São Paulo, domingo, 07 de setembro de 2008

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Vendas à Argentina serão em moeda local

Lula e Cristina devem anunciar amanhã o início do comércio bilateral em real e peso na visita da presidente ao Brasil

Presidentes ainda devem discutir usina binacional no RS, financiamento de pontes e atividades da Embraer e da Petrobras

IURI DANTAS
LETICIA SANDER
SIMONE IGLESIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao se reunirem no Planalto amanhã, os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Argentina, Cristina Kirchner, deverão finalmente anunciar o início do esperado comércio entre os dois países em moeda local. Essa é a primeira etapa para adoção de moeda local nas importações e nas exportações de todo o Mercosul.
Até o final do ano passado, ainda havia dificuldades técnicas. Para realizar comércio em moeda local, é preciso que os sistemas de computador dos bancos centrais dos dois países "conversem" com agilidade. O problema é que boa parte dos registros de comércio da Argentina ainda era feita em papel, o que dificultava a integração dos dois sistemas.
O tema é considerado uma medida importantíssima para impulsionar o comércio entre os dois países, principalmente por facilitar as operações de pequenas e médias empresas. Hoje, quem importa da Argentina precisa obter dólares para pagar a mercadoria. Os argentinos, por outro lado, buscam a moeda americana para quitar importações do Brasil.
Com o mecanismo de moeda local, brasileiros utilizarão o real, e os argentinos, o peso. O presidente Lula mencionou o assunto durante entrevista concedida recentemente ao jornal argentino "Clarín".

Detalhes
Na sexta-feira, equipes dos dois países ainda debatiam detalhes sobre o anúncio. Segundo apurou a Folha, o tema só não será tratado por Lula e Kirchner se um dos presidentes não quiser. As operações em moeda local entram em vigor no final deste mês.
A agenda dos dois presidentes inclui ainda acertos finais sobre a usina binacional de Garabi (RS), financiamento para a construção de pontes ligando os dois países e atividades da Embraer e da Petrobras.
Com relação à Embraer, Lula e Cristina vão discutir o fornecimento de peças argentinas para montagem de aviões no Brasil. Hoje, a Embraer compra peças de uma empresa chilena. Os governos do Brasil e da Argentina querem incluir a AMC (Área Material Córdoba) na lista de fornecedores da empresa de aviação.
O assunto foi tratado há algumas semanas por funcionários do governo argentino com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.
Um outro interesse brasileiro em relação à Embraer diz respeito à compra de aeronaves pela estatal Aerolíneas Argentinas. Se os argentinos toparem adquirir os aviões da empresa brasileira, Lula oferecerá em contrapartida futuras compras da Petrobras.
A petroleira brasileira vai adquirir 200 novas embarcações para exploração do petróleo da camada pré-sal. Lula tem interesse em que essas embarcações sejam produzidas na América do Sul e na conversa com Cristina vai propor a entrada da Argentina no negócio.
Os dois presidentes devem assinar, ainda, um acordo de cooperação técnica entre o BNDES, o Banco de La Nación (instituição estatal) e o Bice (Banco de Investimentos e Comércio Exterior da Argentina). O acordo vai definir mecanismos para que as instituições emprestem dinheiro para a integração produtiva.
A presidente argentina também anunciará que vai antecipar o pagamento de 60% da eletricidade emprestada pelo Brasil durante a recente crise de energia no país vizinho. Parte do pagamento será feita em dinheiro, e outra parte, com a devolução de energia.


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