice pesquisa famílias com renda de um
a oito salários mínimos -o IPCA abrange aquelas com renda
de 1 a 40 mínimos.
No INPC, os preços dos alimentos avançaram 1,52%. "Essa pressão dos alimentos prejudica em geral quem ganha menos. Afeta proporcionalmente
mais as pessoas com renda
mais baixa, pois o peso no orçamento é bem maior", afirma
Eulina, do IBGE.
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