São Paulo, sexta-feira, 07 de setembro de 2007

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Alimento faz inflação dobrar em agosto

IPCA vai a 0,47%, ante 0,24% no mês anterior; alta de 1,39% dos produtos alimentícios é a maior desde março de 2003

Sozinhos, alimentos corresponderam a 62% do índice; especialistas vêem menos espaço para cortes adicionais nos juros

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

DIANA BRITO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA ONLINE, NO RIO

Pressionado pela alta dos alimentos, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de agosto subiu 0,47%, quase o dobro do resultado de julho -0,24%. Foi a maior marca desde dezembro de 2006 (0,48%), de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
No acumulado em 12 meses encerrado em agosto, o índice avançou para 4,18% e se aproximou do centro da meta do governo para este ano (4,5%, com margem de dois pontos percentuais para mais ou menos). Nessa base de comparação, foi a mais alta taxa desde maio de 2006 (4,23%).
Em agosto, mais uma vez, os vilões foram os produtos alimentícios, repetindo a tendência dos últimos meses. O grupo alimentação registrou alta de 1,39% -em julho, havia subido 1,27%. Trata-se da maior variação desde março de 2003 (1,66%). Em apenas um mês, os alimentos subiram mais do que em todo o ano de 2006 (1,22%). Neste ano, já acumulam aumento de 6,73%.
Sozinhos, os alimentos corresponderam a 62% do IPCA de agosto.
As principais pressões vieram de leite, soja, milho, trigo e seus derivados em razão dos elevados preços internacionais dessas commodities. As carnes, que sofrem com alta dos preços das rações, também contribuíram. Somente o leite teve um impacto de 0,13 ponto percentual no IPCA de agosto.

Incógnita
"Há uma incógnita quanto aos alimentos, cujos preços podem continuar a subir. Essa inflação [de agosto] é muito concentrada nos alimentos. Ela estava mais concentrada no leite, mas agora se espalhou entre os alimentos", afirma Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE.
Os alimentos já subiam com força em julho, mas naquele mês a queda da energia elétrica segurou a inflação. Sem esse efeito benéfico, diz Eulina, o IPCA acelerou em agosto. Só não foi mais alto graças às quedas da gasolina (-0,89%) e do álcool (-3,76%)
Diante da disparada dos alimentos e da deterioração do cenário externo, especialistas acreditam que o Banco Central vá ter menos espaço para cortar juros nas duas últimas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária) do ano e já projetam para 2008 uma inflação no centro da meta (4,5%).
Sem previsão de mudança, a expectativa é de apenas mais um recuo da taxa, de 0,25 ponto percentual. A alta da inflação e a crise internacional já fizeram o Copom reduzir o ritmo de queda da Selic -de 0,5 ponto para 0,25 ponto, para 11,25% ao ano, na reunião desta semana.
Para Luiz Roberto Cunha, da PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), a taxa básica de juros se aproxima do seu piso -11% ao ano, considerando uma inflação anual de 4,5%.
Sem avanços na área fiscal, tributária e de infra-estrutura capazes de melhorar a competitividade do país, o economista não vê "muito mais margem" para reduzir os juros.
Carlos Thadeu de Freitas Filho, do grupo de Conjuntura da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), avalia que mais uma redução da Selic "está assegurada", a menos que a situação dos mercados internacionais se agrave muito.
Ele prevê uma inflação pouco acima de 4% neste ano. Já Cunha projeta um IPCA de 4,1% em 2007.

Inflação dos mais pobres
Como os alimentos pesam mais no orçamento das famílias de menor renda, o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) teve uma alta maior em agosto: 0,59%. O índice pesquisa famílias com renda de um a oito salários mínimos -o IPCA abrange aquelas com renda de 1 a 40 mínimos.
No INPC, os preços dos alimentos avançaram 1,52%. "Essa pressão dos alimentos prejudica em geral quem ganha menos. Afeta proporcionalmente mais as pessoas com renda mais baixa, pois o peso no orçamento é bem maior", afirma Eulina, do IBGE.


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