São Paulo, domingo, 07 de setembro de 2008

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VINICIUS TORRES FREIRE

O bebê de Bristol e o fim de Baby Bush


Política trata do sexo precoce dos anjos enquanto bushismo "liberal" chega a final grotesco, ajudando mercado em pânico

O BEBÊ de Bristol Palin era o assunto maior da política americana enquanto o Tesouro e o banco central dos EUA discutiam como tirar da lama, com dinheiro público, as maiores companhias de financiamento imobiliário do país, garantidas pelo governo federal e, suspeita-se, à beira de quebrar. A estatização é uma hipótese em debate. Note-se, de resto, que não são apenas as empresas que vão levar uma grana, mas também "big" fundos, lotados de papéis podres.
Tudo isso na mesma semana em que se soube que o desemprego subiu ao nível mais alto em cinco anos. Que o calote da prestação da casa própria foi o maior em 29 anos.
Por falar em gravidez e outras estatísticas grávidas de conseqüências tristes, desde que o aborto foi liberado nos EUA, em 1973, apenas nos governos republicanos de Reagan, Bush Pai e Baby Bush a taxa de maternidade adolescente subiu significativamente (trata-se de meninas de 15 a 19 anos). Bush governou o Texas, um dos Estados americanos com os piores indicadores de gravidez juvenil. Bush e Sarah Palin são contra sexo antes do casamento, mas cada vez mais mulheres têm filhos sem se casar. Os dois são ainda contra aborto em casos de estupro.
Sarah, 44, é a bela candidata a vice-presidente da chapa republicana e mãe de Bristol, colegial de 17 anos, grávida de cinco meses. Três em cada dez americanas ficam grávidas antes dos 20 anos. Cerca de 730 mil adolescentes engravidam por ano; 40% abortam -é a pior situação no mundo civilizado. Cerca de 60% das meninas que engravidam não terminam o colegial. A maior incidência de gravidez juvenil ocorre entre garotas pobres, negras e hispânicas. Bristol é branca e de classe média.
O que Bush tem a ver com taxas de natalidade? Provavelmente, nada.
Bush, no caso, é uma irrelevância que apenas ajuda a espraiar a ignorância e o preconceito.
Mas é um sarcasmo da história que o reinado de idiotia conservadora de Baby Bush termine sob o rumor de um caso como o do bebê republicano de Bristol Palin. Não é, claro, o único revertério histórico-ideológico do bushismo. Bush começou seu governo baixando impostos, os dos mais ricos em especial. O bushismo econômico prega que reduzir impostos eleva a taxa de poupança. Hum. Os americanos estão superendividados e quebrando.
O bushismo, antiestatista, inimigo do "big government", vai deixar um déficit público enorme, arrebentando as contas ordenadas pelos democratas, de "esquerda". Por meio do Fed, o BC dos EUA, o Estado americano promove a segunda maior intervenção na economia desde a depressão dos anos 1930. Na verdade, não se trata de intervenção, mas de ajuda mesmo, para bancos e proprietários de derivativos loucos.
Aliás, trata-se da "segunda maior intervenção" até este domingo, pelo menos. O novo pacote de ajuda estatal ao mercado seria discutido no final de semana. O mercado, esse, berra "dá dois tri aí pra eu". Enfim, por falar em Estado, mas não só de economia, a degradação dos direitos individuais nos Estados Unidos sob Bush talvez seja comparável apenas àquela dos anos mais obscurantistas da Guerra Fria, no macartismo. Talvez pior. Bush, o infame, enxovalhou seu grande país.

vinit@uol.com.br


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