São Paulo, segunda-feira, 07 de outubro de 2002

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MERCADO FINANCEIRO

Para analistas, valorização dos títulos impulsionou recuperação dos indicadores; BC pode ter agido

Alta do C-Bond puxa Bolsa e afunda dólar

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

A melhora dos C-Bonds na última semana puxou a recuperação em outros mercados, segundo analistas. Operadores desconfiam de que o Banco Central tenha voltado a comprar os papéis, que estavam muito depreciados.
A expectativa de haver segundo turno nas eleições e a elevação na classificação da Merrill Lynch para papéis brasileiros também teriam contribuído para a valorização dos ativos.
Em um mercado sem liquidez, fica fácil fazer esse tipo de operação. O principal título da dívida pública brasileira registrou alta de 13,6% na semana.
A cotação do C-Bond, que era de US$ 0,4881 na sexta-feira retrasada, fechou a US$ 0,5544 na sexta-feira passada, ao subir 2,42%.
Nos últimos cinco dias, a Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) teve 6,2% de valorização, o dólar caiu 6,7% e o risco-país recuou 19,7%.
"Com certeza, o C-Bond puxou os outros mercados. Na quinta-feira, os negócios com o papel já abriram com mais de 1% de alta. O índice futuro, os negócios com ADRs e a Bovespa foram atrás", diz Luiz Antônio Vaz das Neves, diretor da corretora Planner.
Corretores afirmam ter estranhado: naquele dia, o prêmio caiu, o C-Bond subiu, a Bolsa também e o dólar e os juros registraram alta.
A Bovespa seguiu o movimento dos ADRs (American Depositary Receipts, certificados de depósitos de ações emitidos e negociados nos Estados Unidos), cujos investidores acompanham de perto os C-Bonds.
Os mercados de dólar e juros só teriam conseguido acompanhar a tendência na sexta-feira.
A iniciativa do BC teria sido uma tentativa de acalmar os mercados na semana que antecedeu o primeiro turno.
"Deu um alívio aos mercados para que não enfrentassem a sucessão em pânico", segundo um corretor.
Para uma corrente de analistas, a alta dos C-Bonds pode ter sido alimentada por tesourarias de bancos e grandes fundos de investimentos, que temeram perdas decorrentes da valorização dos papéis.
"Quem estava "short" [vendeu C-Bonds no mercado futuro, apostando na queda dos títulos, para então recomprá-los mais baratos] resolveu reduzir posição", diz Beto Scretas, da Schroeders.
Aquelas instituições financeiras teriam então comprado títulos antes que subissem mais, o que teria aumentado a demanda pelos papéis.
Segundo um corretor, o movimento principal foi uma "força compradora dos papéis no mercado à vista" que não veio tanto de bancos, mas sobretudo de operações do governo brasileiro.

Tendência
Independentemente dos resultados das eleições, analistas dizem que a tendência para a Bolsa nos próximos dias não é a de manutenção da alta.
"Houve um certo exagero no otimismo. Além disso, a Bovespa operou na contramão das Bolsas internacionais e com baixo volume de negócios", afirma Scretas.

EUA
Apesar da queda pela sexta semana consecutiva, as Bolsas americanas ainda estariam caras, na avaliação de especialistas.
O P/L (preço das ações sobre o lucro gerado pelas empresas) do S&P 500 (Standard and Poor's, que engloba as ações das 500 principais empresas dos EUA) está em 28, e o do Dow Jones (da Bolsa de Nova York), em 20.
"Abaixo de 20, a Bolsa ficaria mais interessante, mas ainda não estaria barata", diz Júlio Ziegelman, do BankBoston.

inflação
A agenda da semana concentra índices de inflação. Na terça-feira sai a prévia do IGP-M de outubro. Na quarta-feira, o IPCA, o INPC e o IGP-DI de setembro; e na quinta-feira será divulgado o IPC-Fipe da primeira semana de outubro.



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