São Paulo, domingo, 07 de setembro de 2008

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Retração econômica cruza o Atlântico e já assusta a Europa

OCDE diminui estimativa de avanço de europeus e prevê recessão no Reino Unido

MARCELO NINIO
DE GENEBRA

Quando se reunirem hoje na cidade suíça de Basiléia, como fazem a cada dois meses, os presidentes dos principais bancos centrais do mundo estarão atormentados pelo mesmo dilema que enfrentavam no primeiro encontro do ano, em janeiro: cortar juros para conter a desaceleração econômica ou mantê-los elevados para afastar os perigos da inflação?
A diferença é que desta vez o foco não estará mais no risco de recessão nos EUA, mas na mesma ameaça que agora ronda a Europa. Os xerifes da economia mundial reunidos no BIS (Banco para Compensações Internacionais), uma espécie de banco central dos bancos centrais, provavelmente estarão torcendo por um final pacífico para 2008, um ano em que viveram perigosamente.
A virada da maré econômica foi comprovada em números na semana passada, quando a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) reduziu a sua projeção de crescimento para todos os integrantes do G7, o grupo dos países mais industrializados -com exceção dos Estados Unidos, cujos números melhoraram.
Pior: pela primeira vez a temida palavra que ronda as análises sobre a economia americana nos últimos meses foi usada em relação a um país europeu. Segundo o relatório, a vítima da recessão será o Reino Unido, que deverá ter dois trimestres seguidos de contração.
O sinal de alerta já havia soado no fim de semana anterior, quando o ministro das Finanças britânico, Alistair Darling, afirmara que a economia do país estava diante da pior crise dos últimos 60 anos. Já o BC do Reino Unido espera crescimento nulo por um ano.
Por trás da estagnação britânica estão também os principais motivos do desaquecimento europeu: estouro da bolha imobiliária, queda na exportação agravada pela sobrevalorização da moeda e redução do consumo devido ao aperto do crédito e à disparada nos preços das commodities.
Embora existam outros fortes candidatos para seguir a mesma trajetória recessiva, como Irlanda e Espanha, o BCE (Banco Central Europeu) se recusa a cortar os juros, alegando que as pressões inflacionárias continuam latentes.
Uma confirmação adicional de que a Europa é uma máquina em desaceleração foi dada com a divulgação da primeira contração (-0,2% no segundo trimestre) dos países da zona do euro desde que a moeda comum foi adotada, em 1999. A Alemanha, seu maior motor, teve crescimento negativo no segundo trimestre e dá poucos sinais de recuperação.
Enquanto isso, nos Estados Unidos, onde teve início o tsunami financeiro em agosto do ano passado, com o estouro da bolha imobiliária do "subprime" (empréstimo de alto risco), os movimentos são positivos. A maior economia do planeta voltou a crescer, o dólar está se levantando e alguns já se arriscam a dizer que a crise imobiliária chegou ao fim. Porém, o aumento da taxa de desemprego, divulgado anteontem, devolveu os otimistas à realidade.
Em conversa por e-mail com a Folha, o economista-chefe da OCDE, Jorgen Elmeskov, apontou semelhanças e diferenças entre a crise na Europa e a nos EUA. "Três fatores contribuíram para a desaceleração nos dois lados do Atlântico: as turbulências financeiras, o estouro da bolha imobiliária e o alto preço das matérias-primas", afirmou Elmeskov.
A diferença, aponta o economista, está nas políticas macroeconômicas usadas pelos Estados Unidos, como cortes de juros e alívios fiscais. Além disso, a Europa teve sua atividade econômica travada pela valorização do euro, lembra Elmeskov, o que levou à queda nas exportações.
Para o Brasil, uma recessão na Europa assusta bem menos que uma nos EUA, uma vez que a maioria das exportações do país para o continente é de alimentos, que tendem a se manter em níveis estáveis. Comparativamente, o Brasil deve se sair bem, prevê uma fonte do Itamaraty envolvida em negociações comerciais. "Nosso comércio com os europeus será menos afetado do que o dos países da Ásia com os europeus, por exemplo", diz.


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