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São Paulo, terça-feira, 07 de outubro de 2003

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POLÊMICA

Empresas estrangeiras controlam 18 grandes produtoras locais e desenvolvem pesquisas para produzir transgênicos

Múltis dominam mercado de sementes

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

As indústrias químicas multinacionais controlam hoje 18 grandes produtoras locais de sementes, resultado de um processo de aquisições iniciado em 1996 e que levou à concentração do setor.
Monsanto, Bayer, Dow AgroScience e DuPont começaram a deitar raízes no final dos anos 90 naquelas culturas onde desenvolvem pesquisas para produção de transgênicos: milho, soja, arroz e algodão. "Elas prepararam o terreno para ocupar o mercado de OGMs (Organismos Geneticamente Modificados), quando o governo liberar seu cultivo e comercialização", diz o economista David Hathaway, da ONG Aspta (Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa).
Para as empresas voltadas à biotecnologia, a produção de sementes no Brasil tornou-se estratégica após a aprovação da lei de cultivares (tipos de plantas), em 1997. Essa lei estabelece que as empresas que desenvolverem uma variedade de planta devem registrá-la no Ministério da Agricultura, garantindo seus direitos comerciais.
Assim, se as empresas que desenvolvem OGMs não tiverem, também, o domínio dos cultivares, terão de ceder a tecnologia a quem desenvolve plantas adaptadas a cada região e clima do país. Para ter o controle de toda a cadeia de produção, as multinacionais químicas passaram a comprar empresas sementeiras locais e foram buscar gigantes mundiais do setor para incorporar.
A Monsanto, comprou a Cargill Internacional e a Braskab/Dekab, em 1998. A Dupont adquiriu a Pionner que por sua vez tinha adquirido a brasileira Dois Marcos Melhoramentos. E a Bayer comprou, no ano passado, a Aventis Crop Science, franco-suíça, que já havia incorporado quatro sementeiras locais. "As empresas internacionais compraram produtores locais de sementes para adquirir as suas coleções de cultivares, ganhando experiência no desenvolvimento de plantas para as condições brasileiras", acrescenta Hathaway.
Até 1997, as grandes pesquisadoras de novas variedades eram a Embrapa (estatal) e a Agroceres, líder na produção de sementes de milho com 26% do mercado nacional. Naquele ano a Monsanto comprou a área de milho da empresa e hoje detém 35% desse mercado, segundo sua assessoria.
A entrada em sementes era estratégica para a empresa, visava a biotecnologia, informa a assessoria. Tanto que a Monsanto inaugurou em maio de 2001, em uma área de 1,6 milhão de metros quadrados, as operações iniciais da mais moderna unidade de pesquisa e beneficiamento de sementes de milho e sorgo, com capacidade de processamento de 45 mil toneladas anuais.
Para os agricultores, o impacto da entrada das concorrentes internacionais foi sentido principalmente na cultura do milho. "Após a Lei dos Cultivares, houve um aumento de investimentos estrangeiros na produção de sementes de milho, por interesses econômicos.Hoje elas praticamente dominam o mercado", diz o engenheiro agrônomo Flávio Turra, da Ocepar (Organização das Cooperativas do Paraná).
O interesse pelo milho justifica-se: as sementes híbridas têm uma "patente natural": o grão colhido não pode ser usado no plantio da safra seguinte. O agricultor tem de comprar, todo ano, a semente certificada e pagar royalties.


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