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POLÊMICA
Empresas estrangeiras controlam 18 grandes produtoras locais e desenvolvem pesquisas para produzir transgênicos
Múltis dominam mercado de sementes
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
As indústrias químicas multinacionais controlam hoje 18 grandes
produtoras locais de sementes, resultado de um processo de aquisições iniciado em 1996 e que levou
à concentração do setor.
Monsanto, Bayer, Dow AgroScience e DuPont começaram a
deitar raízes no final dos anos 90
naquelas culturas onde desenvolvem pesquisas para produção de
transgênicos: milho, soja, arroz e
algodão. "Elas prepararam o terreno para ocupar o mercado de
OGMs (Organismos Geneticamente Modificados), quando o
governo liberar seu cultivo e comercialização", diz o economista
David Hathaway, da ONG Aspta
(Assessoria e Serviços a Projetos
em Agricultura Alternativa).
Para as empresas voltadas à biotecnologia, a produção de sementes no Brasil tornou-se estratégica
após a aprovação da lei de cultivares (tipos de plantas), em 1997. Essa lei estabelece que as empresas
que desenvolverem uma variedade de planta devem registrá-la no
Ministério da Agricultura, garantindo seus direitos comerciais.
Assim, se as empresas que desenvolvem OGMs não tiverem,
também, o domínio dos cultivares, terão de ceder a tecnologia a
quem desenvolve plantas adaptadas a cada região e clima do país.
Para ter o controle de toda a cadeia de produção, as multinacionais químicas passaram a comprar empresas sementeiras locais
e foram buscar gigantes mundiais
do setor para incorporar.
A Monsanto, comprou a Cargill
Internacional e a Braskab/Dekab,
em 1998. A Dupont adquiriu a
Pionner que por sua vez tinha adquirido a brasileira Dois Marcos
Melhoramentos. E a Bayer comprou, no ano passado, a Aventis
Crop Science, franco-suíça, que já
havia incorporado quatro sementeiras locais. "As empresas internacionais compraram produtores
locais de sementes para adquirir
as suas coleções de cultivares, ganhando experiência no desenvolvimento de plantas para as condições brasileiras", acrescenta Hathaway.
Até 1997, as grandes pesquisadoras de novas variedades eram a
Embrapa (estatal) e a Agroceres,
líder na produção de sementes de
milho com 26% do mercado nacional. Naquele ano a Monsanto
comprou a área de milho da empresa e hoje detém 35% desse
mercado, segundo sua assessoria.
A entrada em sementes era estratégica para a empresa, visava a
biotecnologia, informa a assessoria. Tanto que a Monsanto inaugurou em maio de 2001, em uma
área de 1,6 milhão de metros quadrados, as operações iniciais da
mais moderna unidade de pesquisa e beneficiamento de sementes de milho e sorgo, com capacidade de processamento de 45 mil
toneladas anuais.
Para os agricultores, o impacto
da entrada das concorrentes internacionais foi sentido principalmente na cultura do milho. "Após
a Lei dos Cultivares, houve um
aumento de investimentos estrangeiros na produção de sementes de milho, por interesses
econômicos.Hoje elas praticamente dominam o mercado", diz
o engenheiro agrônomo Flávio
Turra, da Ocepar (Organização
das Cooperativas do Paraná).
O interesse pelo milho justifica-se: as sementes híbridas têm uma
"patente natural": o grão colhido
não pode ser usado no plantio da
safra seguinte. O agricultor tem de
comprar, todo ano, a semente
certificada e pagar royalties.
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