São Paulo, domingo, 07 de setembro de 2008

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Exportação de luxo ganha velocidade

Estudo mostra que venda de grifes para o exterior cresceu 71,4% nos últimos dois anos, ante 47,5% do total de exportações

Maior parte dos artigos de luxo nacionais é vendida para os EUA, mas empresas brasileiras começam a investir no mercado chinês

JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL

As exportações de artigos de luxo nacionais estão crescendo em um ritmo mais acelerado que o das mercadorias em geral. Levantamento feito pela Apex-Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) revela que as vendas de produtos premium cresceram 71,4%, contra 47,5% de expansão das exportações totais, entre o primeiro semestre de 2006 e o mesmo período deste ano.
Em valores, as vendas externas de luxo passaram de US$ 210 milhões para US$ 360 milhões, enquanto as exportações totais saíram de US$ 61 bilhões para US$ 90 bilhões. A expectativa da Apex é que, até 2012, o setor de luxo passe a representar 7% das vendas da agência. Hoje, ele participa com 3%.
"Estamos começando a divulgação das grifes nacionais no exterior", disse Marco Aurélio Lobo Junior, gerente da Apex-Brasil, agência do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. "E acreditamos que elas abrirão caminhos para outros setores."
Parte da estratégia do governo é não se referir às marcas nacionais como grifes de luxo. "Lá fora, essa palavra é imediatamente associada pelos consumidores às marcas tradicionais européias", afirmou Lobo. "Por isso apresentamos as brasileiras como fabricantes de marcas premium."
Com ele concordam as diversas grifes de moda, acessórios, móveis, cosméticos, calçados, produtos e serviços de sete setores que já possuem projetos em andamento com a Apex. Para participar, é preciso apresentar um projeto de exportação de, no mínimo, dois anos de duração. O governo participa com 50% dos investimentos para a promoção da marca no exterior, e o setor banca a outra metade. A parceria também prevê metas de vendas.
Até o momento, os investimentos somaram R$ 233 milhões. "O retorno é maior que o da média de mercado", diz Oskar Metsavaht, fundador da Osklen. A grife já possui 11 lojas no exterior, além de outros pontos-de-venda e demonstração.
Apesar de só 5% das vendas da Osklen serem destinadas ao exterior, ela já compete com grifes consagradas. Na semana passada, os advogados da empresa conseguiram, na Justiça dos EUA, obrigar o grupo Armani a retirar um certo modelo de vestido de suas lojas porque copiava uma das estampas da Osklen. "Isso é ruim, mas acaba promovendo a marca."
Segundo Metsavaht, um grupo de japoneses solicitou há dois meses o licenciamento dos tênis da Osklen para serem produzidos no país asiático. "Começamos a exportar a nossa tecnologia."
"Esse é o objetivo do governo com o programa de exportações de luxo", disse Carlos Ferreirinha, diretor-presidente da MCF, consultoria especializada nos negócios de luxo e que orientou a Apex no projeto. Ele diz que, na década de 70, a Itália implementou um projeto parecido e, hoje, o país é conhecido por sua excelência em artigos de luxo, de calçados a carros.
"Estou nesse segmento há anos e nunca houve tanta abertura em um governo para construirmos um projeto desse porte ligado ao setor de luxo", afirmou Ferreirinha.

Negócios da China
A maior parte dos artigos de luxo nacionais é vendida para os EUA. Mas boa parte das empresas está seguindo o rastro das grifes internacionais, que, mesmo sem garantias de sucesso, investem em lojas na China.
Interessada em um mercado de 391 mil milionários e 370 milhões de mulheres economicamente ativas, a Arezzo decidiu investir na China. Segundo Mário Goldberg, diretor de expansão do grupo, foram abertas quatro lojas desde junho. "Serão 207 unidades até 2012", afirmou. "Não vamos competir com grifes tradicionais, mas queremos nos firmar com produtos de alta qualidade."
Ferreirinha disse que, a exemplo da Arezzo, diversas marcas estão criando unidades premium destinadas à exportação. A CVC, que antes só vendia pacotes turísticos para as classes média e de baixa renda, criou uma divisão especial só para atender os mais abastados.
O Boticário também investe em uma linha de produtos sofisticados. Segundo a empresa, as flores usadas na fabricação dos perfumes dessa linha são colhidas em um dia e chegam no mesmo dia à fábrica, acondicionadas em caminhões frigorificados para que preservem o frescor de sua fragrância.


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